Eternizado no samba paulista por Adoniran Barbosa, o bairro de Jaçanã não se limita apenas a canção Trem das Onze. Neste bairro, que há muitas coisas interessantes, como o Hospital São Luiz Gonzaga, mais antigo da região.
Durante muitos anos, este hospital era chamado de de Hospital Colônia do Guapira, fundado em 1904 e administrado pela Santa Casa de Misericórdia. Surgiu como leprosário e com o passar dos anos virou referência no tratamento da tuberculose. Décadas mais tarde, em 1932, o hospital passa por uma grande reforma e seu nome foi alterado para a denominação atual.
Nos anos 1950 o Hospital São Luiz Gonzaga possuía diversas alas, e dentre elas a infantil. Focando o bem estar das crianças lá internadas e mudar a concepção de que as crianças internadas ficam isoladas do mundo e tristes, por iniciativa de alguns médicos, vários artistas são convidados para agraciar o pavilhão infantil com suas pinturas, entre elas nomes como Alfredo Volpi, Aldo Bonadei e Francisco Rebolo. Tarsila do Amaral e Anita Malfatti provavelmente também fizeram pinturas, porém as obras não possuem suas assinaturas.
Junto desta concepção artística pedagógica, o artista plástico Samson Flexor foi convidado a fazer um mural para o futuro teatro dentro do pavilhão infantil. Com motivos infantis e circenses recheado de cor e magia, este teatro teria como finalidade resgatar a alegria das crianças que estavam internadas.
A construção do teatro infantil teve início em 1952 e levou dois anos para ser finalizada. Foi inaugurada em 1954, ano do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Abaixo, destaque na foto para o mural:
A história poderia ser bem mais alegre se o espaço tivesse uma finalidade específica de tornar-se efetivamente um teatro, mas hoje o teatro encontra-se fechado e em mau estado de conservação.
A laje que cobre a entrada do teatro infantil sofre com infiltração e umidade. Um grande buraco no teto ajuda a piorar a situação. O painel artístico encontra-se em bom estado de conservação salvo de algumas pastilhas soltas, mas nada que comprometa a visualização.
Infelizmente não foi possível obter informações se em algum período desde sua inauguração o teatro infantil chegou a funcionar.
O fato é que o teatro perdeu a sua função original. Quem sabe algum dia o espaço estará aberto recebendo as crianças e proporcionando muitas alegrias.
Veja mais fotos do teatro mirim na galeria abaixo (clique na foto para ampliar):
QUEM FOI SAMSON FLEXOR ?
Nascido na Moldávia em 1907, Flexor desembarcou no Brasil em 1948. Antes, na década de 1920, cursou química na Bélgica e história da arte pela Sorbonne. Frequentou também a École Nationale Supérieure des Beaux-Arts (Escola Nacional Superior de Belas Artes) em Paris.
Foi um dos introdutores do abstracionismo no Brasil e funda na década de 1950 o “Atelier Abstração” em sua casa na Vila Mariana, projetada por Rino Levi. Gostava de afirmar que a arte abstrata é cheia de energia e saúde.
Entre suas obras estão afrescos da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro no Jardim Paulistano.
Faleceu em são Paulo em 1971 e está sepultado no Cemitério do Morumbi.
Respostas de 8
Que incrível revelação! Jamais poderia imaginar que havia um pequeno tesouro como este oculto em um hospital. Como seria bom se este teatro fosse restaurado e retomasse sua função original.
Relíquias da arquitetura e arte brasileiras relegadas ao abandono, é uma pena!
muito triste ver tudo isso assim… a construção e o mural não mereciam esse descaso…
Bela reportagem, triste realidade.
Se for um hospital privado, provavelmente a manutenção dele não interessa para os donos que só estão interessados nas mensalidades que os pacientes pagam por mês, se for público ai sofre com o descaso que todo bem público sofre pelo governo.
O hospital é público :V
Douglas, vi a matéria tão logo vc postou e fiquei num misto de revolta e impotência. Mas, ficar só lamentando na internet não leva nada a ninguém e resolvi fazer alguma coisa.
Envie um zap ao vereador Gilberto Natalini no dia 26/05/18 comentando sobre o teatro abandonado.
Pois bem, hoje, 29/05/18, um assessor dele me telefona e conversamos a respeito. O primeiro passo é saber se existe algum processo de tombamento, então ele irá consultar o Condephat.
A partir daí vamos ver o que pode ser feito. Já antecipo que a ideia é buscar parcerias e colaborações para o restauro.
Fique com meu email e vamos conversando. Vou copiar a Glaucia Garcia autora da matéria também. Abraço forte.
Fiquei curioso ao ver o painel e fui averiguar a sua história, fiquei fascinado com a minha descoberta e fiquei muito triste ao ver como esta as instalações hoje, como o poder público simplismente ignora a historia de nossa cidade, e muito triste.