Sempre que falo sobre história do Brasil ou mesmo de São Paulo, em palestras ou bate papos informais, costumo provocar as pessoas com a seguinte pergunta: “Onde estão os cemitérios do passado ?”. Esta pergunta parece bastante simples de responder, mas na verdade é muito complicada.
Pegue a cidade de São Paulo, por exemplo. A nossa cidade tem mais de quatro séculos de existência e o cemitério mais antigo é de 1827. Onde estão os falecidos antes desta data ? Os cemitérios antes eram nas igrejas e ao seu redor, e nada disso se preservou. Enquanto em cidades como Boston (EUA), os antigos cemitérios foram preservados mesmo estando no centro da cidade e junto ao principal parque da cidade, o Boston Common (foto abaixo), por aqui a realidade é bem diferente.
Os antigos cemitérios paulistanos e paulistas simplesmente desapareceram, dando a impressão estranha que não temos antepassados sepultados por ai. É até difícil explicar para muitos paulistanos que havia um cemitério onde hoje fica o prédio da Bovespa, na Praça Antônio Prado. Mesmo assim, na imensidão de São Paulo e do Brasil vez por outra alguém se depara com algum cemitério abandonado ou simplesmente esquecido. E foi o que encontramos há pouco tempo atrás na região de Cachoeira Paulista.
Encontrar este cemitério, nas margens da Rodovia dos Tropeiros, foi por acaso. Não estávamos atrás deste local, eu e a historiadora Glaucia Garcia de Carvalho voltávamos de uma visita a outro cemitério, o de São José do Barreiro, onde tínhamos ido fazer uma reportagem. Na volta, ao fazer uma curva na rodovia notamos um quadrado branco que parecia ser de uma sepultura e resolvemos parar e ver o que realmente era aquilo. E foi assim que encontramos o cemitério.
De início, pensamos ser um daqueles túmulos ou cruzeiros que são instalados em beiras de rodovia quando alguém morre de forma trágica. Mas, ao subir o pequeno morro (foto anterior) nos deparamos com este pequeno cemitério:
Trata-se de um cemitério bem antigo, com boa parte dos túmulos bastante deteriorados. A grande maioria das sepulturas estão com os nomes bem gastos ou danificados, de modo que foi quase impossível identificar a maioria dos sepultados ali. O túmulo mais bem preservado, e que foi possível ler o nome do falecido e data de sepultamento, aponta para o início do século 20, em 1906, com o nome de Serafim de Oliveira.
Ficamos no local por cerca de 30 minutos, fotografamos todos os túmulos conversamos com pessoas das redondezas e voltamos para São Paulo. Alguns dias depois iniciamos uma pesquisa para tentar descobrir o que era aquele cemitério. Seria de uma antiga cidade que desapareceu ? Seria um cemitério particular ? Seriam restos de alguma fazendo cujos donos foram sepultados em sua propriedade ? Nenhuma destas perguntas foi respondida até agora.
Como podemos ter um futuro se não preservamos nosso passado ? Quem são estas pessoas que ali estão enterradas no meio do nada ? Porque nossas órgãos de cultura e patrimônio não documentam estes espaços ? É algo relativamente simples de se fazer, basta vontade e interesse em preservar a nossa história.
Apesar de esquecido, o cemitério não está exatamente abandonado. As sepulturas estão limpas e foram pintadas com cal, além da área ter mato cortado. Alguém, de tempos em tempos, passa por ali e toma esta atitude bacana. Mas quem seria esta pessoa ? Algum voluntário ? Algum descendente dos sepultados ? São muitas perguntas sem resposta que precisam ser esclarecidas.
Questionamos sobre o cemitério para alguns vizinhos próximos e também no Santuário de Santa Cabeça, que é relativamente próximo dali e ninguém soube dizer mais nada sobre o local. Alguns sequer sabiam de que ali tinha uma cemitério.
A preservação dos espaços mortuários não é morbidez, mas sim uma importante preservação de nossa história. Cemitérios antigos contam muito a respeito de nossos antepassados e precisam ser catalogados e documentados. Se você conhece alguma informação a respeito deste local, entre em contato conosco. E se você é da região de Cachoeira Paulista, cobre as autoridades locais para preservarem e identificarem este cemitério.
