Um dos museus mais divertidos e interessantes de São Paulo está fechado há anos, ignorado pelas autoridades – o atual prefeito desconhecia a existência do museu até o ano passado – desprezado pela sua mantenedora, a São Paulo Transporte S/A e vítima de uma cortina de fumaça de informações imprecisas, equivocadas e até mentirosas.
Se estivesse vivo atualmente Gaetano Ferolla morreria de desgosto ou estaria no mínimo mergulhado em uma grande depressão, afinal foi dele o esforço de coletar ao longo de décadas o enorme acervo que integra o Museu SPTrans dos Transportes ou, como costuma ser lembrado pela população: Museu da CMTC. Ferolla viu o sonho de sua vida se transformar em realidade quanto todo o acervo que juntou se transformou em um museu de fato em 1985, durante a gestão do prefeito Mário Covas.
O acervo reúne preciosidades da história dos transportes de São Paulo, que vai dos bondes ao famoso ônibus Dose Dupla, ou Fofão, como era conhecido o ônibus paulistano de dois andares que Jânio Quadros tornou realidade inspirado pelos vermelhos double deckers londrinos. O museu ainda guarda diversos ônibus históricos como os elétricos, executivo e outras preciosidades como o Ford Landau oficial do prefeito, a Kombi da operação corredor e um Fusca fafá que era do DSV.
As atrações não param por ai com um incontável acervo de objetos, bilhetes e passes de ônibus, materiais de escritório, acervo fotográfico e uma biblioteca que ultrapassa 1500 volumes. Tudo isso, no entanto, indisponível para o público.
Veja algumas imagens do acervo do Museu dos Transportes antes de fechar suas portas:
O Museu dos Transportes levou seu primeiro golpe durante a gestão do então prefeito João Dória (PSDB) que cedeu a um museu particular do interior, pasmem, o bem mais raro e valioso do museu: um Ford Modelo T que percorreu as Américas abrindo a atual rodovia Panamericana. O veículo passou por diversos países da América do Sul, Central e do Norte, passando por cidades como Detroit e até Nova York.
Pouco tempo depois da cessão desse veículo, o museu foi fechado para reformas que até hoje não saíram do papel ou não foram concluídas, pois não há transparência da São Paulo Transporte em apresentar um calendário de obras ou mesmo imagens do que acontece no local. Uma fonte que trabalha na empresa contou a este jornalista, sob a condição de anonimato, que a cessão do Ford T ao museu de Bariri foi o primeiro passo para que, aos poucos, o museu não abrisse mais.
Desde então foram as mais diversas desculpas sobre a não reabertura do museu: pandemia, mudança de gestão de prefeito, troca de presidência na São Paulo Transporte etc etc. Nada que desse um prazo concreto para a reabertura do museu. Enquanto não se tem uma data de retorno do museu reformado, conforme prometido por eles, não sabemos como está sendo preservado o acervo de veículos da instituição, a higienização do acervo fotográfico e mesmo da biblioteca.
Não há transparência, não há respeito ao bem público e muito menos ao cidadão. Este repórter questionou em diversas oportunidades se poderia ir conferir a obra em andamento, prometida para conclusão em meados de 2023, porém a empresa ignora esse pedido talvez porque ao invés de ter algo a mostrar, tenha algo a esconder.
Na porta de entrada do museu a um aviso que diz “Fechado para obras – Acompanhe em nosso site e redes sociais” entretanto jamais foi mostrado qualquer coisa sobre as supostas obras em lugar algum, seja do site, das redes sociais da SPTrans ou mesmo no Jornal do Ônibus.
Museu é cultura e não deve estar subordinado à Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana, mas sim à Secretaria Municipal de Cultura. Só assim o museu poderá ter verba e orçamento próprios, não dependendo de migalhas e trocos que sobram de sua atual mantenedora.
O Instituto São Paulo Antiga indignado com o lamentável descaso da Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana e a SPTrans está encaminhando uma demanda ao vereador paulistano Toninho Vespoli (PSOL) solicitando que sejam feitas vistorias no museu, bem como a cobrança para a conclusão das obras e a transferência desse museu para outra secretaria o mais breve possível. O próximo passo será uma visita ao Ministério Público.
Respostas de 4
Triste essa matéria sobre o museu da CMTC, pena que abandonaram essa obra tão importante para a cidade e o povo paulistano.
Assim como foi feito com a própria empresa que era um orgulho para todo povo paulistano, uma empresa respeitada , que prestava um ótimo trabalho ao público que necessitava do transporte coletivo e também socorrida a população quando as empresas particulares faziam paralisações deixando o povo sem transporte.Fui funcionário desta grande empresa e sinto muita falta dela, quem sabe um dia ela pode voltar a fazer parte novamente de nossa cidade, Sr. Ricardo Nunes deixa sua marca em sua passagem pela prefeitura trazendo de volta essa grande empresa.
Douglas te mandei msg no zapp. Vamos pra cima.
Vergonha, Doria, o vendedor de ilusões nada fez como prefeito ou governador, parecia um corretor de imóveis, só pensava em vender o patrimônio público, o atual prefeito, seus antecessores, incluindo os do PT também só prometeram, o MP e a imprensa tem que cobrar uma solução para esse descaso, parabéns pela matéria. Cadê os vereadores?
Conheci o museu muitos anos atrás e como paulistano sei de sua importância. Tremendo descaso sim, governo após governo. Parabéns pela matéria e pela iniciativa, Douglas! Vamos torcer pra que os resultados positivos venham