Viagem à Sabaúna

Mogi das Cruzes é um importantes município da Grande São Paulo e possui uma história muito interessante, que se envolve bastante com a capital paulista.

Além disso, também é uma cidade com muitas construções antigas interessantes e relevantes (poderia ter mais não fosse a especulação imobiliária) e também atrai por suas algumas igrejas de grande valor arquitetônico.

A cidade também é dotada de trem de subúrbio, o que nos leva a pensar o quanto a municipalidade e o cidadão poderiam lucrar se o trem, ao menos o turístico, ainda chegasse até a pacata e charmosa Sabaúna.

Planta do distrito de Sabaúna, ano de 1939 (clique para ampliar)

BREVE HISTÓRICO:

Habitada como um pequeno vilarejo desde o final do século 19 e transformada em distrito de Mogi das Cruzes em 1929, Sabaúna tem suas origens no século 18 quando Álvaro Luiz do Valle, Capitão-mór da Capitania de São Vicente doou as terras que futuramente abrigariam o vilarejo ao Convento do Carmo de Mogi. A área seria ampliada alguns anos depois, em 1768, quando um frei do mesmo convento adquiriu mais uma légua vizinha.

A grande propriedade rural passou a partir deste momento a produzir todos os alimentos necessários para o sustento dos religiosos do convento e aos escravos que viviam na instituição religiosa. O excedente da produção era vendido nas cercanias e gerava dinheiro. Produzia-se ali milho, feijão, cana, algodão etc.

Na década de 1880 o governo paulista adquire toda esta propriedade junto à ordem Carmelitana Fluminense¹ a então fazenda Sabaúna, sendo nomeado para demarcar e preparar a localidade, em 14 de dezembro de 1888, o Sr. Benjamin Franklin de Albuquerque Lima, de larga experiência em outras colônias pelo país, como a Colônia Conde D´Eu².

Começava neste momento a atividade colonial da região, que se iniciaria oficialmente em 12 de dezembro de 1889 com a chegada dos primeiros imigrantes que se fixariam ali como colonos: uma família de tiroleses composta por quatro pessoas.

E assim começou o Núcleo Colonial de Sabaúna. Dez anos mais tarde a localidade já contava com pouco mais de 1000 habitantes, sendo eles principalmente espanhóis, italianos, alemães, portugueses e africanos.

Algo fundamental para a exploração e colonização de Sabaúna foi a ferrovia. Aberta em 1893, a estação ferroviária do distrito não só trazia os novos moradores como também escoava a produção local para outros pontos de São Paulo e até mesmo para a capital nacional à época, Rio de Janeiro.

A Estação de Sabaúna já no seu ocaso, nos anos 1970

Inicialmente uma tímida construção de madeira, oriunda de um vagão de trem adaptado, resistiu por anos até ser substituída pela construção conhecida atualmente, inaugurada em 1932, nesta época Sabaúna já era oficialmente parte de Mogi das Cruzes e tinha ares de uma pequena cidade do interior, não muito diferente do que é hoje.

SABAÚNA HOJE:

Com a estação ferroviária fechada desde 1989, hoje só se chega até o distrito através de transporte próprio ou de ônibus coletivo, este disponível no centro de Mogi. Para chegar em Sabaúna utiliza-se a SP066, Rodovia Henrique Eroles.

Centro do distrito de Sabaúna (clique para ampliar)

A localidade reúne todos os quesitos que esperamos encontrar em um vilarejo ou pequena cidade. Tem a estação ferroviária – preservada e funcionando como área de cultura, algumas casas centenárias ao redor da linha férrea, ruas ainda calçadas em paralelepípedos, pessoas andando a cavalo e muita atividade rural.

Apesar do valor histórico, nem todas as construções antigas de Sabaúna estão preservadas. Infelizmente parte delas foi descaracterizada ou mesmo demolida dando lugar a habitações e comércios que desvalorizam o patrimônio local.

Alguns imóveis sofreram descaracterização (clique para ampliar)

A maior concentração de casas antigas está justamente na praça diante da estação e ruas mais próximas, apesar de que caminhando pelas ruas mais distantes do distrito você sempre irá encontrar mais uma ou outra residência preservada.

Um pouco afastado da estação, no ponto alto de um morro, está o pequeno cemitério local que também vale a visitação, uma vez que muitos dos primeiros colonos estão ali sepultados. Não espere túmulos grandiosos e de alto valor artístico igual ao que se vê na Consolação ou Araçá, o que não faz desta necrópole rural menos interessante.

O QUE FAZER PARA MELHORAR:

Sabaúna hoje poderia ser chamada de prima pobre de seu vizinho próximo, o distrito guararemense de Luiz Carlos. Falta aos políticos de Mogi a visão que tiveram os de Guararema, que restauraram e recuperaram sua vila e fizeram dela um atraente e patrimônio histórico e pólo turístico e gastronômico.

Casa do chefe da estação, uma das preciosidades de Sabaúna (clique para ampliar)

Claro, é possível fazer um bom passeio turístico pelas ruas de Sabaúna hoje. Porém não há um capricho do município em fazer dali um pólo realmente atrativo.

No domingo que fizemos a visita à região algumas pessoas se aglomeravam ao redor da estação para prosear enquanto outras consumiam bebidas alcoólicas e falavam palavrões. Não havia a disposição qualquer folheto turístico, mapa ou guia mesmo um guia de turismo disponível e nem mesmo haviam placas explicativas para que aventureiros solitários como eu pudessem se orientar. Sorte que eu já conhecia bem a região.

Voltando a usar o distrito vizinho de comparativo, aqui existe um potencial chamativo de turistas que deveria rapidamente ser repensado e ativado: o passeio de trem. Nos finais de semana é possível embarcar em uma locomotiva à vapor na Estação de Guararema e chegar até Luiz Carlos.

clique para ampliar

Uma boa conversa entre a secretaria de cultura das duas cidades poderia estender o passeio até Sabaúna, que fica uns poucos quilômetros de distância. Se pensarem ainda mais, poderiam envolver o governo estadual e a CPTM levando um trem turístico a partir de Estudantes (Mogi) até Sabaúna e de lá ir de Maria Fumaça até Luiz Carlos e Guararema.

O turismo atrairia muito mais pessoas, desenvolveria o comércio, abriria pousadas, restaurantes etc. Tudo muito fácil, pena que cultura não é o primordial para nossos governantes.

Quando puder, faça uma visita a Sabaúna. É um pedaço da história da colonização de São Paulo a poucos quilômetros da capital. Recomendo!

Veja mais fotos de Sabaúna (clique na miniatura para ampliar):

Notas:

1 – De acordo com ofício publicado no jornal Correio Paulistano, em 20 de novembro de 1888, foi pago à Ordem Carmelitana Fluminense um total de 10:000$000 (dez mil contos de reis) em 10 parcelas de 1:000$000 (mil contos de réis) em títulos da dívida pública. Abaixo o recorte da publicação:

2 – Surgindo por volta de 1870 a Colônia Conde D´Eu hoje faz parte do município gaúcho de Garibaldi.

Bibliografia consultada:
História de Mogi das Cruzes, Isaac Gringberg (1961) – pp. 82 a 85
Arquivo Público do Estado de São Paulo em 09/08/2018 – planta do distrito de Sabaúna
Correio Paulistano – edição 09666 de 20/11/1888 – pp 01
Correio Paulistano – edição 09686 de 14/12/1888 – pp 01
Site Estações Ferroviárias – Sabaúna – link consultado em 05/08/2018

Agradecimento especial a Rafael Bertoli que colaborou enviando algumas das imagens que ilustram este artigo.

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