Se hoje eu estivesse participando de um podcast ou de algum programa de televisão e me fosse perguntado qual é o maior vilão dos imóveis comerciais de São Paulo, responderia sem pestanejar: as grandes redes farmacêuticas. Chegam a dar raiva o quanto de lojas, armazéns e também casas são destruídas para que novas farmácias surjam. Já dei um bom exemplo em Santo Amaro, neste link aqui.
Esse caso abaixo também é de “doer a alma”, acompanhem:

Construído em 1911, portanto mais de um século, este ponto comercial localizado na rua Júlio de Castilhos no bairro paulistano do Belenzinho durou ao menos o suficiente para completar seu primeiro século de existência. Ou melhor dizendo, ele ainda está lá mas foi totalmente desfigurado para que o imóvel recebesse uma nova farmácia em 2022. Eu tinha fotografado esse imóvel na época mas acabei esquecendo de publicar aqui no site, porém nunca é tarde! O resultado, abaixo, é de muito mau gosto:

O imóvel foi reformado e completamente desfigurado para receber mais uma farmácia em um trecho de rua que existem, além dessa, outras três concorrentes. Todas elas, claro, instaladas em pontos comerciais de perfil estéril sem qualquer vínculo emocional ou afetivo com o bairro onde estão localizadas (uma delas a fachada é horrorosos tons de preto e amarelo).
Aqui mostra como um empresário, uma rede de farmácias ou mesmo um arquiteto podem ser realmente estúpidos. O imóvel na sua concepção original estava perfeito, bastava receber uma boa adaptação para receber a farmácia, um pintura condizente com o padrão da rede Pague Menos e pronto: ia ser a farmácia mais original e chamativa não só desta rua, mas de toda a região. Quis a mentalidade tacanha da rede que a farmácia fosse apenas mais uma a disputar a freguesia da região.
Uma percorrida pelos bairros de São Paulo dá para conferir que esta prática pelas redes de farmácias é bastante recorrente. Não vejo no horizonte um modelo de negócios mais tacanho e nocivo para a cidade talvez, exceto, pelo Oxxo. Lamentável.
Respostas de 11
Parabéns pelo texto Douglas<
Comungo com você do mesmo sentimento de tristeza com o descaso que capitalistas só vem capital e mais nada. Sem sentimento pelo nosso passado, sem bongosto e nada além de ganhar dinheiro atropelando até a própria mãe.
O remédio é valorizarmos pessoas influentes que deem valor para nossa história com você. Parabéns meu amigo e sucesso sempre.
Poxa vida que tristeza, o ser humano anda cada vez mais automático. Em todos os sentidos….
Fez muito bem em documentar essa atrocidade. Dá pra ver que se está lidando com a forma mais burra de capitalismo, que não exita em destruir queridas memórias de uma cidade que tanto mudou e acredita que o cliente vai preferir lavagem. O dinheiro está nas mãos erradas.
Douglas, adoro seus artigos sobre “São Paulo Antiga”. Permita-me discordar sobre a afirmação, de que as farmácias são as maiores responsáveis pela descaretizacao dos belíssimos imóveis da nossa cidade. Sabemos que, o maior responsável pela não preservação da arquitetura antiga, é, com toda certeza, a administração municipal. Por que não cobrar o prefeito, o secretário da cidade e os vereadores?
Havia, até um certo tempo atrállls, na avenida Celso Garcia, bem próximo do Hospital do Tatuapé, um drogaria que era nos moldes de antigamente; na verdade, eu nunca entrei lá, mas passava de ônibus ou de carro e dava para ver uma parte de seu interior, com grandes armários de madeira maciça.
Não lembro o nome do estacionamento e não sei se ainda está lá, pois não passo perto há anos…
Havia, até um tempo atrás, na avenida Celso Garcia, bem pertinho do Hospital do Tatuapé, uma drogaria aos moldes de antigamente, com grandes armários de madeira maciça.
Na verdade, eu nunca entrei lá, só vi por fora, passando de ônibus ou de carro. Também não recordo o nome do estabelecimento.
Bom dia! Tudo bem? Acho muito legal seu trabalho, na Rua Salvador Romeu – Vila Isolina Mazzei – São Paulo – SP tem muitos imóveis antigos, com aquelas pastilhas coloridas e varandas que cabem cadeira de balanço. Uma dica para suas próximas matérias.
Realmente lamentável o que ocorre em São Paulo.
País triste
A tecnologia trouxe muita coisa boa, e facilidade, porém em termos de arquitetura é lamentável… hj as casas mais parecem clínicas médicas do que um lar propriamente dito… triste…
É o caso de se fazer uma tese de doutorado para diagnosticar o que faz com que alguém gaste dinheiro para descaracterizar um imóvel pronto e bonito. Bastava identificá-lo como a farmácia. Tudo no Brasil é sempre nivelado muito por baixo, parece até que as pessoas tem ódio do que é bonito, bom, de qualidade, etc . Nada pode estar bom, senão “afugenta” a clientela. – que provavelmente vai achar que não pode pagar pelos produtos.
Não à toa São Paulo é uma das cidades mais feias do mundo – e as outras capitais brasileiras não ficam atrás.