Aqui nasceu Mazzaropi

A memória dos grandes homens e mulheres do Brasil não recebe a atenção devida e merecida por parte de nossas autoridades. Esta triste constatação traz injustiças que são difíceis de serem compreendidas, protagonizadas por aqueles que são eleitos por nós para zelar pelo nosso país e pela nossa cultura, mas que nada mais fazem do que legislarem para minorias que ditam as regras pela força do lobby e da inversão de valores. Quem não se lembra de poucos anos atrás a Câmara Municipal de São Paulo homenagear o jogador Ronaldo (ex-Corinthians) com um título de cidadão paulistano. Ou a Academia Brasileira de Letras homenagear Ronaldinho Gaúcho.

Se estes dois boleiros merecem ou não as honrarias não cabe a mim julgar, apesar de achar que eles não as merecem. No entanto, me aborrece e muito ver pedaços de nossa história passarem despercebidos da grande maioria dos cidadãos porque não há qualquer esforço por parte de nossos eleitos em fazerem algo para reverter este quadro.

Pois no número 61 da rua Vitorino Carmilo, em Santa Cecília, existe um sobrado do final do século 19, composto de três andares e porão que é um pedaço importantíssimo de nossa história cultural, pois foi ali que nasceu um dos grandes cineastas do Brasil o inesquecível e incomparável Amácio Mazzaropi.

Mazzaropi, em cena de “O Corintiano” em São Paulo / Divulgação

Há um século atrás, em 09 de abril de 1912, neste imóvel que hoje está abandonado Mazzaropi nascia em dos quartos do segundo andar desta casa. Filho do italiano e napolitano Bernardo Mazzaropi e da taubateana Clara Ferreira Mazzaropi, o futuro cineasta viveria neste local até completar oito anos de idade, quando depois mudaria para o Brás.

A velha residência resiste aos anos e continua de pé mesmo com as adversidades do tempo e do abandono. O telhado ficou no passado e não existe mais. As janelas muitas também já foram arrancadas e as poucas que resistem sequer possuem mais vidros. Um grande portão de ferro impede que as pessoas vejam da rua o maltratado, porém importante, imóvel que hoje encontra-se  no meio de duas grandes construções.

Após eu fotografar a casa, que estava vazia, dois senhores moradores do prédio em frente vieram em minha direção perguntar o porque de eu estar tirando as fotos. Quando eu disse que era ali que havia nascido o célebre Mazzaropi eles ficaram espantados. Um me disse que a casa deveria ser restaurada, e o outro que deveria virar um museu de Mazzaropi em São Paulo.

No Brasil preservar a memória é missão quase impossível (clique para ampliar).

Em cidades como Washington, Paris ou mesmo na capital de nossos hermanos argentinos, Buenos Aires, imóveis onde viveram personalidades importantes de sua história são identificados de alguma maneira, geralmente com placas de bronze ou de metal. Já aqui, na casa em que Mazzaropi nasceu, não há qualquer lembrança ou aviso. Apenas um portão que dificulta ver a casa em péssimo estado. A casa está vazia tal qual estão vazias as cabeças de nossas autoridades que ignoram nossa memória .

Porque não recuperamos esta casa e fazemos um centro de memória ao saudoso cineasta Mazzaropi ? Vamos trazer alegria e cultura em nome de alguém que sempre foi alegria enquanto viveu e que até hoje é sinônimo de diversão, humor e irreverência.

Compartilhe este texto em suas redes sociais:
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Siga nossas redes sociais:
pesquise em nosso site:
Cadastre-se para receber nossa newsletter semanal e fique sabendo de nossas publicações, passeios, eventos etc:
ouça a nossa playlist:

Respostas de 42

  1. Este site é de fato de muita importância para São Paulo. Eu moro muito próximo a Vitorino Camilo e caminho por esta rua algumas vezes por mês, não me lembro deste imóvel. Logo mais, irei conferir. É realmente uma pena que eteja desse jeito. Poderia de fato virar o museu Mazzaropi, que não existe na capital, e sim a Taubaté. E seria ótimo para o bairro que contaria com mais um ponto de referência e interesse cultural.

  2. Juro que pensava que o grande Mazzaropi era de Taubaté! Tenho um livro com toda as fichas de filmes dele (livro excelente e barato, da Imprensa Oficial). Acho que um acervo dele é conservado na fazenda onde ele filmava, no vale do Paraíba. Sim, taí um que merecia um museu bem caprichado, exibindo full time em um vídeo os filmes dele, que até hoje arrancam gargalhadas! E quem é o proprietário do imóvel hoje? Valeu!

