Antigamente, até a primeira metade da década de 80, quando se falava em Estação Vila Matilde a única coisa que vinha na cabeça era a velha estação de trem do bairro cujo acesso desde a década de 1950 se dá pelo Viaduto Dona Matilde.
Na segunda metade da década de 80 o metrô chegou a região com a Estação Vila Matilde e a velha estação de trens de subúrbio foi ficando cada vez mais deixada de lado, tanto por seus usuários como pelo governo estadual. Até que em 2000 a parada da CPTM foi suprimida.
O curioso é que se você observar a estação a partir do solo e não do viaduto onde fica sua entrada vai perceber que na verdade a estação não fica em Vila Matilde mas sim na Vila Esperança. Mas então porque esta parada não recebeu o nome de Estação Vila Esperança ?
Rixa política ? Disputa entre bairros ? Erro ? Bem, nada disso. A estação levou este nome atendendo ao pedido de uma mulher: Dona Escolástica Melchert da Fonseca.
Proprietária de uma grande fazenda naquela região, a Fazenda Gavião, Dona Escolástica como era mais comumente conhecida foi uma grande benfeitora paulistana da primeira metade do século 20. Suas obras de caridade iam desde doação de dinheiro a menos favorecidos, a tômbolas e campanhas para cuidar de dentes de crianças em escolas da capital.
Pesquisando o nome de Dona Escolástica em jornais antigos você encontra mais dados sobre suas campanhas beneficentes do que sua própria história. E a estação local recebeu esse nome também após um ato de bondade desta senhora.
No início dos anos 1920 a ferrovia já passava por ali. As estações mais próximas, no entanto, eram relativamente distantes , sendo que a mais próxima sentido centro era a também já extinta Guaiaúna (depois renomeada para Carlos de Campos) e muito quilômetros do outro lado (sentido Rio de Janeiro) a também já desativada estação de Arthur Alvim, que ficava ao lado de onde hoje é estação do metrô de mesmo nome.
Nesta mesma época um desastre ferroviário acontece exatamente nesta região sem estação, junto à Fazenda Gavião. Dona Escolástica, dona da propriedade, teria ficado sensibilizada com o ocorrido e resolveu doar para o Estado a área onde ocorreu o desastre para que se fosse construída então uma estação de trem.
Sua exigência para tanto foi uma só: Que a nova estação fosse batizada com o nome da área que estava começando a lotear e que breve seria um bairro: Vila Matilde.
A doação foi ao mesmo tempo um ato de bondade e de esperteza. Afinal ao dar o nome da futura estação o mesmo da vila que estava por surgir a publicidade gratuita estava meio que garantida.
E a Matilde, que dá nome a vila não foi escolhida a esmo. É o nome de sua filha, Matilde Melchert de Macedo Soares (foto ao lado). Isso explica o porque da estação jamais ter sido chamada de Estação Vila Esperança, que teria feito mais sentido do ponto de vista da localização dela.
O loteamento do bairro de Vila Matilde teve início em 1922 mais ou menos na mesma época do tal desastre ferroviário, sendo que a estação seria inaugurada um pouco depois em janeiro de 1924.
A vizinha Vila Esperança que acabou não agraciada com o nome da estação foi loteada a partir das terras de Dona Maria Carlota, outra poderosa dona de terras. Será que as “vizinhas” eram rivais e por isso ocorreu uma disputa pelo nome da estação ? Provavelmente jamais saberemos.
DÉCADAS MAIS TARDE UM ACONTECIMENTO SIMILAR
Seis décadas depois da nomenclatura da estação ferroviária uma polêmica envolveu nomeação de estação na região novamente. Corria o ano de 1986 quando durante as obras do metrô a estação planejada após Vila Matilde receberia o nome de Rincão¹, como mostra a planta abaixo.
Os moradores da região ficaram bastante insatisfeitos com o nome pois queriam que a estação ficasse com o nome do bairro, Vila Esperança. Assim em 27 de agosto de 1988 a nova estação foi inaugurada com o nome de Vila Esperança.
A decisão que alegrou os moradores de Vila Esperança por outro lado incomodou os moradores de outra vila, a Guilhermina. Eles acreditavam que pelo fato da estação estar mais junto ao bairro deles do que do outro deveria ser chamada de Vila Guilhermina.
Para acabar com a rixa entre os dois bairros o então governador paulista, Orestes Quércia, teve uma decisão a o melhor estilo Rei Salomão: Dividiu o nome da estação com os dois bairros, ficando assim chamada de Estação Guilhermina-Esperança. Estava criada ali a maldita e equivocada mania de fazer estação com nome duplo, tal qual Corinthians-Itaquera, Portuguesa-Tietê ou mesmo Palmeiras-Barra Funda (só pra citar as de clubes de futebol).
E você, o que acha ? A estação extinta deveria ter sido chamada de Vila Esperança ou ficar mesmo como Vila Matilde ? Comente!
Saiba mais sobre a extinta estação de Vila Matilde no site Estações Ferroviárias. Clique aqui!
Nota: 1 – Rincão é o nome de um importante córrego da região. Parte dele está subterrâneo e uma parte canalizada pode ser vista entre as estações Penha e Vila Matilde.