São Paulo é uma cidade de grandes avenidas. Vias que rasgam a cidade de ponto a ponto, desde áreas urbanizadas até localidades ainda rurais e até que extrapolam os limites da capital, passando por várias cidades, como a “interminável” Avenida Sapopemba.
Muitas destas avenidas são verdadeiros símbolos paulistanos, encravadas em nossa história e lembradas e conhecidas por todos os paulistanos. Como a Avenida 9 de Julho que abordarei neste artigo.
A 9 de Julho quando foi projetada e teve suas obras foram iniciadas, em 1929, não tinha planos de receber esse nome. Afinal a data histórica que dá nome ao logradouro sequer havia acontecido, ou seja, a Revolução Constitucionalista de 1932.
Se as obras não tivessem ocorrido com a lentidão típica do Brasil (alô monotrilho pronto pra Copa de 2014), ela talvez tivesse sido inaugurada como Avenida Saracura ou algo do gênero. Porém a construção da via de pouco mais de 6 quilômetros levou “apenas” 12 anos para ser totalmente concluída.
Iniciada durante a gestão do prefeito Pires do Rio, o projeto era ousado para os padrões de obras viárias da capital paulista. A via dava início a implementação do audacioso Plano de Avenidas, sistema viário estrutural proposto pelos engenheiros Prestes Maia e João Florence Ulhoa Cintra.
A construção da avenida combinou várias obras em conjunto, como a canalização e retificação do Rio Saracura, a complexa construção de dois túneis – um para cada sentido de trânsito – sob o belvedere da Avenida Paulista e uma viadutos como Major Quedinho e o 9 de Julho.
Possivelmente as obras teriam sido concluídas alguns anos antes, caso não tivesse ocorrido as revoluções de 1930 – com a chegada de Vargas à Presidência da República – e a de 1932, que paralisou esta e outras obras na capital paulista durante e até um tempo depois do conflito.
A imprensa foi grande crítica da morosidade das obras, onde várias reportagens mostravam períodos onde os canteiros de obras ficavam vazios e inoperantes. Apesar disso, mesmo que aos trancos e barrancos, o inevitável aconteceu com a abertura ao tráfego de veículos na avenida em 25 de janeiro de 1940.
Os túneis da avenida foram inaugurados em 22 de julho de 1938, quase dois anos antes da avenida completa. A inauguração, aliás, teve uma presença bastante insólita: Getúlio Vargas.
O Presidente da República inicialmente não tinha planos de vir ao evento, mas foi convencido pelo então interventor de São Paulo, Adhemar de Barros a comparecer. A ideia é que o gesto fosse uma demonstração de simpatia para com São Paulo que não nutria de grande amor pela figura de Vargas.
Desde então a Avenida 9 de Julho inseriu-se no cenário urbano paulistano de tal maneira que seus outrora lotes vazios ao longo da avenida foram todos ocupados, com edifícios residenciais e comerciais, hospitais, teatros, prédios públicos, hotéis etc.
Fatos e curiosidades sobre a Avenida 9 de Julho:
- O fato dela ser uma avenida de fundo de vale, construída sobre dois cursos de água faz dela até hoje uma via bastante propícia a alagamentos.
- Quando inaugurada, em 1940, a Avenida 9 de Julho ia apenas até a Rua Estados Unidos.
- Além do Rio Saracura, o córrego Iguatemi, afluente do Rio Pinheiros, também tem uma parte que passa sob a avenida na ponta oeste (bairro) da via.
- O Rio Saracura, aliás, tem sua nascente bem atrás do hotel Maksoud Plaza, na rua Garcia Fernandes (via sem saída).
- A extensão dos túneis da Avenida 9 de Julho, sob a Avenida Paulista, é de 450 metros.
- Presente sobre o túnel desde sua inauguração, o mirante passou sem ser muito aproveitado por mais de sete décadas, até que foi repassado para iniciativa privada e batizado como Mirante 9 de Julho. O local além de um café e ponto turístico é um belo cartão postal da capital paulista.
