A herança do hipódromo na Mooca

O hipódromo de São Paulo deixou definitivamente a Mooca em 1941, com a inauguração de um novo, na Cidade Jardim, em 25 de janeiro daquele ano.

Arquibancada do extinto hipódromo da Mooca (sem data)Entretanto, até hoje, o bairro da zona leste paulistana possui lembranças e símbolos do passado de corridas e competições que marcaram a região, tanto pelo Club de Corridas Paulistano e posteriormente pelo Jockey Club de São Paulo.

Vamos conhecê-las ?

A história do hipódromo de São Paulo começa em 1876, quando o local foi inaugurado oficialmente. O acontecimento marcaria uma profunda evolução nas corridas de cavalo na capital paulista, até então marcadas por eventos amadores e sem uma praça esportiva específica.

ReproduçãoUm grande área na Mooca foi escolhida para receber o nosso primeiro hipódromo. Estet erreno de boa localização era próximo da linha férrea da Central do Brasil (hoje CPTM).

O mapa abaixo mostra onde foi erguido o hipódromo:

Mapa dos arredores do hipódromo em 1913 (clique para ampliar)
Mapa dos arredores do hipódromo em 1913 (clique para ampliar)

O hipódromo trouxe muita movimentação e desenvolvimento para a até então tranquila Mooca. A cada evento ocorrido ali, a sociedade paulistana se deslocava até o bairro para manhãs e tardes agradáveis de competições de cavalos.

Chegavam de trem, carruagens, carros ou bondes (dependendo da época), homens trajando ternos elegantes e usando cartolas, além de mulheres com vestidos finos e charmosos. Cada corrida era um evento único da sociedade paulistana para ver e ser visto.

As corridas de cavalo eram eventos super concorridos.
As corridas de cavalo eram eventos super concorridos.

O auge do hipódromo da Mooca chegaria na primeira metade da década de 1930, quando as corridas de cavalo atingiram seu ápice e o local das competições passou a ser considerado pequeno para as atividades cada vez mais crescentes do Jockey Club de São Paulo.

Nesta época começou a ser discuta a construção de um novo hipódromo, onde seria aplicado o projeto desenhado por Fábio Prado. A área escolhida inicialmente foi o Ibirapuera, porém a doação de uma área de 600 mil metros quadrados pela Companhia Cidade Jardim, mudou os rumos do novo local.

Em 25 de janeiro de 1941 o novo hipódromo foi inaugurado, colocando um ponto final na velha arena de cavalos da Mooca.

Corrida no Hipódromo da Mooca, década de 1930
Corrida no Hipódromo da Mooca, década de 1930

Com a demolição do antigo hipódromo e tendo passado mais de 70 anos da inauguração do novo, em outro bairro da cidade, seria natural que não existissem mais rastros das atividades hípicas naquela região da Mooca. Entretanto, um breve passeio pelos arredores da área onde estava o primeiro hipódromo paulistano pode revelar descobertas interessantes, especialmente relacionadas a nomenclatura de ruas. Vamos conhecê-las ?

RUA DO HIPÓDROMO:

clique na foto para ampliar
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Quando pensamos numa rua que lembra o passado hípico do bairro, a primeira que vem a cabeça de todos é a rua do Hipódromo. Elo entre o Brás e a Mooca a rua é a de mais fácil assimilação a história.

Apesar do nome, ao contrário do que muitos pensam, a rua não terminava no hipódromo, mas sim a um quarteirão de distância. A via que dava acesso as dependências do antigo hipódromo de São Paulo era a rua Bresser.

Peca muito o poder público por não colocar alguma identificação sobre o que foi ali no passado, seja na rua do Hipódromo ou mesmo na rua Bresser

RUA MARCIAL

Rua Marcial (clique na foto para ampliar)
Rua Marcial (clique na foto para ampliar)

Quando lembramos da Mooca, lembramos de Juventus e do Cotonifício Crespi. Esses dois ícones do bairro foram fundados pela mesma pessoa, o Conde Rodolfo Crespi.

