Classes Laboriosas

Uma das construções mais bonitas da região central da cidade de São Paulo está há mais de uma década em situação de penúria e total abandono. Trata-se da antiga sede da Associação Auxiliadora Classes Laboriosas.

Detalhe da fachada do imóvel (clique na foto para ampliar).

Erguido em 1907, o edifício que também é chamado de Salão Celso Garcia, foi durante décadas palco de importantes acontecimentos do cotidiano paulistano.

Durante as duras greves e revoltas operárias que assolaram a capital em 1917 e nas décadas de 1940 e 1950, o prédio era constantemente usado para reuniões, discussões e negociações.

No ano de 1953, que ocorreu uma grande greve, a sede das Classes Laboriosas foi considerada o grande e importante QG do movimento grevista, um marco para o movimento trabalhista brasileiro.

Rara imagem do salão da Classes Laboriosas (Ano 1929)

Nas décadas anteriores, especialmente de 1910 a 1920, o elegante Salão Celso Garcia foi palco de inúmeras peças de teatro, corais e solenidades que não raro repercutiam por toda a cidade de São Paulo. Em 1910, aliás, o poeta e político Sílvio Romero falaria diante deste prédio em um importante e concorrido comício sobre a carestia de vida.

Infelizmente, todo este passado glorioso e marcante do prédio da A.A. Classes Laboriosas parecem ter ficado para trás. Quem passa hoje no número 22 da rua Roberto Simonsen, sequer consegue imaginar a efervescência deste local nos primeiros cinquenta anos do século XX.

Atualmente, vê-se um prédio praticamente destruído, largado e abandonado, onde somente restaram as paredes laterais e a belíssima fachada, esta em art déco.

clique na foto para ampliar

Em fevereiro de 2008 um incêndio tomou conta do antigo Salão Celso Garcia e praticamente quase tudo veio abaixo, exceto a fachada e paredes que resistiram.

As circunstâncias de incêndios em prédios centenários e tombados sempre despertam suspeitas (muitas vezes infundadas), mas a grande verdade é que o prédio resistiu ao fogo devastador.

clique para ampliar

Um ano depois, em 11 de março de 2009, uma reunião do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo (Conpresp) liberou a reforma do imóvel, porém condicionando o trabalho à preservação da fachada intacta. Passados três anos, nada foi feito e a situação de abandono e descaso com a história de São Paulo continua.

Confira outras fotos do prédio (clique na miniatura para ampliar):

Atualização – 19/06/2014:
Nesta semana visitamos mais uma vez o antigo prédio das Classes Laboriosas e notamos que o local foi coberto com uma tela de proteção e cercado por malotões.

Além disso notamos a presença de andaimes e estão retirando o reboco antigo. Será que finalmente o imóvel será restaurado ? Estamos acompanhando!

Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

Atualização – 01/12/2016:
Passado pouco mais de dois anos desde nossa última visita ao prédio das Classes Laboriosas, podemos constatar que nenhuma reforma – nem mesmo emergencial – foi realizada. O edifício continua oferecendo grave risco tanto as munícipes quanto ao acervo patrimonial da cidade de São Paulo.

O leitor e colaborador do São Paulo Antiga, Felipe Leite Neres, adentrou ao edifício e conseguiu tirar excelentes fotos do interior do imóvel. A galeria abaixo apresenta estas imagens:

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Respostas de 31

  1. Sempre me chamou a atenção o fato de que o estilo da fachada (Art Deco) é diferente do restante da construção, ambos muito bonitos. Gostaria de ver fotos da fachada original, provavelmente de 1907 até os anos 30.

  2. Eu acredito que esta fachada tenha sido construída bem depois de 1907, talvez na década de 30, período do Art-deco. Nota-se que a estrutura atrás possui um estilo diferente.

