Estaria essa casa em seus últimos dias ?

Quando pensamos em casas antigas bacanas sempre lembramos dos bairros mais tradicionais paulistanos, como Ipiranga, Brás, Mooca, Penha e por ai vai. Contudo outros bairros, alguns realmente bem distantes do centro, escondem construções realmente encantadoras.

Uma delas eu vi há alguns anos na região de Parada XV, na zona leste de São Paulo e sei lá por qual razão nunca publiquei aqui no site. Esses dias reencontrei as fotos e decidi colocar para vocês conhecerem, mas infelizmente rever a casa me trouxe um gosto amargo.

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Localizada no número 320 da Rua Damásio Pinto, esta casa destoa por completo de todas as suas vizinhas. Arrisco dizer que trata-se (ou será tratava-se ?) da mais bela residência encontrada na região de Parada XV, Vila Santa Teresinha e Jardim Ubirajara. Não seria errado nem mesmo dizer que é uma das mais belas de toda a zona leste.

Construída em um terreno elevado a construção tem todo aquele charme característico do que costumamos chamar de “casa de vó”. Tem quintal, jardim e muito verde. Da primeira vez que visitei essa casa me atraiu os olhares as palmeiras, a roseira vermelha e o belo manacá. Já na segunda visita, dois anos mais tarde, o jardim parecia já um tanto largado com vários arbustos arrancados, incluindo ai o próprio manacá e outras árvores.

Mas o principal da casa é realmente o estilo arquitetônico e seus adornos, que fazem dela algo único em toda a região. Reparem nos detalhes interessantes que estão entorno tanto da entrada da residência como da janela do quarto. O estilo ainda é completado pelos famosos caquinhos de cerâmica, impecavelmente colocados e intercalados nas cores vermelha, preta e amarela.

Construída entre as décadas de 1940 e 1950 a casa era uma das poucas desta região naquela época, como pode ser visto na fotografia aérea abaixo, feita no ano de 1958.

Fonte: Geoportal

Observando a fotografia é possível notar que há uma área verde nos fundos e à esquerda o que indica que seja até possível que trata-se de um pequeno sítio ou uma propriedade de lote maior e que foi sendo repartida ao longo dos anos.

Passados mais de seis décadas da fotografia aérea era possível constatar que uma parte desse verde ainda estava por lá, especificamente no fundo do terreno e também algumas no quintal.

Entretanto ao visitar a casa pela terceira vez, para publicar essa matéria com o conteúdo atualizado, me deparei com a cena abaixo que me entristeceu bastante:

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A velha casa da Parada XV parece ser mais uma a sucumbir à especulação imobiliária. Me deparei com o jardim praticamente destruído, a casa totalmente destelhada e já sem portas, vidros etc. Apenas a janela do quarto ainda sobrevive, entreaberta.

Lá dentro observei que a parede foi completamente descascada na sala e o quarto parece ter sofrido um incêndio, pois há bastante fuligem em sua parede. Não foi possível constatar se o eventual incêndio é que colocou o telhado abaixo ou se alguém entrou e colocou fogo ali. De qualquer maneira é desolador encontrar essa casa tão linda neste estado.

Seja lá o que for que tenha acontecido, a realidade é que ela está à venda. Infelizmente não como casa, mas sim como terreno o que indica que a ideia para quem a adquirir seja a demolição.

Que saudades deste jardim! Que tristeza não estar mais assim!

Resta para nós torcermos que o comprador seja uma pessoa realmente apaixonada por casas antigas e que ao invés de colocá-la abaixo a recupere. Mesmo como se encontra agora não é difícil de se recuperar ou pelo menos manter de pé esta fachada única e encantadora. Será sonhar demais ? As vezes precisamos realmente sonhar.

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27 respostas

  1. Realmente é desolador este cenário. É desamor aos pedaços, destruindo a memória afetiva de nossa cidade de SP em momento que ao invés de resgates, temos destruição. Se eu tivesse dinheiro para comprá-la, o faria.

