De todas as regiões de São Paulo, a que gosto mais de passear é a zona norte.
Região de morros, a área é repleta de ruas interessantes, muitas curvas sinuosas e também com aquelas casas antigas bem mais baixas que o nível da rua, que eram comum antes da popularização do concreto nas construções.
E, é na região do bairro da Água Fria que encontrei estas residências encantadoras da fotografia abaixo.
Localizadas na altura do número 17 ao 47 da Avenida Água Fria, trata-se de um adorável conjunto de casas encantadoras e totalmente preservadas. Como são pintadas no mesmo tom de cor, passam a impressão de pertencerem a um proprietário só (ou a uma mesma família).
No centro está um casarão preservado, a esquerda um pequeno conjunto de sobradinhos geminados e no lado direito duas belas casas amarelas. Vamos conhecê-las individualmente:
I – Casarão – Avenida Água Fria, 31
De longe o mais belo dos três imóveis, o casarão é um belo exemplar das primeiras décadas do século 20, quando via ainda era chamada de “Rua de Água Fria“.
O bairro homônimo surgiu a partiu de 1918, com a criação do Companhia Franco Paulista de Água Fria S/A, de propriedade do francês Jacques Funke.
O nome “água fria” veio a partir de um córrego da região, cuja água era considerada fria (a nascente deste córrego ficava há uns 200 metros desta casa, onde hoje é a Rua Silvio Delduque).
Voltando ao casarão, ele é impecável. Uma construção eclética com dependências grandiosas, colunas na entrada da sala de estar, sacada ampla cercada por balaustres, porão alto, garagem ampla e piso hidráulico no quintal.
Na área externa da residência podemos notar um agradável jardim e um carramanchão sobre os portões. Definitivamente uma morada espetacular.
Veja mais fotos deste casarão (clique na foto para ampliar):
II – Sobrados Geminados
Com traços que lembram a arquitetura art déco, estes três sobrados geminados amarelos ficam à esquerda do casarão.
Aparentemente são residências pequenas mas bastante confortáveis, todas com agradáveis e bem cuidados jardins na entrada (e hoje na vida em apartamentos claustrofóbicos ter um jardim em casa é um privilégio), e sacadas no andar superior.
No térreo, de frente para a rua, aparentemente ficam as salas de estar, que não são favorecidas pelo projeto da casa e parecem ser um tanto quanto escuras.
Já ao nível da calçada os muros baixos com gradil, que diferente das muralhas de hoje, servem para delimitar a propriedade e não para tornar os moradores os típicos prisioneiros urbanos que a maioria dos paulistanos de hoje se acostumaram a ser.
Veja mais fotos destes sobrados (clique na miniatura para ampliar):
III – Casas Geminadas
Para completar, estas duas belas residências térreas geminadas localizadas nos números 43 e 47 e que ficam à direita do casarão.
Parecem ser construções de nível intermediário, não sendo tão sofisticadas como o casarão vizinho e também não sendo tão simples como os sobradinhos mais a frente. Tal qual os demais imóveis estão pintados no mesmo tom de amarelo e branco.
As duas casas são um pouco mais baixas que o nível da rua, o que as deixam um pouco escondidas. Porém, não é como algumas casas da zona norte que são construídas terreno abaixo, dando a impressão a partir da rua que não tem casa no terreno.
A ideia do imóvel pertencer ao mesmo dono que a residência ao lado, é reforçada pelo fato de que o respiro do porão da casa térrea esquerda dá para o quintal do casarão (observe no canto esquerdo da foto anterior). Por fim, as casas também possuem belos jardins em suas entradas.
Abaixo mais uma fotografia delas, mostrando à esquerda o casarão vizinho:
Uma região em risco:
Sabemos os males que a especulação imobiliária oferecem para a nossa cidade e, principalmente, para o patrimônio histórico de São Paulo. Me incomoda muito saber que nenhuma destas residências, tão significativas para a história da Água Fria e região, ainda não receberam tombamento.
Aliás, tenho minhas dúvidas se alguém do CONPRESP ou mesmo do DPH, saem a campo em busca de imóveis de relevância nos bairros paulistanos. E se saem, são bastante ineficientes na execução de suas funções pois são raros os tombamentos fora da região central.