    1. Minha amiga mora em um prédio bem próximo, chegou a ver o incêndio, que chegou quase a tomar o prédio em que ela mora também! da parte que o prédio tem um corredor aberto uma espécie de “quintal”, (serve de passagem e para secar a roupa) dá para ver o classes laboriosas, está nascendo uma árvore na parte que era do interior do prédio…só dá para ver os tijolos e o mato crescendo. Ouvi dizer que era um prédio muito bonito, agora é abandonado, como um outro prédio desta mesma rua(não conheço o nome, mas é do lado contrario ao cl)…

  3. Esta é a má notícia da Sé a que vc se referiu né? realmente triste mas eu passo por lá com certa frequencia e já sabia da situação do prédio, até achava que estava assim há mais tempo

  4. Quando eu era office-boy, uma vez por mês eu ia até as classes laboriosas para efetuar o pagamento da mensalidade do meu antigo chefe e de sua esposa e sempre ficava observando tudo, sua arquitetura, as pessoas que lá trabalhavam.
    Fiquei surpreso pois não sabia que tinha pegado fogo.

  5. Quando eu trabalhava no hospital várias vezes fui até este prédio pegar trocar solicitar guias.
    Lindo majestoso e imponente prédio que chamava a atenção por sua estrutura.

    Esse abandono em menos de 30 anos é lamentável

  6. nesse predio foi o meu primeiro emprego em 1950
    no andar superior tinha a sala de advogacia do dr. Gorga e no 3o andar uma sala do Boletim Fiscal onde tabalhei como office-boy para ajudar na assinatura de um periodico contabil mensal.
    Durante um mes ali trabalhei e saí pq. trabalhava e nao recebia, isto é, so recebia se o cliente fizesse assinatura do Boletim Fiscal.
    Tempos vindos e findos

  7. O que eles estao esperando para começar a reforma???? Tem como nos fazermos alguma denuncia??

  8. Meu pai, hoje com 88 anos diz que dançou muito nesse prédio e que tem muitas recordações.
    É um descaso, algo histórico tão importante para as futuras gerações, gostaria de falar desse prédio para meus netos mas acho que não poderei, devido seu abandono por nossos governantes.

  9. Pertinente como sempre, todavia sugiro revisar os textos. Não é “pano”. É uma tela de proteção. Não é “reboque” mas sim reboco. Acompanho os posts – sempre pertinentes e interessantes mas tenho lido sempre alguns equívocos… Por exemplo: a herma de concreto na Praça da República, citada num vídeo recente, não é de metal erroneamente pintada. É de argamassa armada pintado de verde, simulando a pátina típica do bronze. Caso deseje, poderei contribuir…

  10. Realmente, sempre tive impressão que a fachada atual veio depois da original já que a lateral tem outro estilo…

  11. Passo sempre por lá, e andei muito naqueles corredores nas décadas de 80/90, quando minha avó, hoje recém completos 93 anos ainda é conveniada à Classes Laboriosas.
    Que edificio magnifico, que interior estupendo. HOJE, há árvores dentro do que restou, e sus provável queda por desmoronamento e descaso das autoridades colocam em risco as pessoas.
    ´pE uma tristeza ver aquele edificio que fui por muitas vezes nesse estado!

  12. De acordo com a atualização, o local ele se disponibiliza para fotos? Como que seria possível entrar em contato?

  13. Uma pena ver um prédio desses tão destruído e abandonado. Apenas para confirmar a diferença entre a fachada e o resto do prédio: “Em 1933, o edifício passou por uma grande reforma estrutural, com destaque para o redesenho da fachada, seguindo o padrão do estilo art déco, muito estilo na arquitetura brasileira na época.”

  14. Gostaria de saber qual o procedimento para conseguir entrar no prédio.

    Aproveito e parabenizo-os pelo trabalho realizado no site.

  15. Trabalhei na Roberto Simonsen nos anos 80’s , lembro-me do grande movimento de pessoas que circularam nesse prédio.

  16. Bom dia,
    Estou fazendo um trabalho da faculdade de técnicas retrospectivas, restauração e patrimônio histórico em cima desse edifício. Alguém sabe como faço para conseguir a implantação (imagens das plantas)?
    Desde já, obrigada.

  17. Eu sou completamente apaixonada por esse edifício. Graças ao São Paulo Antiga eu consegui achar um local para o meu TCC, foi amor à primeira vista e eu não descansei até realmente conseguir fazer o meu projeto. Esse lindo edifício se tornou um cinema no meu TCC. Obrigada, São Paulo Antiga

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