Projetada no início dos anos 20, a Fonte Monumental é a grande obra da escultora Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto na cidade de São Paulo. Composta de duas bacias de mármore superpostas, possui 10 metros de diâmetro em sua bacia inferior e 9 metros na superior. No alto, eleva-se a figura principal desta obra um pescador que é atraído pela tentação de três sereias, logo abaixo dele, cuja inspiração partiu da lenda de Ulisses do poeta grego Homero em suas obras Ilíada e Odisséia.
A fonte, foi inaugurada em 1927 durante a gestão do prefeito Pires do Rio e inicialmente fora projetada para ser colocada na Praça da Sé. Porém, acabou sendo colocada na Praça Vitória que posteriormente teve seu nome mudado para Praça Júlio Mesquita. Um dos pontos mais charmosos da cidade de São Paulo, na época de sua inauguração passava a nítida impressão ao paulistano de que aquele pedacinho da cidade era uma pequena parte de Roma, que é conhecida como “cidade das fontes”. O estilo das construções vizinhas à então Praça Vitória, dava um ar totalmente europeu a este local.
Entretanto, poucas décadas após ser inaugurada a fonte passou a ser ignorada pelo poder público e já nos anos 70, a fonte chamava a atenção da imprensa pelo abandono, sujeira e descaso. A mais antiga reportagem abordando o abandono da praça e principalmente da fonte trata-se de uma edição do jornal “Diário Popular” de 19 de junho de 1972.
São pelo menos 37 anos de total abandono a um patrimônio público. Ao compararmos a reportagem de 1972 com as notícias de hoje reparamos que as constatações são as mesmas. As necessidades e deficiências do local são conhecidas há muito tempo e o poder público nada faz para resolver.
O que era antes um local nobre, hoje sofre com o fato de estar localizado em uma das áreas mais perigosas de São Paulo, a “Cracolândia”. Embora a prefeitura insista em dizer que a “Cracolândia” não existe mais, não foi isso que a reportagem do São Paulo Restaurada constatou. Durante o período em que estivemos filmando e fotografando, em plena luz do dia, vimos viciados e traficantes de drogas no local, isso sem contar o excessivo número de menores delinquentes que transitavam pela praça e ruas adjacentes.
Em virtude dessa sua vizinhança que causa temor na população, são pouquíssimas as pessoas que se atrevem a frequentar a praça e a fonte. Os que mais frequentam o local são moradores de rua, que acabam por fazer da fonte seu banheiro pessoal. Na inexistência de banheiros públicos, a fonte substitui essa carência. Os mesmos não se intimidam em subir na fonte para urinar e defecar e a mesma é repleta de dejetos, além do lodo e da água parada, que torna a fonte foco de parasitas e insetos. Restos de comida, roupas velhas e até lixo encontram abrigo dentro da esquecida fonte de mármore.
Regularmente, a Praça é limpa por um caminhão pipa da prefeitura geralmente no início da noite. Entretanto, a limpeza é somente no piso da praça e o monumento fica sem qualquer atenção. Com o forte jato do caminhão pipa, limpam o local sem muito cuidado em poucos minutos. O forte fluxo da água pode, eventualmente, trazer danos a obra.
Os anos de abandono a qual a fonte foi submetida, trouxe inúmeros problemas a este monumento. Todas as lagostas de bronze que adornavam a base foram roubadas. As quatro cabeças de sereias, também de bronze, foram levadas há muito tempo também, além disso a plaqueta de bronze que identificava o monumento e sua autora, na base inferior, há muito desapareceu.
A Fonte Monumental, raríssima escultura em “art noveau” da cidade de São Paulo, está há pelo menos 37 anos largada a própria sorte, esperando por sua revitalização. Incluída na campanha “Adote uma Obra Artística”, até agora não foi “adotada” por nenhuma empresa ou instituição. Segundo a própria prefeitura, os custos para recuperar a obra beira R$500mil. Porém, uma limpeza na fonte custa muito menos que isso e é relativamente simples de se fazer, parece que se não for pra gastar muito não serve.
Até esta oportunidade de restauro chegar, iremos continuar vendo-a suja, repleta de detritos e ocupada por vagabundos e viciados.
Pobre Júlio Mesquita
Será que era esta a homenagem que Júlio Mesquita esperava ? Além desta Praça que leva seu nome, existe uma outra homenagem ao célebre jornalista uma cabeça de bronze de autoria de Luiz Morrone que foi inaugurada em 1962. A obra foi recentemente adotada pelo Grupo Estado.
O São Paulo Antiga faz aqui um apelo ao jornal: Adotem a Praça Júlio Mesquita e a Fonte Monumental. Símbolos esquecidos da cidade de São Paulo, se restaurados podem rapidamente servir como marco da revitalização do centro da cidade de São Paulo.
A Guardiã da Fonte
Durante nossa “estadia” na Praça Júlio Mesquita, tivemos a oportunidade de conhecer e entrevistar Dona Minerva Maluf, uma senhora lutadora e idealista que é moradora de um apartamento diante da praça, por muitos anos cuidou da mesma como se fosse sua, presidindo a ação local. Um caso de amor de uma pessoa para com a sua cidade, que só não prossegue devido aos problemas de saúde que ela enfrenta. Um exemplo, a ser seguido por nós.
Assistam a entrevista e vejam todas as fotos que a reportagem tirou no local, logo abaixo:
CONFIRA AS FOTOS DA PRAÇA JÚLIO MESQUITA – CLIQUE AQUI
ENTREVISTA:
Bibliografia consultada:
VÁRIOS. Esculturas e Monumentos de São Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo, 1992
HARNIK, Simone. Folha de São Paulo, Caderno Cotidiano, 26/07/2005
MUG, Mauro. Estado de São Paulo, Caderno Metrópole, 26/09/2005
VÁRIOS. Diário Popular, 19/06/1972
BONADIO, Luciana. Recuperação de Monumento de SP mais deteriorado pode custar até R$500mil, Portal G1, 30/08/2008
Respostas de 17
O esqucimento do Poder Público perante a Fonte Monumental é um descaso para a história da cidade. O mesmo que está acontecendo com a memória da escultora Nicolina Vaz, uma das primeiras escultoras brasileiras. Oq vamos deixar para nossos filhos??? Apenas fotografias??? NÃO!!!
As lagostas se foram. As cabeças das 4 sereias também. Quem teve a oportunidade de admirar as esculturas de bronze pode se sentir um privilegiado pois, elas foram embora. Será que elas voltam???
fiquei super emocionada com o depoimento da Dona Minerva, que graça de pessoa! Fiquei ainda com mais vontade de ver a fonte restaurada e a praça limpa novamente, o que será que podemos fazer para ajudar?
Pois é Flávia… Dona Minerva é um exemplo de determinação. É o desejo de todos nós que a praça esteja revitalizada e a sua história preservada, sem cair no esquecimento. Enviei o link para o CONDEPHAAT. Vamos ver se terá algum retorno.
OLA
BOM DIA
GLAUCIA eu também gostaria de fazer algo pelos nossos monumentos e tenho pensado muito por onde começar.
Como já sabemos não adianta denunciar ao orgaos públicos pois eles já tem a resposta pronta que todos já sambemos;falta de verba,falta de mão de obra, etc…
Acredito deveria ser montado um grupo com o mesmo pensamento para discutir estratégias de como ajudar a preservar nosso monumentos
Esse grupo teria que ter pessoas de vários segmentos da sociedade assim como advogados,comerciantes,moradores no entorno do monumentos,civis, militares, politicos, enfim todos que amam a cidade de SP.
Eu estou tentando.É trabalhoso? sim mas estou dando um passo de cada vez,e escrevendo para vc é mais um passo.
jsmotta@ibest.com.br
bom domingo
Motta
Parabens pela reportagem. Dona Minerva e uma pessoa de muita coragem e determinacao.
