Adeus, bar do Ceará

Já parou para pensar que todo bairro tem um “Bar do Ceará”? Só aqui na região onde fica o São Paulo Antiga tem pelo menos três em um raio de 4 ou 5 quarteirões. Muitas vezes o “Ceará” que batiza o espaço nem mesmo é um cearense, mas um migrante nordestino de qualquer outro estado da região que foi apelidado assim por seu sotaque ou aparência física.

Durante mais de um século este ponto comercial esteve presente no cotidiano de quem mora ou trabalha na região do Belenzinho e Brás, especificamente por quem passa pelas ruas Joaquim Carlos ou Cachoeira, uma vez que este imóvel está na esquina destas duas ruas. Nos álbuns de fotos da minha família temos fotografias que, de um modo ou de outro, ele aparece em plano de fundo já que familiares estão nestas região há algumas gerações. Como a foto abaixo do final da década de 1940 com minha falecida e queria tia Isaura ainda criança.

Neste ponto já foi de tudo o que você pode imaginar: armazém de secos e molhados, quitanda, pensão (sim, também foi) e principalmente bar. E como boteco que serve refeições baratas ao som de música alta e ruim foi sua última atividade até poucos meses atrás.

Justamente quando começou a fazer a nova pavimentação da rua eu notei que o bar havia fechado, pensando que seria provisório enquanto estivessem fazendo as obras por ali. No entanto depois de tudo terminado não reabriu o que me despertou a curiosidade, até que questionei uma prima minha vizinha próxima que me disse que o dono, Ceará, vendeu o imóvel e mudou-se.

Apesar de não estar nas melhores condições o imóvel do bar era até que razoável e poderia ser facilmente reformado ou restaurado, para oferecer suas refeições, tira-gosto ou mesmo aquele trago de cachaça. Imagino que o proprietário deveria estar cansado e optou por curtir a vida em algum outro ponto de São Paulo ou, quem sabe, caso realmente seja cearense, aproveitar a vida no interior ou nas praias do Ceará.

No decorrer dos últimos 25 anos, período que acompanho com mais proximidade a região, esse imóvel já teve a maior variedade de cores possíveis e imagináveis. Antes da cor vermelho tomate atual o bar já foi verde, azul claro (fotos acima), azul escuro, amarelo claro, branco encardido e até bege. Em todo esse tempo sempre esteve de portas abertas e oferecendo além das refeições, mesas de bilhar no que outrora foi um porão.

Os tapumes não indicam se será uma reforma ou demolição, mas é questão de tempo para sabermos ao certo. Não acredito que nesta região alguém invista em reformar imóvel velho, é provável que em pouquíssimo tempo o Bar do Ceará seja apenas uma vaga lembrança. E não me espantarei se nessa esquina abrir mais uma unidade do Oxxo, essa praga de capital mexicano que se espalha no Brasil tal qual fez pelo resto da América Latina, matando comércios locais sem dó ou piedade.

ATUALIZAÇÃO 26/7/2024:

Uma semana depois dos tapumes serem colocados o imóvel foi colocado abaixo, conforme a fotografia abaixo.

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