    1. O proprietario é João Roman Neto, que herdeou de seu pai a fazenda que ele comprou de porteira fechada ou seja, lá tinha o hotel fazenda os estudios, a casa do filme casinha pequenina e a reidencia oficial da fazenda onde Mazzaropi passou seus ultimos dias. Tive o privilegio de ir na inauguração do PAN Filmes Park Hotel e depois alguns anos depois da morte do Mazzaropi colaborei para a criação do museu do Mazzaroppi que existe até hoje e é muito lindo de se visitar, apesar de muita coisa ter sido roubada e muitas coisas ter sido deteriorada com o tempo que ficou abandonado, mas existe muitas coisas importantissimas que pertenceram ao Mazzaropi e que se pode ser visto com muita beleza nos dias de hoje.
      Como exemplo a cadeira que ele dirigia as filmagens, rolos de filmes, cartazes dos filmes, radios, espingardas, moveis, cenários diversos de seus filmes além de vasto documentos do artista.
      Vale uma visita.

  3. Vamos todos fazer visitas e tirar fotos dai o olho gordo das autoridades poderam fazer algo se for do interesse deles…corgia…. Eu moro na europa e vejo apartamentos, casas que se fosse no Brasil ja teria sido largado as traças ou derrubado para a construção de um predio retão e feio….

  4. Mais uma vez o apagão memorial de nossa história… Pergunte á algum jovem entre 10 e 18 anos se ele sabe quem é Mazzaropi? Não se surpreenda se ele não souber!
    Se a própria mídia, se esqueceu dele, vcs acham que os nossos governantes, professores irão lembrar?! Eis a resposta de sua moradia de nascença estar abandonada. Não valorizamos, não passamos aos nossos filhos a importância de nossa história. Alguém já parou para explicar a seu filho a importância (ou não) do 15 de novembro? eu já. E os meus amaram saber.
    Como ouvi outro dia no NetGeo (canal a cabo) devemos conhecer o passado para não cometer os mesmo erros no presente. Estamos fazendo isso?

  5. A reportagem é otima e disseca o assunto. Notável e ver o Mazzaropi com a camisa do timão, e ao fundo a praça charles miller na decada de 50. Valew mesmo.

  6. Eu apenas corrigiria que nao apenas no Brasil este esquecimento ocorre. Paris, Londres, sim, possuem identificacoes de algumas casas de personalidades, mas sao exemplos isolados mesmo na Europa. Tive a oportunidade de conhecer cidades inteiras que sao inclusive tombadas pela UNESCO e que quase nao possuem referencias a nada (personalidades, funcao social, etc)ou pior: as casas estao mais degradadas que esta, quando nao demolidas, com lixo, e outras mazelas bem semelhantes as nossas.

  7. Baseado no que irá ler abaixo peço que não parta pro lado do racismo. E sim do regionalismo.
    Eleger políticos não nascidos neste estado gera esse descaso com tudo o que é dessa cidade.
    Ao invés de ver a cidade e principalmente o cidadão como sendo membro desse estado. Cria nichos pelo qual esse político precisa criar para ter votos pois suas propostas políticas são predatórias e não agradam quem tem interesse em morar nesta cidade. Apenas agrada quem está aqui para trabalhar e extrair.
    Torno a repetir não é racismo e sim regionalismo. Defender nossa história não é feito por quem é de fora só por nós mesmo.
    O que proponho? Mudar a lei para que sejam candidatos no estado somente quem é natural do lugar (nascido na cidade).

    1. Moro quase ao lado e não sabia da ilustre e abandonada casa! Sou apaixonada pelo Mazzaoppi e adoraria ver o prédio tornar-se um instituto Mazzaroppi em sua memória, iria freqüentá-lo religiosamente! Boa sorte!!!

    2. Rogério,de sua parte não é racismo,mas falta de pesquisa;pergunto-lhe o que fez Lula por sua terra,o que fez J K por sua terra,que continua sendo das mais pobre do pais.Os piores presidentes,prefeitos e,por ai vai,foram os da própria terra,mude o foco.

  8. Lamentável! Neste País, os valores são dados para falsas celebridades! Onde quer que esteja Mazzaropi, nos perdoe por tanta injustiça!

  9. Sou formada em história e a alguns anos acompanho o site.Sempre me dói o coração histórias como essa.
    É sempre com indignação que vejo nossa história desprezada, ou desconhecida pela própria vizinhança como é o caso.
    Só interessa o que é lucrativo, as construtoras massacram qq pedaço onde possa se fazer um empreendimento seja ele residencial ou comercial.
    Uma pena, como diz Eduardo Bueno, “Povo que não conhece sua história esta fadado a cometer os mesmos erros”.
    Quantos de voces, ja levaram seus filhos ao museu do Ipiranga?Ou fizeram uma visita, façam essa pergunta e vão saber que damos pouquissimo valor a nossa história.
    Este processo é lento….mas se começarmos o futuro de nossas crianças será melhor.
    Abraços

  10. Vou no bairro de Santa Cecília tirar fotos deste imóvel e colocar na internet, divulgando a suma importância memorial deste lugar. A memória histórica não pode ser varrida…

  11. Nós temos, aqui em Taubaté, dois museus. A Fazenda Mazzaropi que era onde ele filmava e o Museu Mazzaropi.

  12. O SESC Ipiranga, tempos atrás, prestou uma homenagem ao comediante, realizando uma exposição com objetos, fotos e cenários de filmes dele. Por que não fazer isso permanentemente, aí?

