Não me canso de dizer que nossa cidade revela imóveis antigos curiosos e surpreendentes, mesmo que de arquitetura simples. Em passeio recente pelos bairros da zona norte da capital, encontrei este lindo exemplar da primeira metade do século 20:
Localizada no número 672 da Rua Chico Pontes, na Vila Guilherme, a construção abriga uma quitanda. Este tipo de imóvel já foi muito comum na cidade, mas vem desaparecendo de nossas ruas, seja por parte dos proprietários que reformam os imóveis e descaracterizam as construções antigas ou então pela conhecida especulação imobiliária.
Trata-se de um armazém bastante simplório, mas bonito. Um grande símbolo chama a atenção no frontão, mais ao alto. Pela fachada, espalham-se alguns adornos decorativos sobre as portas comerciais e outros sobre as pequenas portas na lateral do imóvel. Há uma pequena modificação na fachada (lado direito sobre a última porta) e as portas originais que provavelmente devem ter se deteriorado foram substituídas por outras mais simples feitas com ripas de madeira. Mesmo assim, o imóvel apresenta-se bastante preservado com todas as suas características originais mantidas.
Armazéns deste tipo já abrigaram não só quitandas como esta, mas também pequenas mercearias, secos e molhados e também papelarias. Hoje pequenos estabelecimentos comerciais como estes estão sumindo rapidamente, dando lugar a grandes redes de varejões, hipermercados, grandes papelarias e afins.
Como o local é muito movimentado, estava difícil fotografar a fachada por completo sem pessoas na frente ou muitos veículos, já que há um farol movimentado na esquina adiante e um ponto de ônibus bem diante da quitanda. Assim optamos por fotografá-la bem cedo pela manhã, com quase nenhum trânsito, mas com a quitanda ainda fechada. Porém abaixo, uma imagem do Street View com o estabelecimento aberto.
O curioso que este não é um sinônimo real de desenvolvimento urbano, mas de especulação e crescimento desorganizado. Quem já viajou para o exterior, em cidades como Nova Iorque, por exemplo, já notou que por maior que a cidade seja, você não encontra um Wal Mart na quinta avenida ou em uma Madison Avenue. Você encontra sim muitas grocery stores, pequenas mercearias que vendem de tudo. Já as grandes redes ficam nas saídas da cidade. No entanto, em São Paulo, você encontra hipermercados enormes como o Extra atrapalhando o trânsito em ruas pequenas como na Leopoldo Couto de Magalhães no Itaim.
Esta tendência de grandes redes sufocando pequenos estabelecimentos comerciais não é só ruim para a concorrência, é também muito ruim para as relações entre as pessoas e para as memórias de um bairro. Em grandes redes você perde a interação direta com o dono do comércio por um SAC frio, perde a pechincha, o papo sobre o futebol do final de semana com o dono, o fiado.
As relações vão ficando mais frias, mais impessoais. E a vida muito mais sem graça.
Já imaginaram como ficaria lindo este antigo armazém com a fachada totalmente recuperada ? Se você mora na Vila Guilherme, não deixe de prestigiar esta quitanda. E seja lá qual bairro você more, apóie os pequenos estabelecimentos comerciais próximos de sua casa, eles fazem parte da história da sua região!
Veja mais fotos desta quitanda (clique na miniatura para ampliar):
Respostas de 9
As portas de aço, certamente, não são do “design” original e, ainda que fossem, seriam daquelas caneladas (mais antigas) e não dessas…
Passo na porta uma ou duas vezes por semana. O imóvel grande ao lado é um supermercado, mas mesmo assim a quitanda vai sobrevivendo.
O governo poderia incentivar esse tipo de estabelecimentos, mas é mais fiscalizar centralizar a fiscalização em grandes estabelecimentos, dá menos trabalho para a máquina pública.
Bacana Douglas.
Muito interessante esta sua reflexão sobre o impacto das grandes redes varejista na vida social dos bairros. Nunca tinha pensado por este ângulo e concordo plenamente.
Morei muitos anos na Vila Guilherme e estudei com os filhos dos donos desta quitanda. Saudades… POr ande andam meus amigos de escola, Francisco e Leonel???
Me lembro tão bem da quitanda do Leonel. Tão bonita a mulher dele. O Leonelzinho e o Francisco sempre por lá, quando passavamos
Olá Douglas parabéns pelo seu trabalho existe uma casa antiga na Vila Ede gostaria de fotografar
Olá Leonel, claro que sim.
Passo sempre pela Vila Ede, aliás… abraços
como estava em 01/24: https://maps.app.goo.gl/WV6p87iuivWzfQMk7
Amigo jornalista Douglas Nascimento, no momento que ví suas fotos, não poderia deixar de parabenizá-lo, não só por essa conquista, mas principalmente pela qualidade das fotos e das informações nela contidas, sempre colocadas com muita clareza e competencia, nos deixando muito bem informados…e para atualizar, gostaria aqui de acrescentar sobre o armazém antigo situado na Rua Chico Pontes, nº 672 no Bairro de Vila Guilherme “A Pérola da Zona Norte”, que o mesmo foi propriedade do Sr. Francisco da Assunção Pires Granjo, (alcunha de Chico Peleiro), português de Argorelo, que vendia carne de cabritos, coelhos e as peles de carneiro, boi e outros animais, curtia e vendia. Hoje no local há uma Loja de frutas e legumes, de seu filho Sr. Leonel Vicente Granjo.