Residência de Romeu Nunes

Um dos bairros nobres mais queridos de São Paulo, o Pacaembu foi um ambicioso projeto arquitetônico da empresa inglesa City of São Paulo Improvements and Freehold Company Limited (Cia City) que por pouco não saiu do papel.

O projeto foi inicialmente embargado pela Câmara Municipal, o que atrasou um pouco o início de seu loteamento. Após este percalço inicial ser resolvido a empresa retoma os trabalhos de urbanização no ano de 1925. Os terrenos haviam sido adquiridos no ano de 1912.

Mesmo passado quase um século de seu início, o Pacaembu até hoje é um bairro tranquilo e de baixa densidade populacional, muito devido ao alto padrão da região e também à horizontalidade do bairro. De todas as suas vias, a mais movimentada é a justamente a principal: A avenida Pacaembu.

E é nesta famosa avenida que se encontra um dos mais imóveis mais bonitos do bairro, a casa que serviu de residência a Romeu Nunes e sua família:

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Projetada por Júlio Paulo Albieri a residência de dois andares impressiona pelo seu luxo e por sua arquitetura eclética, que destoa bastante de suas vizinhas. Residências essas aliás que em sua grande maioria estão completamente descaracterizadas atualmente servindo de escritórios ou lojas.

Construída em 1941 o casarão teve utilização residencial por pelo menos quatro décadas, sendo depois adaptado também para o uso comercial. Depois do primeiro morador e proprietário, Romeu Nunes, também serviu de residência para Fuad Auada. Já nas últimas décadas serviu de sede para a empresa Isoterma, do Sr. Og Pozzoli, recentemente falecido e que era muito conhecido por sua incomparável coleção de automóveis antigos.

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Apesar de não ser possível conferir o interior da residência atualmente, podemos ao menos atestar que na porção exterior do imóvel as condições de preservação estão bastante satisfatórias.

Sua fachada original está preservada sem qualquer alteração e o imóvel recebe constante manutenção, não apresentado nenhum grande problema a se observar. A combinação de cores da fachada é de ótima escolha, dando um ar bem agradável à construção.

Com o falecimento de Og Pozzoli em 2017, o imóvel foi desocupado por seus herdeiros e posteriormente colocado à venda em algumas imobiliárias especializadas do bairro do Pacaembu. Recentemente, em junho de 2024, a faixa do anúncio foi removida o que trouxe a especulação de que o imóvel havia sido negociado.

Na penúltima semana de julho de 2024 algo que nos trouxe apreensão aconteceu. O imóvel foi cercado com tapumes, o que na maioria das vezes significa que uma demolição ou descaracterização está a caminho. Veja as imagens abaixo:

E o que se previa realmente aconteceu, com o velho palacete sendo completamente demolido em 26 de julho de 2024. Abaixo o vídeo que produzi com o auxílio de um colaborador mostrando os momentos finais do imóvel.

VEJA MAIS FOTOS DO PALACETE ANTES DE SER DEMOLIDO (clique para ampliar):

E um casarão tão belo e importante para o bairro do Pacaembu não poderia deixar de ser destaque em sua época de inauguração da importante revista de arquitetura Acrópole. As fotos abaixo foram publicadas na edição de janeiro de 1942, alguns meses depois da casa ter sido concluída.

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Na revista é possível conhecer a residência por dentro, com destaque a algumas dos cômodos e áreas de convivência como junto à lareira, galeria superior e sala de jantar. As fotos estão disponíveis na galeria a seguir.

ATUALIZAÇÃO – 31/07/2024:

O querido leitor Eduardo Campos entrou em contato conosco e nos enviou fotografias internas do palacete, tiradas poucas semanas antes de sua demolição. Seu bisavô foi um dos moradores desta residência antes dela passar para Og Pozzoli. Observem nas fotografias o quão absurda e até criminosa esta derrubada foi, uma vez que todos as dependências estavam absolutamente preservadas.

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Respostas de 26

  1. Verdadeiro luxo para a aquela época! Penso que para manter a conservação, é preferível que haja interesse de empresa, gerando trabalho e mantendo as características originais do que o imóvel ficar praticamente abandonado pelos herdeiros e depois ser vendido com desvalorização para ambiciosas construtoras, onde nós, paulistanos, dispensamos mais uma torre fria de cimento, contribuindo infelizmente, para outro apagão de nossa memória arquitetônica…

  2. Parabéns Douglas,parabéns Saopauloantiga,quero aproveitar e sugerir que se faça um trabalho sobre o casarão da família Pado,das indústrias Pado na rua da Moóca com a Barão de Jaguara,que ainda está de pé , porém abandonado,se e que ainda não o fizeram.Abraço.

  3. Douglas,
    Falando em Pacaembu, você podia visitar também a Casa Imperial, localizada na Rua Itápolis. Seria uma matéria interessante de de grande curiosidade, até para as pessoas que não sabem de sua existência.

  4. Douglas, estive nesse casarão, nos idos de 1978, se não me falha a memória. Sou de 1967, então guardei algumas imagens. Era a festa de casamento de uma tia e o que me impressionou, além do tamanho da mansão e sua suntuosidade foi um banheiro, no andar superior, bem amplo mas absolutamente preto, peças sanitárias, banheira, azulejos e o piso, algo que nunca tinha visto e que até hoje creio ser raro.

    1. Olá Luiz, tudo bem? Gostaria de entrar em contato contigo, como posso fazer? Sou neto de Romeu Nunes. Ficaria agradecido.

      1. Olá Gustavo sou sobrinha neta do Romeu Nunes. Como faço para entrar em contato consigo?? Gostaria muito já que somos parentes.

        1. Oi Andréa, tudo bem? Acho que me expressei errado quanto ao parentesco, apesar da familiaridade estar certinha. Sou sobrinho neto de Romeu Nunes. Você consegue contato por whatsapp? Segue meu número
          (11) 965779009.

        2. Olá Andréa ! Me chamo Karine, tenho parentesco com a família Cobas Nunes ! Um dos meus tios avôs tem o nome de Romeu. Será que somos parentes?

      2. Olá, Gustavo. Tudo bem, e contigo? Acabei só vendo seu reply hoje. Te escrevi no whatsapp.
        Um abraço

  5. Passei por lá hoje, é fiquei muito curioso com esse casarão, além de outros que ali estão, muitos, conforme disse, estão bem descaracterizados. Esse imóvel, está com uma grande faixa para alugar.

  6. Eu estudei na casa ao lado, em meados dos anos 80, quando ainda era a Escola Pacaembu. Hoje é uma casa de repouso. Lembro da minha mãe me levar e buscar na escola e toda vez que eu descia do carro, ficava olhando a casa.
    Décadas mais tarde, em 2010, acabei conhecendo no antigomobilismo o Sr. Og Pozzoli, pois também sou um admirador de carros antigos.
    Em 2014 estava passeando com meu Thunderbird 1957 pela avenida Pacaembu, junto com um amigo. O telefone dele tocou, era o Sr. Og que nos convidou para um café! Imediatamente fiz o retorno e fomos para a casa! Parei o carro no estacionamento e gentilmente o Sr. Og nos recebeu. Nos mostrou a casa inteira, depois nos serviu um café na sala, enquanto contava como comprou a casa no esquema “porteira fechada”. Contou que fez de tudo para recuperar poucos detalhes que o antigo proprietário se desfez, como um lustre que ficava no centro da escada e que foi parar numa casa de leilões do Rio de Janeiro. Ele conseguiu reaver o lustre!

    Hoje, 26/07/2024, 10 anos após eu ter conhecido a casa, eu a vi sendo destruída por uma escavadeira. De manhã estava lá, de tarde só os escombros. Que tristeza!

    Já nos alertou o maior dos filósofos brasileiros, que as entidades de base no Brasil foram tomadas, gradativamente e na surdina ao longo de décadas, por pessoas com uma mentalidade revolucionária destrutiva. Mentalidade essa, enriquecida com conteúdo “cultural” degradante. O que vi acontecer hoje foi resultado disso. Provavelmente será construído ali uma caixa de concreto, que trará mais feiura e descaracterização para a região, assim como muitas. Isso continuará acontecendo enquanto a mentalidade das pessoas não mudar. A boa notícia é que essa mudança já começou, mas vai levar algum tempo para surtir efeito.
    Busquem pelo que é belo e verdadeiro!

  7. Incrível! Mostrava-se em perfeito estado de conservação, pelo menos externamente. Recentemente recebi a notícia de que autorizaram a demolição duma casa em estilo art-nouveau na Rua da Assembléia, no Centro do Rio.

  8. Como dói saber que a casa não existe mais! Sempre foi uma das casas mais belas do bairro. Vemos uma cidade que está cada vez mais tendo falta de cultura e interesse pelas histórias. Não foi destruído somente concreto, mas também todos os acontecimentos vividos nesse belo imóvel. Lamentável não terem valorizado o imóvel

  9. Em 1949, meu pai comprou uma casa e um lote de terreno, de uma vila de 12 casas construídas na praça André Nunes num bairro que hoje se chama Vila das Mercês, próximo ao Sacomã. Mas que se chamava Vila dos Quarenta. Quem vendeu essas casas, e terrenos foi o Sr ROMEU NUNES.
    Seria essa mesma pessoa de quem se comenta aqui?
    Se sim, preciso saber se ANDRÉ NUNES (que deu nome à praça) Era ou é parente de Romeu Nunes.
    E se ele era dono de uma casa de calçados no centro de São Paulo, (praça Clóvis Bevilaqua)que se chamava “CASA DOS QUARENTA”)

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