Recentemente reaberto para visitação pública em sua cobertura, o Edifício Martinelli é um dos ícones da arquitetura paulistana e por anos o grande arranha-céu da cidade de São Paulo.
Um prédio tão grande como este já teve de tudo em suas dependências: Sedes de clubes de futebol*¹, hotel, consultórios, escritórios e até mesmo um cinema. E é sobre esta sala de exibição que vamos falar aqui:
Construído e instalado na parte inferior do célebre arranha-céu, o Cine Rosário logo em seu início causou um grande impacto no cenário cinematográfico paulistano, devido ao seu tamanho, luxo e a originalidade por estar dentro de um grande edifício.
A criação do cinema foi idealizada a partir de um problema de vizinhos. Durante as obras de construção do Martinelli, que duraram 10 anos, ocorreu um abalo a uma construção vizinha, limítrofe ao arranha-céu no número 43 da Rua São Bento. Este imóvel era um prédio pertencente a Sra. Stella Penteado da Silva Prado.
Severamente comprometido pelas obras do Martinelli, esse prédio foi então adquirido pelo Conde Giuseppe Martinelli que tratou de colocá-lo abaixo e utilizar o espaço para aumentar ainda mais a “gordura” do prédio. Esse novo bloco foi chamado de “bloco do cinema” e ali ele foi construído.
Sobre a construção do cinema existem poucos detalhes. O que sempre foi especulado é que o projeto era do filho do Conde, Ítalo Martinelli.
A inauguração do Cine Rosário ocorreria em duas datas, nos dias 2 e 3 setembro de 1929. A primeira foi uma abertura de gala, destinada às autoridades, empresários, amigos da família Martinelli e a elite da cidade. No dia seguinte ocorreu a inauguração para o público que encheu o cinema por completo, ávidos para conhecer a novidade.
Com um número aproximado de 1000 lugares o cinema caiu nas graças dos paulistanos e logo transformou-se em uma das principais salas de exibição do centro da cidade. Mesmo com a concorrência de outras salas muito próximas, como o Cine São Bento, o Rosário mantinha-se firme e com ótima programação.
Apesar disso sua trajetória não foi tão longa, tendo funcionado por menos de 30 anos. De acordo com o excelente blog Salas de Cinema de São Paulo sua última sessão foi exibida em 24/07/1955.
Desta época para frente o Martinelli estava começando um processo de deterioração que duraria até meados dos anos 1970. Época em que o icônico edifício era mais conhecido pelos problemas típicos de uma favela e menos pelo luxo e glamour que sempre ostentou.
Ficha técnica – Cine Rosário
Localização: Rua São Bento, 397 – Centro
Inauguração: 02 e 03 setembro de 1929
Capacidade: 1000 lugares (número aproximado)
Primeira exibição: O Pagão (MGM)
Fim das atividades: 1955
Nota:
*¹ – Palmeiras e Portuguesa tiverem suas sedes no edifício antes de conquistarem suas sedes próprias.
Bibliografia consultada:
A Gazeta – Edição 07083 – 30/08/1929 – pp 4
A Gazeta – Edição 07087 – 04/09/1929 – pp 5
A Gazeta – Edição 07154 – 25/11/1929 – pp 6
A Cigarra – Edição 0356 – Outubro 1929 – pp 30
Salas de Cinema de São Paulo – Visitado em 13/05/2019
Extra – Galeria de imagens relacionadas ao Cine Rosário (clique para ampliar):
Respostas de 10
Olá!
Douglas, eu tenho um livro em casa cujo texto fala sobre o edifício Martinelli e onde também é mencionado que ” o elegante cine Rosário, localizado nesse prédio, é inaugurado, em 1936, por um ilustre visitante: o príncipe de Gales(…)”.
Esses textos que abordam acontecimentos de antigamente, por vezes divergem quanto às datas e outros pormenores.
O príncipe de Gales estava realmente em São Paulo em 1929, mas em 1936 não tem nada de inauguração.
Bem, como eu disse, essa afirmação está no livro que tenho em casa, “Nosso Século”.
…/… excelente registro !
Excelente matéria, parabéns amigo…..
Olá Douglas, sou seu fã, gosto demais de seus posts sobre São Paulo!
Obrigado João!
O Rosário foi o cinema escolhido por Walt Disney em 1941 para a exibição de estreia do filme ‘Fantasia’. Ele foi qualificado por sua equipe como o melhor cinema de São Paulo para a exibição do filme. Meses antes, técnicos americanos foram enviados para o Brasil para instalar o sistema de som que o filme requeria (um som estereofônico primitivo) e calibrar os projetores e lâmpadas. Walt Disney chegou no Rio, estreou o filme em 23 de Agosto de 1941 no Pathé Palácio, veio a São Paulo lançar o filme em 26 de Agosto de 1941 e depois retornou ao Rio, onde ficou mais dois dias e partiu para a estreia na Argentina. O filme ficou dois meses em cartaz nesses dois cinemas, pois só eles tinham condições técnicas de exibir o filme. Só no ano seguinte os outros estados puderam conferir o filme em uma cópia com som mono.
Que informações interessantes Leonardo!
Olhando para o Martinelli hoje é difícil pensar que nos anos 70 ele virou uma espécie de favela, mas devido a degradação do centro ao longo dos anos eu acredito nisso.