Meu receio vem não só em relação aos imóveis, mas também da ampla área verde localizada em dois terrenos baldios aos fundos das casas (observem no mapa ao final do artigo).
Apesar de estarem em uma rua sem saída, que começa na Rua Voluntários da Pátria, são terrenos do tipo que as construtoras adoram. Espero que permaneçam intactos por muito tempo e os imóveis continuem preservados.
Por fim, não podia deixar de dizer: Parabéns aos proprietários!
E você, conhece alguma casa bacana na zona norte de São Paulo ? Deixe sua dica nos comentários!
Respostas de 25
Este terreno baldio é para fazer um túnel ligando a Cruzeiro do Sul ao final da Engenheiro Caetano Álvares. Havia um pequeno sítio entre as ruas Jerônima Dias x João de Castelhanos, no mesmo bairro até dez anos atrás, onde construíram dois monstrengos de 20 andares cada, de frente de um prédio dos anos 1950 de três andares.
é de cortar o coração ali na Amaral Gama,onde estão construindo aquele prédio, haviam diversas casas e uma delas tinha a caixa de por o leite,pão e carne.
Que bom que vc fotografou! Tomava o ônibus em frente a este conjunto e me encantei com as casas. Creio até que tenho fotos no celular…
Na Rua Doutor Gabriel Piza, no número 566, está bem conservada uma casa construída pelo meu bisavô. A casa é dos anos 40, e está bem conservada por uma igreja. Vale a pena a visita também
Mais uma bela descoberta de um casario lindíssimo e bem preservado. Linda arquitetura desses imóveis, e ainda de quebra que sorte do fotógrafo hein…?…foi presenteado com um fog…não poderia ter mais sorte…! Parabéns !!
Marcelo eu madrugo para fotografar… essas fotos eram mais ou menos 06:30 da manhã! rs
Abraços
Interessante eheheh, isso em parte explica uma dúvida que eu sempre tive, porque as casas que você fotografa estão sempre com as janelas fechadas 🙂
Em tempo, leu minha sugestão daquela vila na rua economizadora no brás?
Boa tarde. Sou engenheiro e trabalho com perícias. Preciso muito entrar em contato com alguém responsável por estes imóveis especificamente. Você poderia me ajudar com isso? (iwasserman@uol.com.br)
Outro ponto que reafirma a ideia de que as casas são do mesmo proprietário é a calha, de uma das casas geminadas, que tem as saídas dos condutores d’água dentro do terreno do casarão.
Realmente é um casarão lindo! Sempre que passava ali o casarão me chamava a atenção!
Lindas fotos. Nasci e fui criada na Zona Norte e a casa dos meus pais era um bela casa, grande, construida nos anos 40. Infelizmente, pela extrema violência que está assolando nossa cidade, minha irmã e família que hoje nela residem, foram obrigados a reformar toda a frente da casa, transformando-a praticamente em uma fortaleza, depois de três assaltos a mesma. Foi com muita dor no coração que esta reforma foi feita… Fizemos até uma “despedida” …
Bacana, lindas as casas e as fotos e na data em que você postou o nevoeiro por traz da um clima montanhoso, ate colaborando (nada contra quem lá reside), ocultando os edifícios ao fundo, destacando apenas as belas casas! A natureza ajudou nesse realce, parabéns!
Além da especulação imobiliária que assola não somente São Paulo, mas diversos lugares, tem essa praga nojenta, os pichadores!
Realmente estas casas são lindas, passo sempre em frente.
Temo pelo futuro delas, pois diversos prédios estão sendo levantados ao redor das mesmas.
A especulação imobiliária em SP tem nos governantes apoio estrategico e, com isso,
ameaça cada vez mais a história da cidade contada por seus imoveis.
No link abaixo o autor explica bem “as ideias ocultas” ou “efeitos colaterais” dessa
nova investida do estado na vida das pessoas.
O aumento do IPTU em São Paulo
http://www.preservasp.org.br/forum/index.php/topic,969.msg1672.html#msg1672
Abs,
Conpresp? Depois que ele permitiu o assassinato do Ed. Dumont Adams, ao lado do MASP, patrocinado pela Vivo, é um órgão que, para mim, perdeu completamente a credibilidade.
