Quem hoje se desloca até a Estação Júlio Prestes ou a Sala São Paulo se depara com um monumento que fica em uma praça recém restaurada que, em virtude dessas bizarrias do cotidiano paulistano, é gradeada e fica fechada à noite. Trata-se do Monumento a Alfredo Maia:
Pouco conhecido do paulistano de hoje, Alfredo Maia foi uma das mais importantes figuras do desenvolvimento ferroviário do Brasil e, principalmente, de São Paulo.
Foi sob sua administração que a extinta ferrovia Sorocabana deu seu grande salto de expansão. Não é à toa que seu a obra que o homenageia está localizada bem diante da principal estação da Estrada de Ferro Sorocabana. Apesar disso a estátua não se encontra em seu local original.
A HISTÓRIA:
Inaugurado em outubro de 1922, o Monumento a Alfredo Maia ficava originalmente em outra praça próxima, mais precisamente no Largo General Osório. Naquela época a atual Estação Júlio Prestes, bem como a praça homônima, ainda não existiam*¹.
Observando a fotografia 2, é possível notar que o largo onde foi instalado sofreram algumas alterações ao longo dos anos. O edifício à esquerda foi demolido poucos depois e deu lugar ao atual Hotel Piratininga, um dos mais antigos da cidade, na outra extremidade o Café e Restaurante Internacional também foi demolido e no lugar a um belo edifício que é sede da EMESP Tom Jobim. Já o edifício do centro da foto ainda existe e funciona ali uma lanchonete chamada Amarelinho.
À época de sua inauguração houve nos jornais uma crítica quanto a instalação de monumentos de personalidade diferente ao nome do logradouro*². Essa peculiaridade paulistana se repete atualmente nas Praça Princesa Isabel, República e Marechal Deodoro, cujos homenageados são outros.
Posteriormente o monumento foi transportado para a Praça Júlio Prestes, onde está até hoje. Ali a escultura de Alfredo Maia repousa observando aquela que é uma das mais belas estações ferroviárias do país e que hoje também abriga uma das magníficas salas de espetáculos do mundo.
DADOS DA OBRA:
Monumento a Alfredo Maia
Inauguração: Outubro de 1922
Local original: Largo General Osório
Localização atual: Praça Júlio Prestes
Escultor: Amadeu Zani
Material: Escultura em bronze, pedestal em granito com detalhes em bronze
NOTA:
*1 – A atual Estação Júlio Prestes só começaria a ser construída em 1925 sendo concluída em 1938
*2 – Conforme crítica publicada no extinto jornal Correio Paulistano, edição 26185, página 5 em 17 de julho de 1941.
CURIOSIDADES:
- Duas estações ferroviárias homenageiam a Alfredo Maia: Engenheiro Maia (inaugurada em 1/05/1909) e Alfredo Maia (inaugurada em 10/05/1905). Para saber a história destas estações, clique nos nomes correspondentes.
- Nascido em Cabo Frio, Alfredo Eugênio de Almeida Maia foi por duas vezes Ministro dos Transportes.
- Na porção frontal do pedestal do monumento (vide fotografia 1) existia uma placa de bronze com os seguintes dizeres “O homem passa, as conquistas do progresso ficam”. A autoria da frase é atribuída ao próprio Maia.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
- A Gazeta – Edição 0749 de 19/04/1915 pp 3
- A Vida Moderna – Edição 044 de 20/10/1922 pp 30
- A Illustração de S. Paulo – Edição 003 – Novembro/1922 pp 14, 15
Respostas de 3
Bem lembrado!
Entre 1874 e 1876, um grupo de jovens partiu para estudar na cidade de Gante, na Bélgica, entre eles Alfredo Maia (°1856, Rio de Janeiro, onde estudou Engenharia entre 1876-78, Francisco de Salles Oliveira Jr (°1852, Jacareí, São Paulo, estudou Engenharia entre 1872-76), Antunes Maciel (°1854, Rio Grande do Sul, estudou também Engenharia de 1874-77) e Ramos de Azevedo (°1851, São Paulo, que estudou entre 1875-78, formando-se engenheiro-arquiteto) . Neste período, cerca de 30 brasileiros estudaram na cidade de Gante.
Estudar engenharia em São Paulo não era uma opção. A “cidade da solidão” tinha neste período só uma faculdade, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, como era chamada inicialmente, que foi criada pela lei imperial de 11 de agosto de 1827. A Escola Politécnica data de 1893 e a Escola de Engenharia do Mackenzie de 1896. No Rio de Janeiro, a separação entre o ensino militar e o ensino civil na área de engenharia só aconteceu em 1874 com a criação da Escola Politécnica.
A universidade de Gante foi fundada em 1817, antes da independência da Bélgica em 1830, no período que esta fazia parte dos Países Baixos. A partir dos anos 1860 foi renovado o ensino da Escola Especial de Engenharia, criado em 1835, nos moldes do ensino de engenharia alemão e inglês. Como era comum neste período, a língua universitária era o francês. A universidade tinha uma boa reputação e atraía bastantes estudantes estrangeiros. No período de 1864 a 1876, um terço da população estudantil era de origem estrangeira.
Interessante o seu complemento. Realmente, no período imperial a qualidade do ensino e formação era bem precária mesmo.