O Tatuapé desde meados da década de 1990 vem sofrendo uma ampla transformação urbana que praticante fez com o que outrora bairro basicamente de construções como casas térreas, sobrados, vilas e alguns edifícios se transformasse em uma das regiões mais adensadas da capital paulista. Isso, é claro, trouxe a destruição de inúmeras casas antigas e até vilas que foram abaixo para dar lugar a prédios cada vez mais altos.
Apesar dos reveses de um bairro cada vez mais adensado e sufocado pelo trânsito o Tatuapé ainda possui casas antigas interessantes e até algumas vilas dignas de nota (e preservação). Uma delas é essa que apresento aqui para vocês.
Localizada na altura dos números 848 a 860 essa incrível vila antiga do Tatuapé inicialmente aparenta que são apenas três belas casas vizinhas que compartilham entre si uma harmonia na escolha de tom de cores e semelhança no estilo arquitetônico. Contudo trata-se das casas principais de um elegante conjunto de mais de duas dezenas de residências, as demais construídas ao fundo do terreno.
As casas da frente originalmente pertenciam aos proprietários fundadores, sendo que é nítido que a casa do lado esquerdo é a maior de todas desta vila, ou seja, era a casa principal. Para acessar as demais é preciso entrar por uma estreita rua de paralelepípedos localizada à esquerda da casa maior.
Observando lá da calçada da rua Tuiuti você até nota ao longe que existem mais construções no fundo do lote, mas só terá uma noção precisa do que irá encontrar lá atrás após percorrer os cerca de 50 metros da extensão desta estreita via.
Ao chegar ao fundo é que você se dá conta do tamanho da vila e de como o local é uma espécie de oásis urbano fincado no cada vez mais caótico bairro do Tatuapé:
Esqueça a vida enfurnada em prédios, ali você encontrará um lugar absurdamente tranquilo onde sequer o trânsito próximo é ouvido. Na vila alguns poucos carros estacionados e um silêncio que só é rompido pelo som de pássaros que cruzam os céus do local.
Ali pouco mais de duas dezenas de casas pequenas e padronizadas dividem o espaço que parece uma verdadeira viagem no tempo, para um Tatuapé de 40-50 anos atrás onde prédios eram minoria. Da propriedade é possível se lembrar que estamos no século 21 pelos edifícios vistos ao fundo, como um recado que nos dias atuais morar em uma vila como essa seja um privilégio que o mercado imobiliário não quer que você saiba que é possível.
Essa parte interna da vila tem três tipos diferentes de construções, todas elas muito interessantes. A parte maior consiste nessas pequenas residências geminadas todas pintadas nas cores cinza e branco. A segunda parte consiste em casas coloridas e a terceira parte de casas mais simples que aparentemente são bem mais antigas que as demais, no âmbito geral todas são muito interessantes e graciosas.
Viver numa vila como essa nos remete a um passado não muito distante (50-60 anos) onde a vida era muito mais simples e, talvez, mais legal. Claro que cabe aqui uma grande reflexão pois nos últimos anos avançamos muito na medicina, na ciência e no entendimento da nossa obrigação para como o planeta e o meio ambiente, mas já pararam para pensar que na época que estas casas foram construídas tínhamos uma vida mais saudável em diversos aspectos?
A oferta de alimentos ultraprocessados eram muito menor, leite, requeijão e iogurte eram vendidos em embalagens de vidro menos nocivas ao ambiente e fáceis de reaproveitar ou reciclar, manteiga era oferecida em lata ou em papel metalizado (como é até hoje). Dentro de casa o “eletrônico” disponível era o rádio e depois, em alguns lares mais ricos, surgia a televisão. As pessoas conversavam entre si.
Essa vila me levou a uma profunda reflexão de como os tempos modernos não necessariamente são sempre melhores e que do passado podemos extrair boas lições para um futuro melhor.
Infelizmente ainda não consegui apurar com precisão a história desta vila, pois os testemunhos orais aqui foram muito variados e deixo aqui aberto caso você leitor tenha alguma informação que encaminhe aqui para o São Paulo Antiga. Contudo arrisco a dizer que trata-se de uma vila de um único proprietário, que pode ser originalmente uma vila operária ou uma vila de renda (este último algo comum no Tatuapé de outros tempos). Caso novidades surjam esse texto será atualizado. A título de curiosidade esta vila fica próxima da já demolida residência do falecido casal de presidentes do Corinthians, Marlene e Vicente Matheus.
Veja mais fotos desta vila (clique para ampliar):
Respostas de 22
Nasci e cresci nessa Vila. Foi a melhor época da minha vida. Nunca vou esquecer. Lembro de todos os moradores.
Saudades.