Veja mais algumas fotos (clique na foto para ampliar):
Respostas de 25
Para ser tão na beira da estrada, provavelmente, a estrada foi cortada depois (ou alargada, chegando tão próximo assim).
Também acho isso!
Inevitável a associação.
“A CRUZ DA ESTRADA”
“Tu que passas, descobre-te. Ali dorme
O forte que morreu.”
Alexandre Herculano
“Invídeo quia quiescunt.”
Lutero
“Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz a dormir na solidão.
“Que vale o ramo de alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.
“É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz;
Deixa-o dormir no leito de verdura
Que o Senhor, dentre as relvas, lhe compôs.
“Não precisa de ti. O gaturamo
Geme por ele à tarde no sertão;
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.
“Entre os braços da Cruz a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu;
Chora orvalhos a grama, que palpita,
Lhe acende o vaga lume o facho seu.
“Quando à noite o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus…
Prende-se a voz na boca das cascatas
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.
“Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.”
Castro Alves
Túmulo de Ciro, Rei dos Persas : um dístico tumular – Homens , quem quer que seja e sei que virás… eu sou Ciro e conquistei o império do mundo para os Pesas. Não me inveja este pedacinho de terra que cobre o meu corpo. ( livro E … a Bíblia tinha razão pgs 326) .
Uma vergonha ver um Cemitério abandonado cade as nossa autoridades, quer Municipal,Estadual ou Federal, porque quando morre alguém, alguém tem a obrigação de manter a história dos seres humanos que de uma forma ou de outra faleceram e foram enterrados em algum Cemitério, quer ele seja Público ou particular, nas antigas Colonias de isolamento dos poradores da antiga Lepra no Brasil, é comum, ver os cemitérios abandonados, parecendo mais um mundo de fantasmastudo quebrado e caindo aos pedaços, é só percorrer as antigas Colonias do Estado de São para ter uma ideia o que é abandono, sabedor pela história que o Estado de São Paulo de exemplos ao Mundo no tratamento dos antigos Leprosos do nosso Estado o mais rico da Federaação vergonhoso é e lamentável ver essa sfotos da história verdadeira..
Jaime Prado-Bauru/SP- Preservando a História antiga e PROIBIDO
Fico triste com a falta de interesse histórico do Brasil. Algumas pessoas ainda se esforçam para descobrir e manter nossas raízes, é o caso deste site. Sobre cemitérios, para mim, são uma radiografia do passado. Países da europa, em especial a Inglaterra, preservam seus cemitérios de forma exemplar. Em uma cidade como York, pode-se tropeçar em lápides. Alguns podem achar mórbido, mas para o povo de lá nada mais é do que a paisagem local. Em Liverpool há um parque do lado da catedral chamado St. James e é repleto de lápides que foram alinhas para ornar o lugar.
Em São Paulo, e no resto do país, nada disso vale algo. Aqui, como diz o ditado, “o mundo é dos vivos.”
Quando residi em uma cidade turística na Serra da Mantiqueira, estado de São Paulo, descobri que a cidade já teve dois cemitérios anteriores ao atual. E acredite:
O primeiro é agora com loteamentos e com casas já construídas sobre antigos túmulos, e o segundo foi onde é hoje uma escola, e o terceiro é o atual. Para saber mais, basta conversar sobre o assunto com os idosos da cidade como fiz eu. Quando fui verificar se isso era realmente verdade, descobri a base de velhos túmulos em terrenos ao lado de casas récem construídas…
Os mortos não fazem mau algum, temos que temer é os vivos.
Entre as cidades de Fernandópolis e Macedônia, no meio de uma mata ciliar ainda preservada na região das plantações de cana de açúcar, existe um pequeno e antigo cemitério bem preservado e cercado com cerca de bambu.
UMA PENA , DEVERIAM SIM PRESERVAR ESTE CAMPO SANTO.
em caçapava sp, em um colégio no centro da cidade perto da praça da bandeira, os antigos comentavam que sobre a quadra da escola era um antigo cemitério.
os dois cemitérios atuais são a beira de rodovias, um na antiga estrada rio são paulo, que hoje é a dutra, o outro em uma estrada que vai para o bairro de caçapava velha.
ou seja provavelmente todos cemitérios eram em beira de estradas, provavelmente tropeiros e carroças à cavalo ou a boi.
