Edifício Ana Leopoldina

O que é viver bem? Faço sempre essa pergunta quando vejo anúncios de prédios de apartamentos cada vez mais altos e com unidades cada vez mais pequenas, verdadeiros “pombais humanos” onde as pessoas moram amontoadas, sem espaço para ter suas coisas etc. Não à toa a medida que surgem mais e mais prédios com até 38 m² temos cada vez mais empresas de armazenamento (as tais “storages”) espalhadas pela cidade, afinal nos cubículos mal cabe gente, o que dirá de objetos.

Tome o charmoso predinho da foto, por exemplo, localizado na pequena rua Luiz Porrio, bairro da Bela Vista, região central de São Paulo, o prédio Ana Leopoldina foi construído na década de 1950 e era composto de duas edificações de dois andares, com cerca de oito apartamentos.

Em uma área total de 1043m² com 1449m² tinha unidades de até 100 metros quadrados com três dormitórios cada. Pertencente a Daisy de Moraes Brunoro possivelmente era um edifício voltado para renda, algo muito comum em predinhos de bairro. Infelizmente em 2019 a área foi vendida e um prédio foi erguido em seu lugar.

O nome do prédio chega a ser estimulante: Bem Viver. Mas ao ver os dados das unidades tenho minhas dúvidas de que realmente seja, afinal as unidades são de 24 ou 38m² e sem vagas de garagem. Antes de me casa, no final da década de 1990 morei em uma quitinete no centro, construída nos anos 1960, que tinha 40m². Hoje as pessoas estão aceitando viver em apartamentos padrão ainda menores.

O resultado disso? Redução de seu espaço individual (em casos de várias pessoas morando), mais stress e menos qualidade de vida. As pessoas moram mal e pagam cada vez mais caro por isso. Triste.

Em tempo, eu não trocaria uma unidade no prédio demolido por duas nesse novo. E tenho certeza de que não iria me arrepender. E você?

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Respostas de 7

  1. Puxa, lembro desse prédio, que me atraía, porque eu morava com a família ali perto, na 9 de Julho, em um apto de 50m2, que era pequeno para nós, e eu passava olhando para esse prédio e pensando como os aptos deviam ser bons. E ser um prédio tão pequeno me fazia pensar quem eram os sortudos de morar ali. Não existe mais…

  2. É a lógica do mercado. Reduzir espaços, compactar empilhando moradias e pessoas. O resultado é a população estressada, neurótica, baixa qualidade de vida. Ah mas é bom para a economia porque além da proliferação das storages essas pessoas vão procurar tratamento, planos de saúde, remédios etc. diriam alguns

    Essa é a verdadeira lei que governa a cidade

    Surpreende que nenhum arquiteto levante a voz. Pelo contrário, a opinião deles é sempre algo do tipo “ah mas isso é muito comum em Tokio e NY” Então tá. Basta copiar o que há de pior no primeiro mundo e enfiar goela abaixo do nosso povo cuja cultura é muito diferente e pronto. Já estaremos no primeiro mundo. Lamentável

    Mas enfim, daria para escrever um livro

  3. Concordo, cada vez mais aparece um aprisionamento do ser humano. Deixando nos ,cada vez mais infelizes.

  4. Lembro-me perfeitamente deste prédio, pois passava em sua frente todos os dias ao voltar do Colégio Passalacqua. Era muito charmoso e cedeu espaço para um prédio minúsculo.
    Nunca entrei no Ed. Ana Leopoldina, mas minha mãe, Bixiguenta raiz, tinha uma amiga que morava lá e me disse que o apartamento dela era enorme.

  5. Sinto como se o artigo tivesse sido redigido por mim. Inclusive pelo uso da expressão “pombal”, que utilizo com frequência.
    Passei boa parte da minha infância morando em um apto de predinho, localizado na zona leste de São Paulo. Apesar de ser um pouco mais alto do que os de costume — cinco andares —, o prédio assegurava as demais características de predinho: aptos espaçosos, funcionais, que não precisavam integrar sala, cozinha e “lavanderia” — visto que a lavanderia não existe — para fingir que possui os três, quando, na realidade, mal possui um desses cômodos. Ou você opta por móveis pré-moldados para todo o apto ou tem que escolher entre sua cama e o guarda-roupa.

    Os condomínios que estão “cheios” de espaços de lazer, para tornarem o projeto mais atrativo, tentam dar à obra o que o capital retira: qualidade de vida. E, ao meu ver, falham miseravelmente. As pessoas trabalham tanto (ainda mais tendo que financiar empreendimentos nos valores exorbitantes que possuem os “pombais”), que mal têm tempo para o lazer. Por mais que eventualmente venham a utilizar os espaços do condomínio, nem se compara o tempo que o morador passa em sua unidade ao tempo que passa no condomínio. Por isso, entendo que é preferível um apto em um “predinho” que não tem absolutamente nenhum espaço de lazer, mas um apartamento confortável e funcional, em que podemos receber os nossos sem ficar amontoados, sem ter que dormir na cozinha ou nos preocupar em puxar uma cadeira e o vizinho escutar, do que um condomínio cheio de espaços que mal conseguirei usar. Isso sem adentrar no mérito de como os laços entre a vizinhança costumam se desenvolver nos dois tipos de condomínios.

    O triste é que, para pessoas da minha classe social, a aquisição do imóvel próprio já é um desafio. Soma-se a isso o fato de que, para os novos empreendimentos, há facilidades para o financiamento — muitas vezes com subsídios que quase alcançam a totalidade do valor —, enquanto, ao tentar financiar um imóvel antigo (que já tenha tido dono), os subsídios chegam, quando muito, a 50% do valor do imóvel.
    Ou seja, uma alavanca que impulsiona a moradia mais como mercadoria do que como um direito fundamental e social. Como se morar já fosse muito para a população — exigir dignidade no morar, então, já é demais.

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