A receita de Dona Ridica

Infelizmente não conheci Dona Ridica e provavelmente nunca saberei ao certo quem foi ela. Entretanto tenho comigo uma parte de sua vida, uma receita que ela escreveu pelo menos há mais de 60 anos e que curiosamente foi mantida preservada por todos estes anos. Observem a imagem abaixo:

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Trata-de uma receita para a “geléia pão duro” escrita em uma bloco de anotações (ou agenda) de 1949. Anotada em 26 de agosto (atentem para a grafia da época com o acento circunflexo no nome do mês), ela possivelmente é uma receita bem mais antiga e foi preservada por alguém que queria experimentar a dica desta tal Dona Ridica, que possivelmente tinha uma talento nato para a culinária. Afinal ninguém quer tomar nota de receita que ruim, não é mesmo ? Abaixo, a transcrição da receita

Ingredientes:

  • 5 folhas de gelatina branca
  • 1 lata de leite condensado 
  • 1 lata de leite comum (do tamanho do leite condensado)
  • 1/2 vidro de leite de coco Serigy (ela foi específica na marca do leite de coco e a marca ainda existe!)

Preparo:

  • Dissolver a gelatina em uma xícara de água fervendo.
  • Misturar os outros ingredientes até dissolver bem. 
  • Gelar

A leitora Natália Guimarães Oliveira fez uma geléia pão duro e enviou a foto para nós:

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Além de ser uma receita bastante simples, parece ser algo muito gostoso. O nome dado a geléia, “pão duro”, deve ser porque é fácil de fazer e com ingredientes baratos, para quem não tem muito dinheiro ou não quer gastar. Lembrem-se que hoje as coisas são muito fáceis e antigamente não era assim. E o fato de ser algo no estilo “pão duro” não quer dizer que é ruim. Bolinho de chuva, por exemplo, é uma receita simples, barata e realmente muito gostosa.

A importância da preservação:

A simples receita encontrada em uma agenda velha mostra o quanto é importante a preservação de documentos. Mesmo não sendo histórico, ele pode apresentar alguma relevância ou significado. Antes de descartar papéis antigos de seus avós, bisavós ou mesmo de coisas que encontra no porão daquela casa que acabou de comprar, observe bem do que se trata pois pode ser algo muito importante. Se encontrar algo que desperte a sua atenção mas não tem certeza da relevância do achado, consulte um historiador ou mesmo um professor.

Esta agenda com a receita da Dona Ridica foi adquirida em uma barraca de antiguidades da tradicional feira dominical do bairro do Bixiga. Valeu a pena!

Quem foi Dona Ridica ?

A pergunta que me intriga desde o dia que encontrei a receita é: Quem foi Dona Ridica ? Imagino que teria sido uma tia ou avó muito bondosa e que recebia familiares sempre com doces deliciosos. Talvez jamais saibamos quem ela foi, mas sua geléia “pão duro” ficou para a posteridade.

Por outro lado, a expressão “ridica” significa também egoísmo, mesquinharia. Pode ser que Dona Ridica nunca tenha de fato existido e o nome da pessoa foi apenas uma maneira de brincar com quem ler a receita…

E ai, quem vai fazer a geléia ?

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Respostas de 30

  1. Muito legal! eu Já comprei um livro num sebo apenas pela dedicatória. E, certa vez, outro livro me trouxe uma carta de perdão que não foi enviada (estava dentro de um envelope sobrescrito – mas sem endereço – )e, sem selo… Publiquei crônica sobre os dois episódios…

    1. Que maravilhoso!
      Sempre frequento sebos, minhas paixões são livros raros e antigos com dedicatórias amorosas. Me transportam para outro mundo!
      Ótimo saber que existem mais pessoas que compartilham desse interesse!

      1. tambem amo sebos e antiguidades,procuro sebos em sao paulo pois sou de fora, poderia me indicar alguns? obrigada

  2. Tenho uma impressão de que talvez “Dona Ridica” seja um nome fantasioso, uma alusão ao fato de ser uma receita simples, no estilo pão duro. Meus avós tinham esse costume, de chamar pessoas que não gostavam de gastar dinheiro, de “Ridico”, ou “Ridica”. Fulano é “Ridico”, ou seja, não gasta dinheiro, é pão duro. Mas é muito interessante ter-se conservado tal documento escrito.

    1. Tava pensando nisso, na verdade talvez a popularidade de tal D. Ridica em ter soluções de baixo custo para coisas simples como pão duro não gerou tal gíria que se espalhou pelos anos??? vai saber não é verdade?

