Os arredores do Largo da Concórdia são repletos de pequenos hotéis, a maioria deles muito simples, com o básico para acomodar o grande número de viajantes que chegam ao bairro do Brás todos os dias para fazer compras na região e posteriormente levarem os produtos – a maioria roupas – para revenderem em suas cidades, muitas delas bem distantes capital paulista. Alguns desses viajantes são inclusive de outros países, boa parte do continente africano.
Muitos destes hotéis estão estabelecidos em construções bastante antigas, várias delas centenárias proporcionando uma viagem no tempo para seus hóspedes, ao menos em relação às fachadas. Estes hotéis ficam principalmente em vias como Avenida Rangel Pestana, Celso Garcia, Rua do Gasômetro e arredores.
Localizado na Rua Monsenhor Anacleto esquina com Rua Maria Domitila, este pequeno edifício abriga em suas dependências um hotel, chamado Hot, além de algumas residências e também dois estabelecimentos comerciais no piso térreo.
Próximo à Rua do Gasômetro o edifício é muito bem localizado estando próximo de dois estabelecimentos consagrados da gastronomia paulistana, a Cantina Gigio e a Cantina e Pizzaria Castelões. O imóvel também fica poucos passos do fervilhante comércio de madeiras e ferragens do Gasômetro e pouco mais de um quilômetro de distância tanto do Mercado Municipal da Cantareira, quanto do comércio do Largo da Concórdia.
A edificação em questão está sempre muito bem cuidada e sua fachada é preserva em sua originalidade, além de rica em detalhes. Começando pelos andares superiores, todas as janelas de madeira estão em excelente estado de conservação, algo raro hoje em dia tendo em vista a triste mania do paulistano por esquadrias de alumínio. Atualmente pintado na cor verde sua pintura anterior era um tom de bege.
Um detalhe que chamou muito nossa atenção mas que pode passar despercebido pelos transeuntes está esculpido nas quinas do edifício. Trata-se da representação de ramos e frutos de café, algo que era usado por muitos arquitetos do início do século XX quando se queria homenagear o produto que era a grande riqueza paulista.
O acesso ao hotel se dá pelo número 165 da Rua Monsenhor Anacleto, enquanto a parte residencial do imóvel se dá pela Rua Maria Domitila, na porta de madeira da extremidade do imóvel. No térreo, por sua vez, dois estabelecimentos comerciais dividem o espaço.
No passado, nos idos das década de 1950 e 1960, funcionava no térreo um bar chamado Flor do Braz (isso mesmo, com ‘Z’). Não foi possível apurar se na época os andares superiores funcionavam como hotel, entretanto onde hoje está instalado o hotel dava-se acesso a residência de uma pessoa chamada Francisco Pugliese que inclusive possuía número de telefone, algo não tão comum naqueles tempos. No número 295 da Rua Maria Domilita havia um telefone em nome de Rosalina Amoroso, cujo sobrenome é compatível com o de um dos proprietários atuais*¹.
TELEFONES DISPONÍVEIS EM 1961*²
Bar “Flor do Braz” – nº 33-44-05
Francisco Pugliese – nº 35-14-09
Rosalina Amoroso – nº 33-45-86
Construções como este edifício são únicas e cada vez mais raras em São Paulo. Mesmo no bairro da Brás as garras da especulação imobiliária estão tornando esses predinhos cada vez mais raros.
É necessário que a municipalidade seja por conta da figura do prefeito ou dos vereadores se movimente em prol da definitiva preservação destes imóveis, estimulando os proprietários a preservarem suas fachadas em sua totalidade através, principalmente, de isenções fiscais como do IPTU.
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Notas:
*1 – De acordo com os dados públicos do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) ano base 2021
*2 – Dados disponíveis no Guia dos Telefones – São Paulo para o ano de 1961
Respostas de 7
Pena que a RV Plast pintou até o limite com um verde que não tem nada a ver.
Imovel lindo e significativo, deveria ser isento de IPTU, esse conpresp letárgico não se mexe
O Brás e seus prédios. Na infância eu vi tudo isso funcionando. Bela matéria.
Além de ser um edifício bucólico no para SP, o acabamento é bastante primoroso. O que dá charme são as janelas de madeira e sobretudo a porta de madeira, sonho de muitos decoradores.
Esse edifício merece ser preservado! Muito boa conservação e sua imagem encanta a quem a vê!
Adorei essa matéria. Lindo o prédio. Pena que se faz necessário este tipo de porta no térreo. Imagine se fossem portais de madeira ao estilo do primeiro andar. |Parabéns, Douglas.
como estava em 03/22: https://maps.app.goo.gl/TEbzr6JrYaUJ6uDt8