Casarão de 1917 – Rua Cajuru

O ano de 1917 foi um bem movimentado no mundo tudo. A primeira guerra estava a todo vapor, os bolcheviques faziam a revolução russa e os bairros operários de São Paulo eram sacudidos pelos grandes movimentos grevistas, como jamais vistos antes por aqui. No entanto nem tudo era confusão, tinha gente construindo residências bacanas, como esse casarão a seguir.

clique para ampliar

Localizado no número 826 da rua Cajuru esquina com a rua Siqueira Bueno, esse casarão já tem mais de um século de existência e é uma das residências mais antigas a sobreviver no bairro paulistano do Belenzinho, zona leste de São Paulo.

Trata-se uma casa que ocupa um lote estreito e comprido, mas que soube ter esse espaço pequeno valorizado por seu construtor, que pode ter sido um dos “capomastri” que construíam residências por esse bairro bem como Mooca, Ipiranga, Brás e tantos outros.

Detalhe da fachada (clique para ampliar)

A entrada do casarão se dá pela porção da rua Cajuru, que é mais estreita. No decorrer da rua vizinha é possível observar todos os cômodos, que são voltados para a rua. Apesar de estar emparedada (lacrada) desde 2016, o estado da casa é muito bom estando absolutamente preservada no que diz respeito a sua arquitetura. É possível notar que todos os adornos decorativos estão bem cuidados e a casa não apresenta focos de infiltrações ou rachaduras que possam comprometer sua estrutura.

Por muitos anos, antes de pesquisar os dados da casa, eu pensei que fizesse parte das propriedades da indústria vizinha FAME (sigla para Fábrica de Aparelhos e Material Elétrico), mas consultando a base de dados do IPTU paulistano constatei que não há relação, apesar da pintura ser no mesmo tom de azul.

No frontão o ano da construção e, mais acima, as iniciais do primeiro proprietário (clique para ampliar)

Falando sobre proprietário, foi possível averiguar observando a fachada, logo acima de onde está o ano da construção, as iniciais do primeiro dono. Cheguei a ficar em dúvida se eram mesmo iniciais ou notas musicais, pendendo entre isso e um “F” estilizado. Após pesquisas em duas listas telefônicas antigas e IPTU de décadas passadas cheguei ao nome do dono na década de 1960: Francisco Paulo Wessano, conforme a imagem abaixo que extraí da lista telefônica dos anos de 1961 a 1963.

A tarja amarela indica o imóvel deste artigo

Infelizmente fiz extensa pesquisa sobre o sobrenome Wessano e também pelo nome completo do assinante da linha telefônica mas nada encontrei a respeito. Os proprietários atuais não tem relação com esse nome.

Enfim espero que este casarão não tenha um final triste como tantos outros da região, uma vez que no atual momento o bairro do Belenzinho vem sofrendo forte especulação imobiliária e com novos empreendimentos surgindo, no entanto observo que os alvos preferidos da vez são velhos galpões industriais, apesar que na mesma rua Cajuru uma casa de 1916 e sua vizinha foram abaixo juntas.

Confira mais imagens na galeria a seguir (clique na miniatura para ampliar):

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Respostas de 10

  1. O destino desse imóvel, como tantos outros, é ser derrubado, ou deteriorando até desabar. Infelizmente não temos políticas públicas pra esses casos, tombar o imóvel como patrimônio não acho justo, acaba sendo um castigo. O imóvel fica marcado como uma edificação improdutiva, quem compraria um imóvel desses ? O patrimônio público deveria comprar e transformar em um museu ou algo público e não prejudicar o proprietário com a história de tombamento, nesses casos sou a favor de deixar estragar e cair.

    1. Olá João. Permita-me discordar da sua posição. Tombar um imóvel não quer dizer que vc não possa utiliza-lo, mas que vc deve manter as características do mesmo. Dá trabalho? Dá, mas é assim que se conserva nas grandes cidades do mundo. Vc pode abrir um comércio, danceteria, galeria, salão de beleza ou o que quer que seja num imóvel tombado. Deixar apodrecer pagando IPTU não é uma boa solução além de dilapidar o nosso já dilapidado patrimônio.

  2. Parabéns por mais um ótimo trabalho de pesquisa, no qual retrata uma belíssima obra da arquitetura.

  3. Ótima reportagem, trabalhei por muitos anos no
    Belenzinho. Fico satisfeito com a arquitetura
    Local pois mantém a História!

  4. Apesar de tudo está bem conservado , não entendo como pessoas de posses passam por um local desse e não tenha vontade de adquirir e restaurar, pena que o dono atual seja um mistério.

  5. Relevante contribuição essa divulgação do patrimônio histórico da nossa metrópole. Viés inerente aos cidadãos , que lutam, por manter em pé um legado revelando costumes e épocas da sociedade de outrora.
    Concernente a construções , belíssimas ,exibem mimos com os detalhes , fachadas elaboradas artisticamente , embora visualmente decadentes , ora por vandalismo ora relegados . Sobra ao poder público , preservar essas jóias da construção civil , muitas com a intervenção dos imigrantes, a preservá-los e destinando-os ao lazer dos munícipes , tão fragilizados culturalmente.
    Resta, cumprimentá-lo Douglas pelo empenho em prestar esse serviço , penoso e de pouco reconhecimento,.

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