Veja mais fotos da obras e da avenida concluída:
NOTA:
Artigo publicado no jornal Diário Popular em 2 de junho de 1942, onde a reportagem menciona a ideia de alargamento de parte da Avenida 9 de Julho proposta pelo então prefeito paulistano, Prestes Maia.
Bibliografia consultada:
- O Imparcial – Edição 5998 de 23/07/1938 pp 5
- Correio Paulistano – Edição 25.268 de 24/07/1938 pp 1
- Correio Paulistano – Edição 25.732 de 24/01/1940 pp 1
- Correio Paulistano – Edição 25.733 de 25/01/1940 pp 6
- Diário Popular – Edição de 02/06/1942 pp 2
- Jornal de Notícias – Edição de 21/04/1946 pp 1
- Acervo São Paulo Antiga – fotos utilizadas neste artigo
Respostas de 15
Este post me fez lembrar uma crônica que li, há muito tempo, talvez a uns quarenta anos, no extinto Jornal da Tarde. O cronista, cujo nome lamentavelmente se me apagou da memória, tratava das peripécias da construção da Avenida Nove de Julho, em especial os túneis. Dentre outras coisas, ele se referiu à “guerra de torrões”, dentro dos túneis, levada a cabo pelos meninos “ricos” do Jardim Paulista”, onde ele morava e os meninos “pobres” do Bixiga. Aliás ele asseverou, também, que os moleques do Jardim Paulista foram fragorosamente derrotados, visto a pontaria infalível dos moleques do Bixiga.
Uma curiosidade sobre a Avenida 9 de Julho e seus túneis é que por ela deveria correr o metrô da Light, um dos inúmeros projetos de metrô feitos desde 1888 e jamais implementados e que deixaram várias heranças para o mobiliário urbano, dentre elas o Viaduto do Chá, por onde deveria correr a mais antiga linha de metrô da cidade, projetada em 1888 interligando o Largo do Paissandu ao Largo da Sé e os viadutos com mezaninos na 23 de Maio próximos ao centro, embrião da atual linha 5 do metrô.
Esse Adhemar como governador de SP acho que só não ficou de quatro pro Sr. Getulio Vargas mas entregou o Estado de SP como cordeirinho submisso!
Getúlio Vargas é uma personalidade histórica tão relegada em segundo plano na história paulista que São Paulo é a única capital que não possui nenhuma grande via que o homenageia.
Obvio. Sao Paulo nao louva assassinos, genocidas e torturadores. Só falta querer uma avenida hitler. Louvar vargas é o cumulo da falta de carater.
Muito boa essa reportagem, amo São Paulo
Por mais reportagens como essa!
Sensacional! Sobre a foto de 1937 que mostra os prédios do Anhangabaú, tenho uma do Diário Popular publicada alguns anos depois (tenho de olhar no meu arquivo, mas deve ser de 1942), praticamente do mesmo ângulo, e a cena já tinha mudado bastante! Aliás, por ter sido tirada do mesmo ângulo, onde será que estava o fotógrafo? Devia ser um lugar de acesso razoavelmente fácil.
Bela matéria, parabéns.
Como de costume, mais um monumental trabalho do Douglas, resgatando a história de monumentos e obras de arte de nossa gloriosa São Paulo.
Parabéns pela matéria. A foto onde mostram as entradas e saídas dos túneis devem ser de 1938 ou logo após, pois o carro que vemos ao lado direito delas é um Ford 1938.
Belíssimo artigo
Parabéns pela reportagem
Maravilhosa essa matéria! Para quem residiu nas imediações do tunel, então, é uma relíquia. Parabérns Douglas!
bom dia DOUGLAS NASCIMENTO, gostei muito sobre essa reportagem da construçao da avenida 9 DE JULHO, uma justa homenagem a revoluçao constitucionalista do estado de SAO PAULO, no qual eu moro e admiro, uma revoluçao alias que beneficiou todo o BRASIL, contra a maldita ditadura do governo Getulio Vargas ao qual tambem eu nao tenho admiraçao alguma, nao sei porque o povo brasileiro, admira tanto esse crapula.