    1. Fica como consolo o registro fotográfico e um desejo imenso que a memória arquitetônica de São Paulo e pelo Brasil passe a ser considerada como fator importante de conexão social. Aqui em Uberlândia destruíram casas mais antigas que o próprio município. Isso gera um descompromisso das gerações mais novas com o lugar onde vivem. Que mude a cultura

  2. Eu nasci em 1950 e ainda existem alguns lugares quase intactos pelos quais minha família passou. Por exemplo, quando nasci meus pais moravam na Lapa, mais precisamente na Rua Venâncio Aires, quase na Rua Clélia. Há alguns anos, curiosa, passei pela casa que havíamos morado. Incrível, ainda estava lá, quase intacta.
    Há um mês fui a um bar na Rua Manoel Guedes, Itaim Bibi. Neste local também morou minha família por volta de 1956. Hoje está o bar Vaca Véia. A casa foi adaptada e emendada com a da esquina. Fui ao toalete no andar de cima. Pasmem, a escada de madeira era a mesma, e os dois quartos eram os mesmos, um em que meus pais dormiam, e no outro, eu e meu irmão. Esse conjunto de casas ainda existe, assim como na rua na parte de trás.
    São casas geminadas conservadas, embora com muitas alterações. Também moramos na Av. Portugal, Brooklin, SP, bem próxima a Av. Padre Antônio J. Santos, antiga avenida central. Nossa casa foi demolida há alguns anos, e hoje existem edifícios no local, mas enquanto esteve lá, pude revê-la diversas vezes e dar essa oportunidade de resgate de vida às minhas filhas, que amavam quando eu contava o que foi morar neste bairro por volta dos nos anos 1952. Até boiada passava. Que medo tinha eu com dois anos apenas! Enfim, histórias é que não faltam aos paulistanos originais.

  3. Realmente disse tudo: as vezes precisamos sonhar. Só a lamentar que, mais uma casa como muitas, termine desse jeito.

  4. Só pela fachada, essa é, com certeza, uma das “dez mais” em termos de graciosidade, encanto, e até mesmo “sui generis”.

  5. Imagina a região, quando a casa foi construída…era totalmente diferente! Na época(provável década de 1940), as chácaras e sítios dominavam por alí, com certeza!

    1. O bairro da Parada XV, como quase todos os bairros distantes do centro, no passado eram áreas bucólicas, quase rurais, com ares interioranos, que a partir principalmente dos anos 50 metamorfosearam-se para áreas urbanas, esta região era conhecida há mais de 100 anos como Fazenda Figueira Grande e tornou-se Parada XV ou Quinze de Novembro a partir da inauguração da estação de trem em 1926, reza a lenda que parte das gravações da novela O Casarão foram realizadas num velho casarão que existia onde hoje é o Hospital Planalto, próximo desta antiga casa, o que eu acho estranho, pois até onde eu sei a novela foi inteiramente gravada no Rio de Janeiro, nos estúdios Herbert Richers.

      1. E por falar na novela, você saberia me dizer se o casarão que aparece na abertura da mesma ainda existe? Se sim, aonde?

        1. Eu creio que não, para gravar a novela foi montada uma cidade cenográfica em Guaratiba, Rio de Janeiro, mas devido a um incêndio poucos dias antes do início da novela, as locações foram transferidas para os Estúdios Herbert Richers, no bairro da Usina, no Rio de Janeiro, o que certa vez eu ouvi de uma antiga moradora do Quinze é que onde hoje é o Hospital Planalto, a poucas quadras desta casa, havia um velho casarão que serviu de locação para a novela, no entanto, não tenho como confirmar a veracidade desta informação, o mais provável é que não, pois nenhum site ou outra pessoa a confirma, deve ser apenas um boato.

          1. E acrescentando ao meu comentário, os Estúdios Hebert Richers também não existem mais, tendo encerrado as suas atividades em 2009.

          2. Ok, valeu pela atenção!
            Eu me recordo que, na época dessa novela(1976), eu tinha 7 anos e estava na primeira série. Eu tinha um caderno e nele eu ficava desenhando “o casarão da novela”. Aquela abertura e, sobretudo, aquela casa, me marcaram muito e acho(tenho certeza!) de que isso, essa fixação por casas antigas, vem desde esse tempo e até hoje é assim!!!

  6. Meus pais moram em frente a essa casa, frequentamos muito os jardins e tínhamos muito afeto com os moradores da casa, a última moradora ainda vive!!! Fiquei curioso para saber a história da casa e amei a matéria…como não nos damos conta de algo tão bonito tão ao nosso alcance

    1. Alex ontem ao ir fotografar a casa parei meu carro em frente (no sentido de subir a ladeira) e saiu um senhor magro curioso em saber o que eu estava fotografando.
      Como vinha um ônibus e ali não pode estacionar logo sai… será que era ele ? rsrs
      Se tiver mais informações sobre os antigos moradores, mande para nós! Abraços

  7. Que linda deve ter sido essa casa quando nela moravam, morei na parada xv em 1963 na rua Caramuru e gostaria de saber como está o local atualmente.