Bom dia Maria, tbm moramos lá na vila, e minhas irmãs e meus pais, e saímos de lá em 1970, como foi gostoso aquele tempo né, toda a criançada brincando na rua.
Até onde sei o parque do piqueri foi doado por um Barão do café e essas casas existentes eram de funcionários que trabalhavam no campo desse dono.
Existe um lugar que todos moradores antigos do Tatuapé conhecem como casa mais antiga do bairro que não fica muito longe dessa vila e lá existe a história dessa localidade.
Parque do Piqueri pertencia à família Matarazzo,eles inclusive tinham pequeno palacete dentro.
O lugar que você se refere é a “Casa Bandeirista” do Tatuapé
Parabéns
Na casa maior que da frente para a rua tuiuti já funcionou um ” grupo escolar”
Gostei muito da matéria mas fiquei curiosa para conhecer o interior das casas…
As vezes em nome do dito progresso destruímos o nosso passado que na maioria das vezes é só uma ilusão, sem pensar que sem passado o presente
Não existe muito menos o futuro.
Que achado é essa vila. Mesmo com alguma reforma a ser feita, ver esse conjunto de casas ainda pé traz uma sensação de volta ao passado. Eu amo ver a história refletida nessas construções. Douglas bora organizar um tour pelo Tatuapé.
Logo as construtoras põe abaixo, como aconteceu com a vila João Migliari, no mesmo Tatuapé, localizada na rua Airi, quando era adolescente morava em frente a vila, que era linda! O que é maravilhoso no são João tinha a quermesse tudo de bom!
Incrível, passo praticamente todos os dias enfrente dessas casas amarelas e nem imaginei que tinha outras atrás. Parabéns, pela matéria e essas fotos lindas.
Tenho curiosidade de ver essa casa amarela na rua Tuiuti…já vi pessoas de TV gravando nela…
Esse conteúdo é incrível. Obrigado. Irei compartilhar com os amigos e amigas do curso.
Passo em frente sempre que vou caminhar no Piqueri. Legal saber um pouco dessa história da nossa cidade.
Ali na Tuiuti (a uma ou duas quadras da Celso Garcia) morava o tio Marcelo Castello, foi campeão de damas em torneios Rio-S. Paulo, barbeiro de profissão e _ipso4 facto_ ótimo contador de anedotas.
Vida que segue, seguiu, seguindo.
Essa casa dá rua Almirante Calheiros de esquina nós amigos ficávamos conversando a noite eu morava na rua do lado padre Antônio de Sá
Conheci essa vila por acaso, andando na rua, quando fiz um projeto no bairro, já faz uns 10 anos. Pesquisei um pouco, mas não encontrei nenhum lugar falando sua história. Bom saber que a vila ainda está de pé. Acho que o DPH deveria estudar a viabilidade de tombamento. Os bairros fora do centro expandido tem relativamente poucos bens tombados e, infelizmente, estão perdendo suas referências tradicionais.
Que saudades!!! Quando criança morei nessa vila na casa número 41. Junto com meus avós maternos. Isso por volta de 1960. Encontrei pelo Facebook alguns amigos que também moravam lá.
Mandei pro meu pai, que nasceu e cresceu ali perto, e ele me respondeu:
Essa era a casa dos Costa, sua avó trabalhou aí quando criança, a dona era madrinha dela.
Tem dois prédios, um do lado esquerdo, que aparece o telhado, outro a direita, bem mais pra baixo.
Eram 3 irmãos, era pra ficar um prédio pra cada um.
Quando eu era pequeno, todo almoço na véspera de Natal a gente passava com a madrinha da vovó.
Boa tarde parabéns pela reportagem.
Passei minha infância em uma vila próxima a essa , na rua Maria Eugênia. A casa do sr Vicente Mateus era um marco nas redondezas.
Tempo maravilhoso, de muita brincadeira na rua, com poucos prédios. Ler essa reportagem é um bálsamo. Uma viagem no tempo. Hoje, quase um sonho, no meio do caos que se transformou o Tatuapé.
Olá ! Morei nessa vila com os meus Pais, nos anos 80. Tenho algumas fotos de com o era nessa época. Essa vila pertencia a uma fámilia de Portugueses, cujo sobre nome era COSTA, inclusive o nome da rua de entrada “Rua Maira José Costa” é em memoria dos donos. Acredito que hoje pertença aos herdeiros, provavelmente netos dos primeiros donos.
Eu conheci alguns moradores dessa Vila. É a chamada Vila do Costa. Tem muita história. Antes os proprietários não deixavam modificar nada da fachada. Apenas o interior das casas. Vejo agora que algumas fachadas foram pintadas e estão muito bonitas. Adoro reportagens como esta. Parabéns