A importância dos estudos de hierarquização viária para a organização espacial das cidades

Por: Marcos Timóteo Rodrigues de Sousa
Professor dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura: Ser/UNG
contato: marcossousa91630@gmail.com

OS ESTUDOS DE VIAS URBANAS

Os estudos e pesquisas que visam compreender e analisar o sistema viário urbano de uma cidade e, seus respectivos problemas relacionados à geometria e segurança viária são primordiais para a melhoria da qualidade da mobilidade urbana. Os focos analíticos iniciais recaem sobre os entendimentos, análises e estudos da hierarquização viária e seus aspectos técnicos.

Para tal análise, julga-se necessário entender a distribuição da rede de transportes, estruturação viária, mobilidade urbana e principalmente as questões relacionadas a geometria e projeto de vias. O desenho urbano e a morfologia nos remete ao entendimento dos possíveis problemas de segurança viária, acessibilidade e uso do solo.

O objetivo deste texto é contribuir para a reflexão da importância da hierarquização viária das cidades.

Observamos na foto 1 que a Rodovia Presidente Dutra (BR 116), nos anos de 1960, que passa pela cidade de Guarulhos, tinha uma configuração bem urbana, quase um tipo de via arterial ou coletora. Atualmente a Rodovia Dutra detém um grande volume de tráfego, se enquadrando como uma Via Expressa.

Foto1: Rodovia Presidente Dutra (BR 116) na década de 1960.

SISTEMA VIÁRIO URBANO

Segundo Albano, (2004) o sistema viário do município representa um instrumento indutor de ocupação e de adensamento de diferentes zonas da cidade, para tanto, a sua hierarquização se torna um fator de ordenamento de ocupação. As condições físicas e operacionais da vias podem apresentar efeitos positivos e negativos ao uso do solo.

O aumento do volume de tráfego em um sistema viário precário poderá agravar os problemas relacionados ao tempo de viagem, número de acidentes, poluição ambiental, consumo de combustíveis, elevação nos custos tarifários e congestionamentos no trânsito (Albano, 2004).

De acordo com Silva (2002) os planos urbanísticos após a Segunda Guerra Mundial apresentavam como características comum a racionalização das vias e a abertura de grande artérias, sendo o veículo automotor o principal condicionante da estrutura urbana.

Atualmente no Mundo e no Brasil a busca é pelas iniciativas de sistemas de circulação não-motorizados, especialmente estimulando os modos a pé, por meio de construção de passeios e, o uso da bicicleta, priorizando as ciclovias. Em geral, há uma motivação nos planos diretores e nos planos de mobilidade urbana estruturar a hierarquização viária com o intuito de direcionar uma melhoria do nível de serviço do transporte coletivo, calçadas e ciclovias.

HIERARQUIA VIÁRIA

Segundo Andrade (1998) as legislações urbanísticas no Brasil e a hierarquização viária normalmente não tem nomenclaturas e padrões bem organizados, isto se deve a falta de uma metodologia padronizada.

De acordo com a CET/SP (1995) adotou-se a conceituação de hierarquia viária que utilizava critérios de fluxos veiculares e características físico/operacionais das vias, como os fatores determinantes da sua classe hierárquica.

Esses critérios de classificação criavam um sistema hierárquico descontínuo, posto que ora um trecho da via pertence a uma rede, ora a outra, devido à variação dos volumes veiculares passíveis de alterações.

Este fato implicava também em se atualizar periodicamente a classificação viária. Por esse sistema, retratar a situação momentânea da via através de suas características físicas e fluxo veicular, ele não permitiu uma orientação da expansão viária capaz de instrumentalizar os órgãos públicos a dirigirem suas intervenções futuras no sistema viário. As fotos 2 e 3 apresentam exemplos de Vias Coletora e Arterial.

Foto 2: Via Tipo Coletora

A partir de meados de 1991, a CET/SP buscou uma classificação hierárquica que revelasse a lógica do sistema de circulação da cidade baseada em características permanentes que pudessem orientar na expansão do sistema viário e na formulação de uma política de ocupação do solo.

Para tanto, resgatou-se a característica básica das vias, o papel que elas exercem na malha viária e adotou-se como critério determinante das classes hierárquicas a função da via e seus atributos. Esta conceituação baseada na função das vias, permitiu identificar 4 conjuntos de vias, cada qual com funções específicas na formação das redes viárias.

Para o primeiro, denominada Rede Viária Estrutural, elegeu-se como sua função principal a importância funcional das ligações viárias, a articulação entre regiões extremas da cidade, considerando-se principalmente a continuidade do traçado viário ou extensão. Segue abaixo o modelo de base do GEIPOT (Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes) e CET/SP (Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo).

A tabela 1 nos mostra um resumo das características de cada tipo de via.

Tabela 1: Resumo de Características de Classificação das Vias

SISTEMA VIÁRIO URBANOVIAS LOCAISVIAS COLETORASVIAS EXPRESSAS
ESTRUTURAL
Característica das viasPistas simples sem divisão com faixas de rolamento estreitasPistas simples ou separadores, faixas comuns (≤ 3m) estacionamento permitido (2m)Múltiplas faixas (3,6m), separadas por canteiros, acostamentos ou baías laterais, vias auxiliares de transição
Foto 3: Via Tipo Arterial

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia de estudos e análises da hierarquização viária se faz muito importante, pois, é a partir destas informações que podemos discutir os planos de mobilidade urbana. Segue abaixo as principais ideias para a inicialização de projetos de pesquisa em hierarquia urbana.

a) Composição do tráfego (veículos leves e pesados): circulação de veículos e geometria viária;

b) Geração de tráfego (polos geradores de tráfego): volume de tráfego e utilização das vias;

c) Geometria Viária: Estrutura da caixa viária, largura e inclinações dos passeios, sarjetas e vias;

d) Modelos de ocupação dos loteamentos: níveis de afastamento de frente, recuos das construções e interferências das vias nos lotes;

e) Novas ligações viárias;

f) Tratamento cicloviário: estudos de vias para as bicicletas;

g) Tratamento para pedestres: estudos dos passeios públicos (calçadas).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ALBANO, João Fortini. Vias de Transporte. São Paulo, Bookman, 2004.
  • AASHTO. A policy on geometric design of higways ans streets. Washington D.C., AASHTO, 1994.
  • CET. Normas Técnicas: NT192/95. São Paulo, 1995.
  • JEANNERET, Charles-Edouard. Maniére de penser l’urbanisme. São Paulo, Perspectiva, 1971.
  • MASCARÓ, Juan Luis. Loteamentos Urbano. Porto Alegre, Mais Quatro Editora, 2005.
  • SABATOVSKI, Emílio. Código de Trânsito Brasileiro. Curitiba, Juruá, 2001.
  • SILVA, Antônio Nelson Rodrigues, et al. Impactos da hierarquia viária no nível de serviço de modos não-motorizados. Revista dos Transportes Públicos, v.91, n.23, São Paulo, 2002.
  • YOUSSA, Vanessa Naomi. Impactos da hierarquia viária orientada para o automóvel no nível de serviço de modos não-motorizados. Dissertação de Mestrado, USP, São Carlos, 2008.
  • VILLAÇA, Flávio. Uso do solo urbano. 1a ed. São Paulo: Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal, 1978.
Compartilhe este texto em suas redes sociais:
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Siga nossas redes sociais:
pesquise em nosso site:
Cadastre-se para receber nossa newsletter semanal e fique sabendo de nossas publicações, passeios, eventos etc:
ouça a nossa playlist:

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *