Residência de José Paulino

Quando falamos o nome “José Paulino” a primeira coisa que surge na mente é a famosa rua do bairro do Bom Retiro, repleta de lojas de vestuário, especialmente feminino.

José Paulino
José Paulino

Entretanto, este nome também pode ser associado a própria figura de José Paulino Nogueira, membro de uma família rica de Campinas, político que foi atou na administração campineira, trazendo vários melhoramentos para a cidade, e trabalhando para a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.

Além disso, José Paulino foi bastante atuante no início da última década do século 19 no combate ao grave surto de febre que atingiu a cidade de Campinas e arredores, sendo ator principal nas obras de saneamento que trouxeram melhores condições de vida e asseio aos moradores da região.

Foi também responsável pela fundação de uma da primeiras indústrias daquela cidade, a Usina Ester, cujo nome era uma homenagem a sua filha mais velha.

Mesmo sendo figura importante da vida cotidiana e política campineira, José Paulino mudou-se no final do século 19 para a capital paulista, onde residiu até falecer no ano de 1915.

O casarão em meados dos anos 60 (clique para ampliar)
O casarão em meados dos anos 60 (clique para ampliar)

Construída em 1893 e projetada por nada menos que Ramos de Azevedo, o casarão da foto acima foi construído para servir de residência em São Paulo para José Paulino.

Suntuosa, era considerada naquele tempo como uma das mais ricas mansões paulistanas. Sua localização não poderia ser melhor, bem no chamado centro novo da cidade, no extinto bairro do Chá, na rua Conselheiro Crispiniano, entre a rua Barão de Itapetininga e a avenida São João.

Abaixo uma outra fotografia do imóvel, extraída do catálogo de obras do arquiteto Ramos de Azevedo:

O mapa abaixo, do Sara Brasil, mostra o local da mansão (onde está escrito 2º batalhão do Regimento Militar):

clique no mapa para ampliá-lo
clique no mapa para ampliá-lo

O imóvel ficaria grande demais para os filhos de José Paulino em 1915, quando este veio a falecer. A família mudou-se dali e o casarão ficou vago.

Em 1918, seus herdeiros tomam a decisão de vender o casarão para o governo federal, pela quantia de 270 contos de réis. A partir de então, o imóvel passou a abrigar o Quartel General da 2ª Região Militar, que permaneceria no local até poucos anos antes do casarão vir abaixo.

Apesar da manchete dizer início do século (20) o casarão é do século 19
Apesar da manchete dizer início do século (20) o casarão é do século 19

Uma vez na mão dos militares, a mansão sofreu algumas modificações para deixar de ser uma típica residência da elite e dar lugar a um imóvel funcional.

Antes disso, durante o período em que serviu de residência a José Paulino e seus familiares, a casa era conhecida pelo seu luxo incomparável. Pelo casarão haviam escadarias e piso feito de mármore de Carrara, lustres importados de Paris, tapetes da pérsia e portas e madeiramento feitos em jacarandá.

Na parte superior do imóvel, os quartos eram cercados de corredores e varandas. No andar de baixo ficavam três grandes salas de visita, o salão nobre, a sala de jantar e o escritório de José Paulino.  No fundo do terreno estava a cocheira onde ficavam os cavalos, posteriormente transformada em uma garagem para automóveis.

O casarão quando era o QG do Exército
O casarão quando era o QG do Exército

Nos 50 anos em que o imóvel foi utilizado pelo exército o local teve poucas reformas e nenhuma restauração, transformando-se em um prédio cada vez mais deteriorado. Em 1968, quando o casarão foi colocado à venda pelo exército, pela quantia de 1 milhão e 100 mil cruzeiros, o imóvel estava quase que completamente arruinado, especialmente por dentro.

Adquirido pela prefeitura de São Paulo, o imóvel foi abaixo em 1977 para dar lugar a um projeto idealizado pela Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), que previa uma nova praça ocupando 90 quadrados da parte frontal do terreno, e o restante sendo anexado com a desapropriação do então Cine Cairo, somando um total de 315 metros quadrados.

A praça, de fato, foi inaugurada e chamada de Recanto Monteiro Lobato sendo focada nas crianças que viviam no centro. Já a ligação com o Vale do Anhangabau – através da demolição do Cine Cairo – jamais aconteceu.

Projeto do Recanto Monteiro Lobato, apresentado pela prefeitura em 1977
Projeto do Recanto Monteiro Lobato, apresentado pela prefeitura em 1977

Pode-se até dizer que o projeto do então prefeito Olavo Setúbal (1975 a 1979) foi o embrião da Praça das Artes, inaugurada muito tempo depois já no século 21.

O casarão de José Paulino foi demolido pois na época não havia muita preocupação pelo tombamento e acabou por se tornar uma das grandes obras de Ramos de Azevedo que desapareceram para sempre.

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