Quem pensa que casas antigas e terrenos baldios são as únicas vítimas da impiedosa especulação imobiliária que atinge a Cidade de São Paulo engana-se redondamente. Já tem algum tempo que a sede incessante de construtoras e incorporadoras logo iriam encontrar novos alvos para suprir suas necessidades por áreas novas para construir.
E recentemente fomos avisados, um pouco tarde demais, que depois de demolirem um casarão na Avenida Rebouças 1232, as picaretas voltaram-se para a construção vizinha e começaram a destruir este pequeno e simpático edifício:
Construído para ser um pequeno edifício residencial, este prédio nos últimos anos teve sua utilização voltada para fins comerciais com suas salas sendo usadas principalmente para escritórios e consultórios. O imóvel estava localizado no número 1206 da Avenida Rebouças, bem na esquina com a Rua Capote Valente.
No final de agosto ele começou a ser demolido manualmente por operários de uma empresa de demolição. Há quase dois anos atrás, dois casarões vizinhos já haviam sido demolidos e como nada foi construído no local, dá para se concluir que os terrenos serão juntados para que um grande empreendimento imobiliário seja erguido por ali.
Desaparece um “predinho” charmoso de três andares para dar lugar, provavelmente, a outra construção enorme. Mas o problema para a cidade não está só nestas construções que desapareceram, mas no precedente que esta demolição abre.
É possível imaginar que com o fim dos terrenos disponíveis em áreas saturadas como Jardim Paulista, Pinheiros e adjacências as construtoras voltem seus alvos para outros tipos de áreas construtivas que até então não eram atacadas: pequenos edifícios.
Estes bairros cuja verticalização é mais antiga, possuem inúmeros prédios pequenos com até 3 andares e que foram construídos principalmente no final da primeira metade do século 20.
Caso nada seja feito em nossa legislação para que eles sejam protegidos da ganância das construtoras, podemos estar presenciando o início de um novo tipo de demolição em São Paulo, onde “predinhos” sejam os alvos.
Veja mais fotos deste prédio (clique na miniatura para ampliar):
Conheça os imóveis vizinhos que também foram demolidos:
Atualização – 15/04/2019:
A imagem abaixo mostra o edifício que foi construído no lugar tanto antigo prédio quanto das residências dos lotes vizinhos. Ao menos não fizeram mais um edifício sem qualquer charme como é praxe na nossa cidade.
O imóvel construído chama-se Condomínio Edifício Módulo Rebouças e sua entrada ficou para a Rua Capote Valente. O empreendimento foi realizado pela Idea!Zarvos.
Respostas de 10
Não me parece tão antigo assim.
Frequentei esse predinho quando criança, quando fazia tratamento dentário com uma dentista que tinha consultório lá…Bye, bye predinho
Aposto que seus dentinhos de leite também já foram todos “demolidos”. É o progresso !
Nem é tanto a questão de ser antigo e sim: havia necessidade? Construir no lugar dele um super condomínio ou um mega local comercial pioraria ainda mais o trafego na área e será que esta cidade suporta tudo isso? Mais lixo, mais esgoto, mais carros, mais poluição…
Quando é que São Paulo irá valorizá o patrimônio histórico?
Que dó! Era um predinho bem charmoso, parecia europeu. Certamente vão construir mais um monstrengo no lugar, visto que a Rebouças tem o trânsito tão leve…
Esse predinho era a primeira visão através das minhas janelas e o melhor era que por ser baixinho, permitia a vista das árvores dos “Jardins”, até os prédios da Faria Lima.
Gostaria de saber logo o que será construído alí e se irá obstruir a vista que tenho hoje.
Na verdade até onde sei, será construído neste terreno um edifício da construtora Zarvos, que pelo menos não é dessas construtoras que constroem esses lixos de apartamentos que são entregues por aí. Geralmente eles tem gabarito mais baixo e a arquitetura é bem interessante.
Morei a 300 metros dali, na Rua Alves Guimarães, mas curiosamente, não me lembro desse “predinho”, embora eu me lembre muito bem do prédio alto ao lado dele, pois em frente dele era o ponto onde eu pegava ônibus para o trabalho. Bem, mas sou originalmente mineiro de Belo Horizonte e um dia desses fui dar uma olhada no Google Nível da Rua para ver os locais onde morei lá. Pois bem, o “predinho” maior que esse onde passei boa parte da minha infância em BH também já foi demolido para fazer um megaprédio de apartamentos de luxo com uns 30 andares, daqueles com fachada de granito, trocentas suítes e vagas de garagem e um nome deslumbrado e bem cafona, tipo La Griffe d’Antibes ou Villa Spazio Carbonara… (Eu teria vergonha de morar num prédio com um desses nomes pseudofranceses ou pseudoitalianos que as construtoras inventam!)
Assim como o lugar desta reportagem (uns dizem que é Pinheiros, outros que é Cerqueira César, eu nunca soube direito em que bairro morava), aquele bairro onde morei em BH (Santo Agostinho) é hoje para lá de nobre e um dos mais caros da cidade. O pessoal mais jovem de BH arregala um olho de todo tamanho quando falo que morei lá, como se eu fosse bilionário. Que nada, naquela época a cidade era muito menor e o Santo Agostinho era um bairro de classe média bem média, mesmo, não era nada de mais morar lá. Mas foi a mesma história: os terrenos em bairros mais centrais, porém mais tranquilos, foram ficando cada vez mais escassos e valorizados, e a classe média foi empurrada para cada vez mais longe.
Pois bem, se em BH, com seus “meros” 2,5 milhões de habitantes, já estão demolindo prédios pequenos para fazer outros maiores e de mais alto padrão, quanto mais em São Paulo, onde cada metro quadrado é precioso e disputado a tapa!
Pelo menos o prédio novo não é um monstrengo, mas achei feio, desculpe os envolvidos.