Precisavamos de mais pessoas como ela, que lutam pelo patrimonio publico, que e um bem de todos nos. E alem do mais, que faz isso por amor pela causa, sem querer nada em troca.
Muito bom, muito bom mesmo.
Sugiro fazer legendado, apesar de o som estar de ótima qualidade,mas em favor de um público surdo alfabetizado.
O tema é excelente, ficaram evidentes as deficiências do poder público. A senhora Maluf fica como exemplo para todos.
Parabéns ao Douglas, outro grande exemplo de cidadão.
Agradecido pela oportunidade
luciano
Douglas, as lagostas se foram há muito tempo. As sereias também.(Afirmam que estão nos depósitos doa Prefeitura.) A Prefeita Marta restaurou a fonte nos 450 anos de São Paulo, colocando lagostas lindíssimas (e caras)de cerâmica. Ficaram lá por pouco tempo.
O grande problema é que ninguém que mora na região ou lá têm os seus negócios, não liga a mínima. Não denunciam. E não há punições para esses depredadores. Em São Paulo, se não cercarmos os monumentos com grades reforçadas e altas, perderemos toda a estatuária e fontes históricas dessa cidade.
Sem grades de proteção, tudo que for restaurado pela Prefeitura, em questão de dias, será destruído.
É uma medida drástica. Mas àqueles que se manifestarem contra, poderão se comprometer a cuidar, restaurar e vigiar o monumento ou fonte em questão que, por vontade deles estará liberado das grades. Uma boa idéia, não é?…
E, como o Centro Histórico da Cidade não é zona sul, haverá a polêmica de que “a praça é do povo”. Polêmica derrubada quando do fechamento do Trianon nos anos 70, lá na Av. Paulista…`
E,infelizmente,grades altas e reforçadas são a unica maneira de proteger monumentos e evitar disperdício de dinheiro público.
Sei que vão dizer que em outros lugares do mundo, etc, etc. Só que em outros lugares do mundo, por mais humildes que as pessoas sejam, eles têm consciencia da importância histórica de cada monumento, novo ou antigo.
E, monumentos atrás de grades não causará espanto, visto que nós assim vivemos enquanto vagabundos transitam livremente pela cidade.
Wilson
Olá.
Ótima máteria, o que se pode notar realmente é que esse monumento não tem valor para prefeitura. e essa historia de 500mil é absurda , talves isso seria o valor de uma outra obra a esse porte e materias , é o dinheiro publico é tão “facil” de gastar que colocam um valor desse, essa fonte certamente é recuperavel e até com os adornos iguais a os originais , lagosta etc.
vamos juntar um dia a galera e baixar lá e limpar, comparamos os gastos em relação ao os da prefeitura rsrs
Eu concordo com o Paulo Ribeiro da Silva. Porque não juntarmos umas 20 pessoas e iniciarmos um mutirão para, pelo menos limpar esse monumento?
Eu topo, quem mais?
Ótima matéria.. Gostei muito do trabalho de vocês..
É realmente absurda a situação da Fonte Monumental, já passou e muito da hora dela ser transferida da Praça Julio Mesquita para algum outro lugar não tão degradado, como a Praça Antônio Prado, o Jardim da Luz ou até mesmo a Pinacoteca. Aqui temos uma foto dela em 1983 ainda com as lagostas e sereias e seu chafariz funcionando, na longinqua administração do saudoso Salim Curiati: http://www.flickr.com/photos/cbnsp/3641350910/
Aí que dor no meu coração!!!!!! Descaso do poder público!
Fico chocado ao ver cenas como essa na nossa cidade , e a comparação de 1928 e 2009 é incrivel , estive ha uns meses atras em Paris , e lá tudo o que é antigo é preservado , essa fonte lá estaria igualzinha desde 1928 . triste realidade .