Mas engana-se quem pensar que a principal paixão do conde era o futebol. O que o conde amava mesmo eram as corridas de cavalo. E dois de seus cavalos estão imortalizados em ruas do bairro. Um deles, nesta aqui.

OESP 16/06/1919
OESP 16/06/1919

Elo entre a rua dos Trilhos e avenida Cassandoca, a rua Marcial foi batizada com este nome após 1915 (observe que no mapa do início do texto, de 1913, ela ainda não existia) e faz homenagem a Marcial, um dos famosos cavalos do Conde Rodolfo Crespi.

Marcial(*) foi um dos mais importantes cavalos paulistanos da última década do século 19 e teve seu auge na pista entre os anos de 1894 e 1896. Em 1897 foi aposentado das corridas e levado para a cidade de Santos.

A rua Marcial além de ser batizada com o nome de um dos mais importantes cavalos do conde, era bastante conhecida por ser uma rua para compra e venda de equinos de puro sangue. Não era raro encontrar anúncios nos jornais paulistanos vendendo os animais naquela rua, que na época estava a apenas um quarteirão de distância do hipódromo.

Os cavalos se foram, mas o nome da rua foi perpetuado.

(*) Na década de 1940 outro cavalo com este nome fez sucesso no hipódromo, mas sem relação com esta rua ou com o Conde Crespi.

RUA ITAJAÍ

Rua Itajaí e as cocheiras (clique na foto para ampliar)
Rua Itajaí e as cocheiras (clique na foto para ampliar)

Esta rua não tem nenhum nome ligado a cavalos, mas é nela que está a mais viva lembrança do extinto hipódromo da Mooca.

Na foto acima é possível ver as antigas cocheiras do hipódromo. O local que por décadas abrigou inúmeros cavalos e éguas, hoje pertence à Prefeitura de São Paulo. Ali funciona a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

Apesar de tantos anos já terem passado, o local permanece muito parecido ao que era quando a cocheira funcionava.

RUA JAVARI

É na rua Javari, famosa por ser o endereço do estádio do Clube Atlético Juventus, que está a mais bela e pouco conhecida lembrança do passado hípico da Mooca.

Observando a imagem abaixo, de uma das antigas entradas do Cotonifício Crespi, parece que não há nada de mais, correto ?

Rua Javari (clique na foto para ampliar)
Rua Javari (clique na foto para ampliar)

Porém basta observar mais de perto, entre os galhos da árvore, que uma espécie de brasão surge entre as folhagens. Veja mais de perto:

clique na foto para ampliar
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Fixado sobre o portão de entrada, o que parece ser um brasão é na verdade um medalhão. Ignorado pela grande maioria das pessoas que passam diariamente pela rua Javari, está ali a mais bela homenagem a um cavalo que correu no antigo hipódromo da Mooca.

clique na foto para ampliar
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Instalado em meados da década de 1920, o medalhão é uma homenagem ao cavalo Mehmet Ali. Em 1925 este cavalo protagonizou uma corrida emocionante no hipódromo contra um de seus mais importantes adversários. A peleja entre ambos foi muito disputada e acabou com um incrível e raro empate entre dois cavalos.

Correio Paulistano 07/12/1925
Correio Paulistano 07/12/1925

O feito foi bastante comentado pelos espectadores do turfe e também nos jornais da época pelo seu ineditismo. Maravilhado com o desempenho do cavalo, o Conde Rodolfo Crespi mandou colocar o medalhão na entrada da fábrica, onde está até os dias de hoje.

RUA HÍPIA

Rua Hípias (clique para ampliar)
Rua Hípias (clique para ampliar)

Esta rua não ia ser citada aqui, mas resolvemos colocá-la porque muitos escrevem perguntando sobre o real significado do nome dela.

Há quem costume dizer que a rua Hípia tem este nome devido a alguma relação com o extinto hipódromo. Falam, inclusive, que o nome homenageia um outro cavalo famoso. Aqui vamos desfazer este mal entendido.

Apesar de estar muito próximo as antigas cocheiras e também do extinto hipódromo, esta rua recebeu este nomenclatura da prefeitura paulistana em novembro de 1920. O nome faz homenagem ao pensador grego Hípias de Elidas, que viveu no século V a.c.

Passado tanto tempo que o hipódromo deixou a Mooca, podemos dizer que a Mooca nunca deixou o hipódromo. Todas estas ruas com nomes em referência ao hipódromo, a antiga cocheira, e o medalhão de Mehmet Ali são resquícios importantes da história do bairro e que devem ser preservados.

Seu bairro tem alguma rua de nome curioso que te deixa intrigado ? Mande aqui para nós fazer uma pesquisa.

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Respostas de 33

  1. Embora eu seja do Rio, estudei no Senai da Rua Bresser por quase dois anos. Conheço bem o pedaço. Salvo engano, além da Rua Hípia, acho que há também uma Rua Hípica na região.
    Uma coisa, entretanto, não ficou clara: o que é hoje no local onde foi o hipódromo?

    1. Rua Hípica não tem. O que era o hipódromo virou tanta coisa que ficaria longo demais explicar.
      Mas basicamente virou escola, prédio público, praça, rua, subprefeitura, outra praça, etc…

  2. Douglas, maravilhoso seu artigo, como sempre. O hipódromo ficava naquele terreno que hoje tem um CCZ e uma feira no final de semana? Abraços e parabéns!

  3. E se eu não me engano, tinha um lugar na rua da igreja Santo Emídio na Vila Prudente onde as pessoas faziam apostas em cavalos e não faz muito tempo atrás não, questão de uns 20 anos.

  4. Por ser mooquense, também conheço esta história preservada com orgulho em nossa região! À título de curiosidade, registro que no final da vida, a Marquesa de Santos vendia apostas no local…..Parabéns, Douglas, pela fidelidade do relato.

  5. Wonderful article, Douglas. Thank you! Another tidbit: in the mid 1940’s, the Escola Tecnica de Aviacao held its graduation programs there. I have old photos I need to get to you. The Escola was housed in the building that is now the Museu do Imigrante.

    1. Hi Susan. The Escola Técnica de Aviação (E.T.Av) was created on November 10, 1943. On August 7, 1950, this School merged with the Aeronautics Specialist School of Galeão, which began to operate on site. On July 24, 1952, all the facilities of the Immigrant Hostel and the place called Hipódromo da Móoca were handed over to the Secretary of Agriculture of the State of São Paulo.

      (A Escola técnica de Aviação (E.T.Av) foi criada em 10 de novembro de 1943. Em 7 de agosto de 1950 houve a fusão desta Escola com a Escola de Especialista de Aeronáutica do Galeão, a qual passou a funcionar no local. Em 24 de julho de 1952, foram entregues, à Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, todas as instalações da Hospedaria de Imigrante e do local denominado Hipódromo da Móoca.)

  6. Seguindo a sugestão do LUIZ HENRIQUE , seria interessante falar da Chácara do Joquei, no Jardim Jussara, que a Prefeitura pensa em transformar em Parque e o metrô numa estação.

  7. Muito bom o post. Pelo mapa da época, a impressão que tive é que o Hipódromo fica na área onde hoje é a subprefeitura da Mooca, se estendendo até a linha do trem. A Radial (Alcântara Machado) hoje em dia parece ocupar uma parte dessa área. Foi muito bom ver este mapa, pois sempre achei que o Hipódromo ficava no final da rua do Hipódromo, chegando na Rua dos Trilhos.

  8. Que Daora. Estudo na faculdade em frente a esse terreno. Estou muito feliz de descobrir o verdadeiro local do hipódromo..Excelente matéria. Obrigado por nos ajudar a descobrir São Paulo. Parabéns.

  9. Minha irmão teve a festa de casamento no salão de festas do Hipódromo na rua Bresser isso foi em 12/12/1959. Que festa!!!! Até Porfhirio da Paz compareceu…

  10. Que maravilha de matéria , para nós mooquensses é um orgulho morar num bairro com uma história tão incrível parabéns por nos trazer tantas lembranças boas , nos traga mais nos sentimos gratos .Hoje quando fui trabalhar tinha uma gravação aqui na minha rua Hipódromo mais não consegui descobrir o que era , acredito ser uma filme ou série se conseguir nos informar ficaria grata .

    1. nasci no Bras na Marajo com a Joao Alves de Lima e atehos meus 18 anos a minha vida era BRAS/MOOCA/BELENZINHO e os meus fins de semana nos chamavamos de: Varzea – Aviacao ou Viacao aonde tinha mais ou menos uns 15 campos de futebol e no domingo de manha grande jogos, eu era do Flamengo do Bras, lembro muito bem do: Libertadore, Pires do Rio, o Paulista o Bairro Chines, cada time fantastico.

  11. Olá Douglas,
    Muito boa a sua pesquisa.
    Eu nasci na Rua dos Trilhos, no começo dela. Sou de 1950 e ainda me lembro dos trens que passavam por ali. O ramal foi desativado em 1959.
    Minha mãe se casou e foi morar lá em 1937 na segunda casinha de n° 285 onde eu nasci. Ela pegou os últimos 4 anos de atividade daquela linha férrea que trazia o pessoal que ia assistir às corridas no Hipódromo. Costumava contar de ver as madames da época com toda a elegância usando chapéus lindos como era o costume da época.
    Ouvia falar também no campo da aviação que ficava nessa região mas não sei detalhes.
    Infelizmente nossa cidade parece não ter tido planejamento no crescimento e ficamos sem grandes lembranças de nossa história que em última análise é parte de todos nós, pois nossos antepassados dos quais somos seu próprio sangue viveram todos esses acontecimentos.

    Deveriam ter construído ou deixado algo bem emblemático deste local tão importante para a cidade e para o bairro.
    Algo que não poderia ser removido fosse qual fosse o pretexto. Bem mas isso não foi feito então dependemos de pessoas especiais como você que felizmente se preocupam em reavivar esse passado pitoresco e glorioso.
    Parabéns pelo seu trabalho.

  12. Muito bonita a história desse ícone paulistano, que é o Jóquei Club de S. Paulo!

  13. Parabéns Douglas pela excelente pesquisa sobre a Mooca. Quando tomamos conhecimento da história por trás do local, criamos mais conexão verdadeira sobre o mesmo.

  14. Eu tive a honra e o prazer de conhecer esse hipódromo , embora estivesse desativado há muitos anos … eu nasci na Moóca ( em 1951 ) na Maternidade do Hipódromo , qua ficava na rua do Hipódromo … eu estudei o primário na Escola Reunidas do Hipódromo , que eram duas salas de aulas de madeira construidas há poucos metros da pista de corrida, com a entrada pela rua Taquari … no intervalo das aulas íamos brincar na pista dos cavalos e , quando havia tempo , íamos correndo até a arquibancada de onde o pessoal assistia as corridas para brincar … não foi comentado nesse seu maravilhoso artigo que na parte detrás da arquibancada havia uma estátua , de corpo inteiro , que foi ali colocada porque foi onde caiu e morreu um paraquedista cujo paraquedas não abriu , em um dia de festividades no Hipódromo. Às vezes fico divagando em lembranças da minha querida Moóca … quantas histórias …….

  15. Quando criança frequentava os campos de futebol de várzea que se formaram no local do antigo Hipódromo . Como a área era enorme , após a desativação do Hipódromo por volta de 1940 , surgiram inúmeros campos , lado a lado entre si, onde atuavam os times varzeanos como o Libertadores, Brasileiro, Estrela Dalva, Paulista, Bairro Chinês , Flamengo da Mooca , União e muitos outros . Em 1954, o Conselho Municipal de Esportes, presidido pelo Dr Thomaz Aquino Maciel Neto , segregou a área bem em frente onde ainda estavam intactas as imponentes e belíssimas arquibancadas do antigo hipódromo , a qual foi cercada , gramada e dotada de iluminação , constituindo-se num belo campo de futebol inclusive para jogos noturnos e muitas outras atividades , que ficou conhecido como Estádio Distrital da Mooca . Durante a semana alguns clubes profissionais , a Portuguesa de Desportos com mais frequência , treinavam neste Estadio . Pensavam os moradores da Mooca que pelo menos esta parcela do antigo Hipódromo seria mantida , pois de fato o prédio principal do antigo hipódromo era construção muito linda e sólida , mas não demorou muito e na década de 1960 começaram as investidas dos políticos com projetos de lei comandados pelo então vereador Américo Trabulsi , já falecido , de família tradicional do ramo imobiliário , de modo que retalharam a imensa área, demoliram tudo , nada deixando em pé , nem o prédio principal que abrigava o já referido campo de futebol cercado e iluminado . De utilidade pública restam hoje as piscinas públicas , uma unidade da AACD , espero não ter omitido nada relevante, mas, enfim, de patrimônio histórico mesmo nada restou. O Estádio resistiu bravamente a bombardeios na Revolução de 1924, mas não resistiu aos políticos. Resumindo : mais um dos crimes praticados contra os moradores da nossa Mooca e contra a própria cidade de S.Paulo . Só os mais idosos como eu sabem o quanto foi dolorido perder algo tão valioso. Parabéns prezado Sr Douglas Nascimento por tão louvável iniciativa de preservação da memória do bairro e muito obrigado pela oportunidade de deixar este comentário .

    1. Eu morei na Freguesia do Ó alguns anos e o nome da minha rua sempre me deixou intrigada, é Rua Conde de Barca, Itaberaba. Em frente à minha casa tinha e ainda tem uma pedra enorme. Quando morei lá há 50 anos atrás os sobrados germinados eram muito charmosos na rua Sinhá Junqueira …e formavam junto com uma transversal uma pequena ‘vila’. Gostaria de saber a história do lugar, porque o lugar nem é pedregoso, quem sabe um dia leio aqui no site ….

  16. https://www.portaldamooca.com.br/wp-content/uploads/2018/12/hipodromo1-1.jpg
    http://portaldamooca.com.br/hipodromo-da-mooca/#

    Imagino que todos conheçam aquele verso que diz que “o novo vem e o velho tem que passar”, sem contar que a especulação imobiliária também não perdoa, mas infelizmente muitas vezes esse progresso, essa vinda do novo, faz vítimas preciosas, como foi o caso do Hipódromo da Mooca.

    Quando ele foi construído, aquela parte de São Paulo ainda pertencia a então Freguesia do Brás e era nele que aconteciam as corridas de cavalo do Jóquei Clube. Só muitos anos depois é que o Jóquei se mudou para o seu novo Hipódromo de Cidade Jardim, lá pras bandas do Rio Pinheiros. Naquele tempo pioneiro, era nesse da Mooca o único lugar da cidade aonde haviam corridas de cavalos propriamente ditas, porque no trote da Vila Guilherme, na zona norte, o que tinha eram aquelas corridas com cavalos puxando pequenas charretes.

    Os frequentadores do setor destinado aos sócios eram a elite da época, vinham com seus carrões e, nas ocasiões solenes, vestiam fraque e cartola. Muitos chegavam acompanhados de suas senhoras, todas trajadas com o melhor da última moda europeia, com direito a aqueles chapéus chamativos e tudo o mais que tentasse fazer lembrar o charme dos derbys da Inglaterra.

    Como se tratavam das pessoas mais influentes da sociedade, não é difícil concluir que, envolvidos por aquelas cartolas e por aqueles chamativos chapéus femininos, muitos negócios importantes para a vida de toda a população foram fechados naqueles saraus eqüestres. Além desses negócios, acordos fundamentais para a economia e para a política nacional, foram alinhavados no setor social daquele hipódromo.

    Claro que o povão também podia entrar, mas, como não eram sócios, ficavam em uma área chamada de populares… e era povão que não acabava mais lá nas populares.

    Não sei se por falta de opções de lazer na época, ou se por gostarem mesmo de fazer uma fezinha nos cavalos, o fato é que vinha gente da cidade inteira para as corridas. Vinham tantas pessoas, que nos dias de grande prêmio os moradores do bairro nem podiam pegar o bonde de tão lotado que ficava, ia gente, literalmente, até no teto.

    Para fugir dos bondes lotados, alguns turfistas acabavam improvisando e pegavam carona nos vagões de carga de uma pequena ferrovia que hoje não existe mais, uma espécie de trenzinho que havia por lá.

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