  13. trabalho em um Ong que o tema do Projeto para 2014 é resgatar a memoria de São Paulo adorei sua materia e suas reportagens, com certeza iremos mobilizar nossos jovens a mandar email as autoridades quem sabe juntos possamos conseguir alguma mudança !!!grande abraço.

  14. Mais uma reportagem sensacional sua Douglas!!Sou fã dos filmes do Mazzaropi e tenho quase todos.Não sabia que a casa que ele nasceu ainda existia,pena que não posso fazer nada para ajudar a restaura-la pois é um patrimônio do povo paulitano e porque não dizer brasileiro!!

  15. eu que nasci no interior vivi e vivo o caipira todo dia
    porque sou um caipira de verdade mazzaropi e nosso embaixador da vida simples
    falava a lingua do nosso interior de sao paulo o caipira de botucatu de piracicaba tiete
    eterno mazzaropi
    que saudades das tardes de matine do cine paratodos

  16. Caríssimos amigos editores da página São Paulo Antiga, por favor, encaminhem esse relato da casa do Mazzaropi ao apresentador e empresário Carlos Massa (Ratinho). De repente, ele poderá mobilizar alguma coisa! 😉 Forte abraço a todos!

  17. Como fã do ator, diretor, produtor e ícone da cultura caipira, Mazzaropi,
    é muito gratificante essa informação !
    Parabéns pela pesquisa !
    Na verdade, o sobrenome escreve-se MAZZAROPPI, e o pai de Amácio, Bernardo, era natural de
    Salerno – SA – ITALIA.

  18. Já entraram em contato com o museu dele para ver se há interesse em recuperar essa casa? Tomara que consigam!

  19. Boa tarde!

    Não duvido que esta informação referente ao local de nascimento do Mazzaroppi seja verídica, mas vocês poderiam nos informar quais as fontes confiáveis consultadas que garantem a veracidade na informação?

    Pesquisei em varias páginas e em nenhuma encontrei essa informação.

    A página de vocês está de parabéns, aprendo muito sobre São Paulo.

    Abraços

  20. É muito importante restaurar essa casa! Não podemos perder essa memória! Mazzaropi é um ícone da cultura Brasileira.

  21. Estive ontem nesta rua,e fui ver de perto, infelizmente está pior, não consegui mais informações,mais da muita dó.

  22. É lamentável o poder público não cuidar de algo importante como é casa do Mazzaropi, a cultura cinematográfica paulista corre o risco de desaparecer junto com casa que está em ruínas, muita coisa da lembrança do Centro da cidade está desaparecendo, com o abandono das autoridades, a política dos governantes é um desastre no hora de defender o patrimônio cultural da cidade, assim perdemos nossa identidade cultural paulistana. Mas respeito com Mazzaropi pelo bem do nosso povo paulistano !

  23. Parabéns pela divulgação desta triste realidade que é a total indiferença das autoridades para manter a nossa história sócio culturalte

  24. Vejo e revejo os filmes do Mazzaropi. Pois é… “Tombar” em língua brasileira significa derrubar ou deixar cair. Se a Torre do Tombo fosse no Brasil seria um monte de entulho queimado – por quem queima até a bandeira da própria nação – ou uma construção nova no lugar. Lamentável.

  25. A Câmara Municipal de São Paulo e a Academia Brasileira de Letras agraciaram os Ronaldos com título e homenagem.
    Coincidência ou não, jogadores de futebol. Ou ex-jogadores. Um era um fenômeno mesmo – o Gaúcho, claro!
    O outro, ainda mais festejado, nunca me enganou…
    Mas isso não vem ao caso; o que quero dizer é que as “autoridades” brasileiras já deveriam saber que o futebol, pelo menos por aqui, já é muito (muitíssimo!) valorizado por si só, não havendo a necessidade de tais festejos. Ainda mais com títulos “NADA-A-VER”.
    Como aí no caso do Mazzaropi, há muitos artistas, escritores, empresários (que geram empregos e divisas), esportistas de outros segmentos, entre outros que realmente mereciam tais lembranças. Mas é só a minha opinião.

  26. Uma sugestão seria sobre um conjunto de sobradinhos geminados que aparece no filme o Vendedor de Linguiça de Mazzaropi,de 1961, time filme 9:20, este imóvel localiza-se na Rua São Vicente, 200 no bairro da Bela Vista e está praticamente igual

  27. Não sou paulistano, porém, fã do grande artista e cineasta, Mazzaropi.

    Dougras, quando vejo tais reportagens fico com o coração apertado ao ver tanta história se perdendo e sendo destruída pelo tempo.
    Necessário, acho fundamental, que se colha assinaturas suficientes para legitimar um projeto de lei a ser encaminhado a quem de direito, Câmara Municipal ou Assembleia Estadual, propondo a destinação de verba para a recuperação desse imóvel em agradecimento mínimo pelo muito esse artista fez para a cultura da nossa geração e para a indústria do cinema do Brasil, tornando-o em local de visitação pública que poderia auferir fundos para sua manutenção e conservação daí em diante..

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *