A sétima arte e os cinemas de São Paulo

A sétima arte. O cinema foi considerado assim, no início do século passado, por Ricciotto Canudo, um crítico de cinema, uma vez que sintetizava todas as outras, a pintura, a escultura, a música, a arquitetura, a poesia e a dança.

As primeiras imagens do filme Le Mantor du Diable, do francês Georges Méliès, em 1896 entretinha e maravilhava as pessoas. Eram os primeiros passos. Depois vieram Carlitos, Harold Lloyd e muitos outros. Cantinflas, Totó. Ríamos, chorávamos, nos emocionávamos. Eram as emoções, o deslumbramento abrindo caminho para o que se designava como a sétima arte.

Filmes grandiosos foram feitos. Narrativas, fantasias, documentários, de todos os tipos. Me lembro de alguns que marcaram minha infância: Tempos Modernos, O Grande Ditador e Luzes da Cidade. Me emocionaram! E o vento levou… só fui assistir garoto, em reprises. Clark Gable e Vivien Leigh e Hattie McDaniel tenho certeza, estão na lembrança de todos por retratar a luta daquela família na estupidez que foi a Guerra Civil Americana.

Os filmes de guerra nunca apreciei! Falavam da burrice humana, da bestialidade, das consequências de um louco, paranóico querendo o poder a todo custo, começando por descriminar pessoas e raças. Engraçado! Percebeu como a história se repete, ou quase?

O cinema viveu a época de grandes produções. Os Dez Mandamentos, Cleópatra e outros. Superproduções onde os protagonistas eram tratados como “divindades”. Excentricidades eram comuns nas filmagens. Charlton Heston, Yul Brinner, Elizabeth Taylor, enfim astros!

Charlton Heston é Moisés em “Os Dez Mandamentos”. Ao fundo observa-se o cenário.

Assisti esse filme, os Dez Mandamentos, no Cine Ipiranga, onde só se entrava de paletó. Aliás, o Cine Ipiranga sempre fez parte de minha vida. Já adulto, muitas veze ia assitir um filme na sala Pulman, no conforto daquelas poltronas.

Uma tarde, passando em frente, vi naquele imenso cartaz que ficava entre as colunas, um anúncio de um filme com Nat King Cole que contava a vida do compositor William C. Handy. Era o autor de uma das músicas que sempre curti muito. Saint Louis Blues que o Glenn Miller, durante a guerra, gravou e fez com que em um desfile militar, os soldados marchassem ao som dela para a indignação de alguns oficiais. Saindo de lá, quase sempre, ia ao lado, ali mesmo na avenida Ipiranga, comer um lanche.

Na foto o Cine Ipiranga, que apesar de ainda existir atualmente encontra-se fechado

Era o Salada Paulista onde se comia duas salsichas Frankfurt com uma maionese de batatas. A conta era escrita à lápis no balcão de mármore branco. Isso nunca esqueci ! Quando tive um restaurante, recriei esse prato. Foi sucesso, bom e barato!

No Cine República tive minha primeira experiência com o cinema 3D. Acabou não “pegando”. Gostei, mas aquele óculos de papelão incomodava. No Marabá assisti Giulliano Gemma em “Um dólar furado” iniciava a época dos “spaghetti western”. Fez muito sucesso! Comecei a prestar atenção então na música de Ennio Morricone. Gênio!

Cartaz de filme em “3a Dimensão”, como escrevia-se na época.

O Ritz, na avenida São João, em frente o Broadway havia sido reformado. Foi reinaugurado como Rivoli. Vinha cheio de requinte, um tapete muito alto, macio, parecíamos pisar em nuvens. Fui assistir “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, estrelado por Cantinflas. Era um sábado, lembro bem porque perdi o envelope de pagamento do mês. Cheguei em casa com as mãos vazias. Levei uma p… bronca de minha mãe.

No Olido, outro cinema luxuoso, na época, assisti “Orfeu do Carnaval” filme de Camus, na adaptação da obra Orfeu da Conceição do poeta Vinicius de Moraes, com música de Antonio Carlos Jobim e o maravilhoso violão do Luiz Bonfá. Breno Mello e Marpessa Dawn no protagonismo. O filme levou a Palma de Ouro, na França.

Na foto a fachada do Cine Olido na década de 1950

No Payssandu assisti “Assim Caminha a Humanidade”, um filmaço com James Dean, Rock Hudson e Elizabeth Taylor. O Cine Payssandu era um das salas que eu mais gostava. As poltronas eram ótimas! Chegava sempre um pouco antes de começar o filme para ficar vendo os “cavalos alados” do Jean Bosquet. Voava com eles.

Muitos, muitos filmes assisti nos cinemas de São Paulo. Só comecei a me afastar um pouco quando minha irmã comprou um aparelho de televisão Phillips, na Rádio Simis, na avenida Casper Líbero, em frente ao antigo prédio do jornal “A Gazeta”. Aliás, de frente à esse prédio era dada a largada da “São Silvestre”.

O Cine Broadway, na avenida São João, em fotografia de 1954

Pouco depois, a televisão em São Paulo se transformava. O Grupo Selmi Dei investia pesado em um canal de televisão. Era a Excelsior – Canal 9 com novelas, filmes e shows. Selva de Pedra, o seriado Os Intocáveis e o programa Times Square. Aos sábados, ficávamos todos nós assistindo.

A Globo tinha comprado da Organização Victor Costa, o Canal 5, TV Paulista. A disputa por audiência nos proporcionou ótimo entretenimento. O Canal 7, e o Fino da Fossa eram imperdíveis. O primeiro com o Jair Rodrigues e Elis Regina e o segundo com Elizeth e Cyro Monteiro. Espetaculares!

Pena que hoje os filmes nos primeiros 5 minutos “matem” pelo menos 20 pessoas e destruam uns 10 carros. Explodam 3 ou 4 prédios e falem muito palavrão! A nudez vulgarizada! Não tenho mais saco e ouvidos para isso, sem os efeitos especiais não se aguentam. Parece essa música que paira hoje no mundo, emburrece, empobrece. Uma lástima.

Enfim, Tempos Modernos!

Este é um artigo de opinião, o texto não representa a opinião do Instituto São Paulo Antiga podendo, inclusive, ser contrário a mesma. A responsabilidade deste conteúdo é do autor da artigo.

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