Nós brasileiros temos que lutar para que casas como essas e muitas outras sejem preservadas. Os apartamentos minúsculos de hoje em dia não merecem estar no lugar de jóias como essas. Também cresci numa casa antiga que habito até hoje e amo muito essas construções. Parabéns pelo lindo trabalho.
lindo e raro conjunto.
Se essas casas ainda são habitadas e têm um dono, não há com o que se preocupar, o problema é se um dos donos dessas casas resolver vender, ai com certeza vai ter alguma construtora de olho.
Que bom ver estas imagens e lembrar dessas casas. Quando pegava o onibus na Vila Aurora, passava sempre na frente delas.
Bela pesquisa.
Lindas casas, moro perto delas. Pena que meu pai já é falecido, pois lembro dele contando que era amigo de infância do filho do proprietário, sim era um único proprietário desse conjunto de casas …
Você conhece o Castelinho da Rua Voluntários da Pátria altura do 2700, é lindo, pena que com uso desviado!!
Muito bom esse post, essa sorte de Sao Paulo é mesmo linda demais
Depois de tantas anos voltei a minha infância sou dos anos 40, onde tinha um tio que morava no número 53 me parece, onde é uma vila de vários sobrados que vi que ainda então lá também, conheci as pessoas que moravam nesse casarão eram pessoas de posse tinha amizade com o filho que ainda era bem jovem como nós na época, muitas saudades daquela época, que nada mais parece Santana antiga, não existia na época prédios só casas térreas e poucos sobrados.
Parabéns Douglas, teve rara felicidade nos clicks de sua máquina fotográfica. Essas suas fotos estão cada dia mais escassa em São Paulo. Veja o que está acontecendo no bairro de Pinheiros, nas Rua Pinheiros, Rebouças e Arthur Azevedo. É um crime praticado contra a cidade e sua população, sem que as autoridades competentes façam algo para impedir. Lamentável. Mas o seu trabalho é uma luz no fim do túnel.
Eu cresci no sobrado do meio, nº 19, morei lá de 1990 a 2000. No sobrado nº 23 morava minha tia e meu tio, que se aposentaram em 1996 e se mudaram para o interior de SP. No sobrado nº 17 morava uma senhora chamada Zezé. Quando a minha avó se mudou para lá no começo da década de 1970, a Dona Zezé já morava lá, sempre viveu sozinha e não sei até quando ela morou lá.
Os sobrados possuem 3 andares, sendo o nível da rua com a sala na frente e a cozinha ao fundo com uma pequena área de serviço em formato de varanda. A sala tem uma escada que desce e leva para uma suíte que tem saída para o quintal parcialmente cimentado. Tínhamos pés de goiaba, maçã, araçá e um ipê amarelo. A outra escada da sala leva para os dois quartos de cima, um na frente, que possui uma sacada e pode ser vista nas fotos, e um quarto ao fundo ao lado de um banheiro que possui uma banheira muito bacana.
No casarão morava o Sr. Ernani, filho do antigo dono dos imóveis. Na casa cinza morava sua irmã. A família era dona de todos estes imóveis, da casa cinza até os dois imóveis geminados, passando pelos três sobrados e pelo casarão. Inclusive o casarão tem um grande quintal com chão de cimento. De casa era possível ver os carros estacionados da família que certamente tinha uma condição financeira muito boa. Não me lembro quantos carros, mas eram mais de três certamente, e mais de um importado. Quando eu era criança, nos anos 1990, o Sr. Ernani já era idoso e não me lembro se ele ou a irmã casaram ou tiveram filhos.
O estado de conservação dos sobrados sempre variou com o tempo. Temos fotos dos anos 1990 em que o visual das casas estava bem ruim. Escrevo este comentário em abril de 2024 e dá pra perceber pelo Google Street View que a situação dos imóveis é razoável, mas possui muitas plantas que escondem a fachada das casas.
É engraçado lembrar que nem sempre a porta da sala estava trancada, e não me lembro de alguma vez ter ouvido alguém da minha família falando sobre violência na região durante o tempo em que vivemos lá.
O dia que eu ganhar na Mega Sena pretendo comprar estes imóveis e preservá-los até quando eu puder.