Realmente qdo morei no Estados Unidos, varios cemiterios seculares sao preservados. Residencias ficam lado a lado com eles, sendo muito comum esta convivencia diaria. As chamadas fazendas ou plantations guardavam este costume em possuir um cemiterio dentro dos limites, aonde senhores e escravos descansavam lado a lado, como tambem, antes da abolicao da escravatura, os servicais eram sim sepultados em separado,mas dentro da propriedade.
meu caro , ali ainda resistente ao tempo , este cemitério pertencia ao município de JATAÍ – extinto em 1938 , no período mais dramático da decadência deste trecho do vale do rio Paraíba ….Naquele mesma data também foram extintos os municípios do EMBAÚ e de PINHEIROS ….vizinhos . Estou às ordens aqui no http://www.restaurantedoocilio.com.br. para alguns curiosas informações e para o seu conhecimento , consta que tropeiros saídos do JATAÍ foram os primeiros moradores do pujante município homônimo em Goiás ….isto nas heroicas aventuras de tropeiros paulistas em direção às minas de Cuiabá e que se encantaram com aquela região goiana ….enfim uma saga , mais uma destes heróis anônimos do nosso povo …do Ocilio José Azevedo Ferraz
Grande Ocílio. Amigo de meu pai, um grande cozinheiro e conhecedor da história da nossa região.
Saudade das conversas no restaurante 🙂
o ocilio faleceu em 2016
Será que o Douglas Nascimento, que fez a reportagem, chegou a entrar em contato???
Que Ocílio esteja em paz.
Lembro dos cemitérios antigos que existia dentro da Colonias de Isolamento das pessoas atingidas pela Hanseníase, muitos deles totalmente abandonados esquecidos e muitas história perdidas, recentemente no Cemitério do renomado Instituto Lauro de Souza Lima, em Bauru/SP eu caminhando pelo Cemitério procurando o Túmulo de uma tia falecida em 1938 eu não consegui encontrar pelo abandono que se encontra este lugar isolado no meio do mato. Encontrei sim 53 anos depois o t´mulo do Monsenhor José Luiz de Godoy Cremer o responsável pela celebração da primeira missa na igreja Nossa senhora das Dores inaugurada em 15 de setembro de 1951´s 07:30, vi o túmulo coberto pelo mato arranquei com as mãos para preserva a história.
Jaime Prado – Bauru/SP Preservando a História antiga
Em Biritiba-Mirim também tem um cemitério de (leprosos) hanseníase, são datas antigas ,pena que estão abandonados e vandalizados
Aqui na capital de São Paulo existiu o Cemitério dos Aflitos, onde se enterravam os não católicos, escravos, pessoas pobres, indigentes e bandidos. Foi inaugurado em 1774 e desativado em 1858 quando o cemitério da consolação foi inaugurado. Em seu lugar o terreno foi loteado e vendido e o que sobrou dele foi a capela dos Aflitos, construida em 1779 bem escondida entre os prédios no beco dos Aflitos
A estrada ede 1928. Aí tem o túmulo do padre fundador da igreja de Santa Cabeça, João Graciano, está na última foto. Nesse local foi o município de Jataí, extinto em 1935, se não me engano, e incorporado a cachoeira Paulista. Certamente era o cemitério da cidade. A estrada foi construída em 1928, certamente tomou parte do cemitério.
Tenho um canal no Youtube (Perdidos achados) e tenho alguns cemitérios descobertos por lá. Visitem, inscrevam-se e deem uma vasculhada.
Esse cemitério da matéria é bastante histórico, adorararia visitá-o um dia. Excelente trabalho.
Muito bom seu canal! gostei…
Muito interessante ! Nunca iria imaginar que existiu um cemiterio no predio do Bovespa !!!! Imagino quantos mais existem por ai !
Em viagem recente ao estado do Maranhão nas Cidades do interior,notei que as pessoas são enterradasas margens da rodovia barrancos sem muros e ficam ali repostos.
Achei estranha essa situação!
Procurem ” canal perdidos achados” no YouTube. Eles viaitam ruínas igrejas e cemitérios do interior de sp.