  3. meu caro Douglas esse papel de calendario é desse ano mesmo…, mas a receita é dos anos de 1960 em diante pois a grafia é de nossa epoca antes não era assim a gramatica,,, porem foi escrita não nessa data do calendario=folhinha=, e por uma pessoa alfabetizada como ja disseram ,,a geladeira não era pra qualquer um,, em 1960 veio a geladeira a querozene viu …essas geladeiras em 1949 eram vinda do exterior…(ridículo/ridícula isto ta me cheirando coisa mais do interior.).

  4. Para mim esse ai é o tal do mousse….e minha avó disse que geladeira nessa época eram todos os pertences na banha do porco, para que não houvesse contacto como oxigênio!!!rsrs…mau se acendia lampadas nessa época!!!…mesmo assim caro Douglas, sempre vale a iniciativa a discussão….maravilhoso seu trabalho de pesquisa, sou seguidor!!!Parabéns!!!

    1. Essa é praticamente a receita do mousse de coco que minha avó faz até hoje. Fica levinho de tudo…

  5. olá minha mãe tem 72 anos , morou durante anos na região da av pompeia , quando eu mostrei essa nota veio lagrimas aos olhos dela . essa dona ridica era um icone dessa região , famosa por passar receitas simples para donas de casa sem muitas posses , realmente vc acertou no pitaco , o apelido vinha de mesquinha justamente pelo seu habito de ser economica , minha mae com ela aprendeu receitas como arroz de frango que é nada mais que reaproveitar o tradicional frango de sabado no arroz de domingo , farofa preguiçosa entre outras , segundo minha mae essas anotações são do fim da decada de 50 ou inicio da decada de 60 porque foi quando ela ficou mais famosa no bairro entre suas vizinhas que queriam aproveitar as receitas . a data do calendario é apenas um bloco de notas que sobrou na mao de alguma senhora e foi anotada para aproveitar o restinho da agenda escrita na caneta tinteira . minha mae falou que podia comentar por horas as receitas e as palestras feitas na garagem por essa senhora que o nome verdadeiro é nazaré .

    1. Adoraria conhecer sua mãe, Paulo Henrique!
      Amo cozinhar e adoro receitas antigas, são as melhores!!!
      Obrigada por esclarecer nossa dúvida de quem foi a Dona Ridica.
      Grande abraço à sua mãe!

    2. Interessante como o calendário de uma das vizinhas da D. Ridica veio parar nas mãos do Douglas e você, com uma mãe que conhecia a tal senhora ter lido a postagem e ter vindo comentar. Foi como um ciclo que se fechou, demorou décadas pra todas as “almas” vivas e falecidas se encontrarem e preservarem um momento do tempo. =)

    3. Puxa vida, que interessante! Veja como são as coisas!

      Paulo Henrique, seria muuuuuito interessante que você “entrevistasse” sua mãe e anotasse e publicasse estas receitas da D. Ridica (aka, Sr. Nazaré) que ela tem em sua memória. Pois são ícones de uma época que não podem ser perdidos.

      Se o fizer, volte aqui no SP Antiga e deixe o link para que todos possam se deliciar com as receitada da D. Ridica.

  6. Parabéns pelo artigo! Belo e precioso achado! Fez-me lembrar de uma cunhada, já falecida, que tinha o hábito de copiar receitas. Vou fazer essa geleia! Dona Ridica devia ser um Doce de Mãe! rsrsrs.

  7. Muito bom, provou mais uma vez que as energias passado e presente se encontram e dão mais brilho para a vida, obrigado

  8. Não pude deixar de notar a caligrafia clara e sem erros ou correções Escrita com caneta tinteiro, pois não havia esferográfica. É um retrto da época.

  9. Essa receita conheço como “Sobremesa da Vovó” , realmente é uma delicia.Faço com um pacotinho de gelatina sem sabor, dissolvido em banho maria (sempre coloco a vermelha para dar a cor rosada), no lugar das folhas e 1 vidro de leite de coco ao invés de meio e o resto é tudo igual e bato no liquidificador. Realmente a letra dela é linda (como disse Vania acima) e a escrita era da época como chícara que era com “ch” e não como agora com “x”. Erro algum. Lembra muito minha mãe que adora até hoje copiar receitas. Douglas, obrigada.

  10. Na feirinha de antiguidades do Bexiga é possível encontrar muitos tesouros, basta peneirar. E fica a sugestão, para fazer uma reportagem sobre o curso de caligrafia do “De Franco”, acredito que talvez ainda exista.

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