    1. O bairro está bastante desfigurado, as casas antigas estão sendo demolidas para dar lugar para sobrados geminados, várias quadras estão assim.

  8. Douglas,
    muito boa sua matéria.
    A importância deste seu site é indiscutível. Veja que vc acabou de publicar a matéria, já surgiu o bom Alex cujos pais moram em frente à casa e conhecem a última proprietária !!! Já temos até condição de perguntar o que vai ser feito da casa e … dar nossos palpites !!!
    Muito bom !!!
    Que esta nossa história tenha um final feliz !!!
    Abraços.

  9. Vc nunca pensou em contatar um vereador ou deputado e pedir providência no tombamento ou preservação de imóveis assim? A via nesse caso é politica, São Paulo tem dinheiro pra isso.

  10. Eu passava em frente a essa casa, para ir ao trabalho, de 1981 até 1998, sempre olhava para ela e imaginva qual seria a sua história?
    E agora fiquei sabendo. Como é a nossa vida? O mundo gira muito.

  11. Eu sempre passava em frente e nunca tinha reparado, mas quando comecei a se interessar por casas antigas, meus mudaram perspectiva TB, eu vi essa casa ainda com telhado e com jardim, até achei que estavam cuidando dela, mas infelizmente não, é uma pena, poderia se tornar algo bom para o bairro culturalmente, mas não.

  12. Estudei em XV de Novembro nos anos 60 e lá haviam muitas casas bonitas.Admirava aquela beleza ,não havia sinal de pobreza. Os moradores andavam bem vestidos.
    Nossa escola Comendador Mario Reys er linda. Ficava no alto e no fundo um barranco q admirávamos e tínhamos vontade de rolar lá prá baixo…
    Uma praça muito bonita com uma capela na qual se rezava a Missa do Galo. Ali era tudo diferente. estou feliz de ouvir algo sobre aquele lugar maravilhoso.
    A estação do trem ,onde esperávamos as professoras , a quitandinha que vendia balas, e livrinhos com os clássicos da literatura infantil.Foi ali que meu gosto pela literatura se desenvolveu. saudade do “XV”….

    1. Morei na Parada XV durante 19 anos, do final da minha infância ao início da minha vida adulta, também estudei no Mário Reys desde a terceira série do primário até o terceiro colegial, o bairro mudou muito, a começar pela extinção da linha e da estação de trem que deu origem ao prolongamento da Radial Leste, as antigas casas do bairro estão sendo demolidas e no lugar construídos sobrados geminados, em várias quadras inteiras, e alguns edifícios de apartamentos começam a surgir aqui e ali, a capelinha na praça da estação já não existe mais, o bairro está bastante diferente daquele que eu conheci.

  13. Douglas, boa tarde…É em off, no caso….Poderia nos dar algum parecer sobre o imóvel da antiga creche Marina Crespi, onde funcionava a escola Montessori, na qual fiz um curso e me valeu 9 pontos ao ingressar como professora ,a rede municipal! R dos Trilhos x R João Antonio de Oliveira. Já houve invasões, destelhamento. interesse de incorporadoras, mas de concreto, nós, mooquenses nada sabemos….Obg pelas postagens (leio todas)

    1. Olá Elizete,

      Bem ali já está tombado pela prefeitura, mas não significa que está protegido entende.
      Agora vai de alguém transformar aquele espaço em algo importante para a sociedade, caso contrário não deverá ter mudança tão cedo.

      1. Fica uma sugestão de reportagem, o prédio onde funcionou a creche Marina Crespi é um imóvel de linda arquitetura, ainda que atualmente esteja deteriorado. Existem informações na internet que ele pertence à Fundação Ninho Jardim, mas não encontrei maiores informações sobre eles. Abraços

  14. É incrível como que mesmo nas construções mais singelas do passado havia uma preocupação estética, de se construir com esmero, algo que a arquitetura brutalista enterrou de vez, com seus caixotes desprovidos de qualquer adorno.

  15. Era uma casa modesta e muito bonita, é triste ver o seu provável fim e o desaparecimento do passado do bairro. Interessante a utilização dos famosos caquinhos preenchendo as molduras da entrada e da janela, nao lembro de ter visto algo assim.

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