Grandes atletas e desportistas do passado são sempre homenageados por seus feitos na área esportiva. É uma excelente maneira de sempre nos lembrarmos daqueles que nos trouxeram grandes alegrias e emoções nas mais variadas modalidades esportivas.
No final da década de 50 a Prefeitura de São Paulo teve a iniciativa de criar na Praça Charles Miller, uma calçada da fama para homenagear alguns dos nomes do esporte nacional. A ideia deu certo, e logo vários atletas deixaram suas pegadas, mãos e assinaturas por lá.
E desde então e até o início dos anos 80, as mãos e pegadas foram sendo adicionadas ao que tudo indicava que viria a ser mais uma grande atração turística do Pacaembu.
Afinal, estão lá Oswaldo Brandão e Homero Oppi respectivamente técnico e jogador do Corinthians que venceu o famoso título do IV Centenário de São Paulo, no próprio estádio do Pacaembu. Entre outros que estão com suas marcas por ali destaque para o automobilista Chico Landi, os pugilistas Ralph Zumbano e Éder Jofre e os jogadores Lêonidas da Silva do futebol e Edson Bispo do basquete.
Porém, com o tempo esta grande iniciativa que tinha tudo para ser algo grandioso, logo tornou-se foco de descaso e esquecimento. Em meados dos anos 80 a calçada da fama começou a ser deixada de lado. Sem novos convidados e manutenção, a deterioração chegou.
Em algum momento entre os anos 80 e 90 a mureta de proteção (veja nas fotos acima) foi removida. O vandalismo surgiu e muitas das assinaturas foram quebradas, outras roubadas. A raiz da árvore cresceu e também destruiu alguma das homenagens. Assim, a calçada da fama transformou-se na calçada da infâmia.
Algo mais desprezado por ali é impossível. As grades usadas em dias de jogo ficam estacionadas sempre diante dela. Além disso, lixeiras móveis dos garis ficam acorrentadas na árvore que cobre a calçada, dando um ar de descaso a pessoas tão importantes ali homenageadas. Mesmo havendo banheiro público no estádio, o local muitas vezes torna-se um banheiro ao ar livre.
Ricardo Oppi, filho do falecido jogador Homero Oppi, não aguenta mais ver a homenagem feita a seu pai ser alvo de tanto desrespeito. Ele contou a reportagem do São Paulo Antiga as inúmeras vezes que chegou ao local e encontrou lixo sobre as pegadas de seu pai. Também nos contou as várias vezes que falou, sem sucesso, com a prefeitura, a administração do estádio e também das frustradas tentativas de ser recebido pela diretoria do Museu do Futebol. Tudo em vão.
Diante do descaso e das sucessivas tentativas infrutíferas de resolver o problema, Ricardo Oppi está decido a muito em breve tomar uma decisão polêmica e radical: ele quer retirar a placa de cimento onde está a homenagem feita a seu pai, e levá-la embora (veja mais detalhes no vídeo no final deste artigo).
Segundo Oppi, é inaceitável permitir tamanho desrespeito à memória de seu pai e ele acha que seria mais digno removê-lo dali e doá-lo ao clube onde se destacou, o Corinthians, “mesmo que seja para ficar guardado e não exposto” argumenta.
Durante o período em que a reportagem do São Paulo Antiga esteve no local, na tarde de sábado 4 de abril, notamos que são poucas as pessoas que visitam a calçada da fama, e quem visita e descobre a homenagem fica indignado com o descaso.
Conversamos alguns visitantes que saiam do Museu do Futebol e perguntávamos a eles se conheciam a calçada da fama do Pacaembu. Nenhum dos interpelados conhecia. Diante disso, convidamos alguns a irem até o monumento para conhecer.
Torcedor do Corinthians, o advogado paulistano Luiz Lello nunca tinha ouvido falar da existência de uma calçada da fama no Pacaembu. E muito menos que havia homenagens a duas pessoas tão importantes para a história do clube que ele torce. Ouçam abaixo a entrevista que ele nos concedeu:
[audio: luizlello.mp3]DE QUEM É A RESPONSABILIDADE ?
Constatado o abandono, fica a pergunta: Quem seria o responsável pela preservação da calçada da fama do Pacaembu ? Enviamos emails para o Museu do Futebol, Prefeitura de São Paulo (através da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer) e também à Fundação Roberto Marinho, que viabilizou a criação do museu.
Dos três procurados, até o presente momento, apenas a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer nos respondeu. Segundo a assessoria de imprensa, a secretaria é responsável apenas pelo estádio Paulo Machado de Carvalho, enquanto a Praça Charles Miller é de responsabilidade da subprefeitura da Lapa.
Independente de quem seja a responsabilidade, uma coisa é certa: a calçada da fama não pode continuar assim.
E esta não foi nossa primeira reportagem no local. Estivemos ali em em novembro de 2010, e passado quase cinco anos a situação apenas piorou.
Será que teremos que enxergar na radical decisão de Ricardo Oppi em remover a parte de seu pai dali, a única alternativa para a preservação das homenagens que ainda sobrevivem ? Se for assim, em breve veremos herdeiros de escultores removendo estátuas pela cidade ou filhos de homenageados entrando na justiça para reaver monumentos abandonados.
Pode estar se abrindo um precedente perigoso, mas isso traz luz ao fato que nosso patrimônio requer mais atenção e respeito.
Assista a reportagem em vídeo que fizemos no local: