Fonte Monumental – De monumento a latrina

Imagine uma cidade cuja arrecadação é maior que a grande maioria dos estados da federação. Agora, imagine uma cidade que todo ano arrecada milhões e milhões de reais em grandes eventos, como Parada LGBT, Fórmula 1, finais de campeonatos de futebol, shows dos mais variados e convenções de todos os tipos.

Imaginou? Bem, não é preciso se esforçar muito para concluir que estamos falando da Cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles do planeta. É de se imaginar que uma cidade desse porte, com tantos acontecimentos em quase todos os 365 dias do ano deve ter atrações turísticas bem cuidadas e dignas do potencial da cidade, certo ?

Mas não é bem isso que acontece, aliás a realidade é triste e completamente diferente. Vamos mostrar aqui apenas um caso, da Fonte Monumental:

Vidro estilhaçado na Fonte Monumental (clique para ampliar)
Vidro estilhaçado na Fonte Monumental (clique para ampliar)

Localizada na Praça Júlio Mesquita a Fonte Monumental é recorrente aqui no São Paulo Antiga. Depois de permanecer por quase uma década sem qualquer tipo de cuidado ou manutenção, o monumento era um grande exemplo de descaso com o patrimônio público paulistano. Nossas muitas reportagens sobre o abandono acabou atraindo bastante repercussão o que rendeu a uma pressão popular pelo restauro.

Em 2013, após oito meses de árduo trabalho e ao custo de aproximadamente R$500 mil reais, a Fonte Monumental foi entregue a população paulistana totalmente restaurada e protegida por uma “redoma” de vidro, teoricamente à prova de vandalismo. A foto abaixo mostra o o monumento apenas alguns dias depois do restauro:

A fonte em 2013 / Crédito: Zabarov (clique para ampliar)

Mas a alegria durou pouco. Sem proteção da Guarda Municipal e sem uma política de manutenção eficiente por parte do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), 18 meses após a reinauguração da Fonte Monumental o monumento já apresentava sinais de descaso.

Conforme alertado em reportagem do São Paulo Antiga em 03 de março de 2015, já era visível o abandono da obra da escultora Nicolina Vaz. O monumento já estava com as fontes desligadas (na época alegou-se racionamento de água) e sem uma das lâminas de vidro. Uma segunda, atrás da escultura apresentava-se em estilhaços.

Passado pouco mais de um ano da reportagem anterior, é possível notar que além de não sofrer qualquer manutenção a Fonte Monumental está ainda mais deteriorada:

Este monumento é um problema crônico da cidade (clique para ampliar)
Este monumento é um problema crônico da cidade (clique para ampliar)

As lâminas de vidro que estavam estilhaçadas continuam lá prestes a cair sobre algum turista ou pedestre. Outras duas lâminas já caíram e foram removidas há muito tempo.

Na parte interior, após a redoma a situação é ainda mais desesperadora. Vários spots de luz foram arrancados, outros ainda no lugar não acendem. Água jorrando ? Não há sinal há muito tempo.

Mas o que chama mais atenção é o fato de um monumento tão importante e de custo de tão alto, regrediu ao estágio de abandono quase idêntico a antes do restauro, sendo mais uma vez uma bacia do chafariz utilizada para descarte de lixo, além de fezes humanas.

Luminárias quebradas, lixo e fezes humanas. Um ultraje aos paulistanos (clique para ampliar)
Luminárias quebradas, lixo e fezes humanas. Um ultraje aos paulistanos (clique para ampliar)

Não adianta restaurar um monumento a um custo tão alto e depois não realizar nenhuma manutenção preventiva. É sabido que vivemos em um ambiente onde infelizmente muitos colaboram para o vandalismo, mas isso não isenta a Prefeitura de São Paulo e principalmente o Departamento de Patrimônio Histórico de culpa. Pelo contrário.

Isso só demonstra a falta de preparo público ao lidar com nosso patrimônio. Onde está o planejamento de após entregar a obra recuperada manter a vigilância do monumento ?

clique para ampliar
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A nossa reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Cultura e obteve o seguinte posicionamento:

“A Secretaria Municipal de Cultura, através de seu programa “Fontes de São Paulo”, firmou na última semana um termo de cooperação com uma empresa da iniciativa privada para manutenção da fonte.
Neste termo válido até abril de 2017, a empresa se responsabiliza por ações emergenciais de limpeza, fechamento em vidro, reintegração dos elementos artísticos em mármore e revisão dos sistemas hidráulico e elétrico. A previsão de conclusão desta etapa é de 60 dias, quando a empresa devolve a fonte à população em pleno funcionamento. A empresa, com acompanhamento do Departamento do patrimônio Histórico, DPH, fica responsável pelas ações periódicas de limpeza geral, remoção de pichação, conservação dos elementos artísticos em mármore, manutenção do fechamento em vidro e do sistemas hidráulico e elétrico do monumento.”

Fica no ar a pergunta: Adianta fazer tudo isso novamente se não houver a Guarda Municipal protegendo a Fonte Monumental ? A princípio não nos parece inteligente.

Enquanto essa tal empresa não inicia os trabalhos a agonia do monumento continua, servido de um bom exemplo para cidadãos e turistas de que temos um poder público incapaz de lidar com nossas atrações turísticas.

Seguem mais fotos do monumento:

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Respostas de 15

  1. O centro de SP está largado. Mendigos, moradores de rua, desocupados e bandidos infestam aquele espaço

    A última da Prefeitura foi permitir a instalação permanente de barracas de comida em locais históricos como o Largo de São Bento.

    Ficou impossível fotografar a beleza do lugar.

  2. a Guarda Civil Metropolitana existe apenas para ficar atrás de postes ou em cima de pontes, multando motoristas para arrecadar dinheiro para a prefeitura.
    pelo menos essa é a realidade com o nosso alcaide gato, tão elogiado na mídia engajada.

  3. Infelizmente, é essa a Sao Paulo que temos. O Prefeito não tem a menor ideia do que é cuidar de uma cidade!

  4. De fato, a atual administração da cidade de São Paulo retirou o Centro da população que sustenta a cidade para entregá-la a desocupados, drogados e congêneres.

    É também triste ver o nível de educação da nossa população.

  5. Também não adianta contratar uma empresa a “preços exorbitantes” apenas para dizer que está cuidando.

  6. Como disse o Celso, o centro de São Paulo em especial e a quase totalidade das praças, foram tomadas por desocupados. Gente que come, dorme, faz suas necessidades e goza seus prazeres, tudo em praça pública. A cidade está um desastre e o melhor que se pode fazer é recolher esses monumentos todos a uma área de depósito e aguardar o momento que a cidade volte a ser ocupada por gente civilizada.
    Lamentável.

    1. Meu caro Nilton, além de tudo é preciso cuidado ao andar pelo centro. Recomendo que não passe das 16 horas. Após esse horário, o centro torna-se um local perigoso.

  7. Então, como eu já disse aqui exaustivamente, a certeza da impunidade alavanca a criminalidade.Nós sabemos como o Brasil é um país sem memória. E isso, aliado ao vandalismo( pichadores e que tais) que impera por aqui, o fato de se proteger o patrimônio público é sim(ou seria?) fundamental. Mas vivemos numa época estranha e nojenta, na qual “tudo pode”. Se a polícia for intervir, ela precisa ter um respaldo da Lei por detrás dela.A pergunta que eu faço: o que se faz com um pichador, por exemplo, pego em flagrante em seu delito? Provavelmente passará algumas horas do DP e será solto rapidinho…ou talvez nem isso! Nós precisamos de leis ou que se cumpram as que existem( se é que existem). Mas que a atual prefeitura é um zero à esquerda, não tenho a menor dúvida.

  8. Ok, que o centro da cidade está largado ao Deus dará há décadas e o poder público constituído não faz sua parte é verdade, mas que os cidadãos em sua maior parte também não o fazem, também, vide a quantidade de lixo jogada nas ruas e que depois entopem os bueiros. Façamos uma autocrítica, antes de cobrarmos das autoridades devemos fazer a nossa parte primeiro, nunca se exija dos outros aquilo que você não faz.

    1. A obrigação de zelar pelo patrimônio público é sim das autoridades (in)competentes. Não venha se doer pelo governo, seja ele qual for.
      Eu jamais pichei, nem urinei, nem vandalizei qualquer monumento, nem público nem privado.Coloco meu lixo produzido somente nos dias agendados, e não o faço de qualquer jeito.Então, por essas e outras, não me vejo na obrigação de ir lá e limpar uma coisa que não contribuí para sujar.
      A MATÉRIA EM QUESTÃO ESTÁ FALANDO DE VANDALISMO EM PATRIMÔNIO PÚBLICO.QUEM TEM QUE ZELAR PARA QUE NADA ACONTEÇA DE RUIM, NESSE CASO, É A PREFEITURA.E PONTO FINAL.

  9. A pergunta que ninguém me dá uma resposta digna… O que fazíamos com os cachorros e gatos abandonados? Carrocinha -> Câmara de descompressão -> Descarte. Os pobrezinhos não mereciam isso. Contudo, no caso dos primatas alucinados, inuteis e altamente reprodutivos justifica-se a eliminação, pois trata-se de uma zoonose e como tal deve ser tratada. Alguem contra? Pega um e leva para casa…

  10. A verdade é uma só: o “Seu Radard” só serve para colocar limites de velocidades na cidade absurdamente baixos, entupir a cidade de radares para fazer até quem nunca teve problemas com multas um potencial infrator e colocar a GCM para arrancar cobertores e papelões dos pobres moradores de rua que já pouco têm e ainda os obrigam a passar frio, ainda bem que Outubro está ai…

  11. Desde a data da publicação desta matéria, mais 6 placas de vidro foram quebradas e caíram (incluindo essas que até então se encontravam estilhaçadas). Os spots de luz que arrancados foram colocados no lugar (porém não acendem) e dois novos refletores de luz foram instalados, iluminando a fonte todas as noites. Recentemente colaram dois grandes adesivos nas placas de vidro informando “Estamos em Obras”. Tirando isso, até agora nada foi feito. A situação só está piorando.

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