Lalekla – A Rua da Consolação e as toalhas de papel

É incrível como um simples prédio, muitas vezes sem qualquer indicação, pode conter tantas histórias.

Hoje fechado, num passado recente foi um estacionamento, abrigou um curso de pós-graduação e hoje, com grandes chances de ser demolido, o imóvel da Rua da Consolação, 853 (quase em frente ao Mackenzie) até pode nos chamar a atenção por conta de seu perfil baixo e seu brise-soleil, mas nada muito além disso. Será mesmo?

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Este prédio guarda a história de um item que hoje é muito utilizado e que, por fazer parte do cotidiano, nem damos maior atenção: a toalha de papel.

Estávamos na década de 1940 quando Samuel Klabin trouxe do exterior o conceito da utilização do papel absorvente como toalha, algo complemente novo em um Brasil ainda muito atrasado em relação a este tipo de ideia. Havia, entretanto, a vontade de implantar este novo segmento de negócios e, assim, em 1946, nasceu a Lalekla®, cujo nome é a junção das primeiras sílabas dos sobrenomes dos envolvidos no desenvolvimento dos planos de Samuel. Tais nomes se perderam no tempo ficando óbvio apenas o “kla” de Klabin.

Publicidade de 1949

Para iniciar a empreitada, Samuel chamou o amigo Ramiro Rodrigues de Oliveira. O trabalho começou em um pequeno escritório na Rua Marconi, apenas com Ramiro e mais uma pessoa.

Nota fiscal da Lalekla ainda com seu primeiro endereço estampado

Esta dupla, então, executava todas as funções dentro da nascente empresa, para convencer os distribuidores e consumidores a comprarem uma toalha de papel chamada Xúga que tinha como atrativo não só enxugar, mas ainda absorver o excesso de gordura das frituras. Era mais do que vender um produto, era vender um conceito, o que Ramiro sempre fez com maestria; afinal, foi o dirigente da Lalekla durante toda a sua vida profissional.

Foto 1 – Ramiro Rodrigues de Oliveira

A empresa foi crescendo, mudou-se para a Rua Álvaro de Carvalho e depois para a Rua da Consolação, em instalações mais apropriadas para abrigar o escritório, gerenciar o armazenamento e distribuição de seus produtos que, agora, incluíam toalheiros completos e saboneteiras, entre outros.

Em 1974 houve um incêndio no local que foi noticiado com destaque no O Estado de S. Paulo; entretanto, a empresa se manteve lá, porém no andar superior, cujo número é 847. No início da década de 1980 se mudou para uma nova sede na Avenida Guido Caloi.

Foto 2 – O incêndio em 1974

Os toalheiros da Lalekla dominavam o mercado e era comum serem vistos em locais públicos como restaurantes e bares, afinal, ela foi pioneira na introdução de sistemas de higiene para banheiros no Brasil.

A Lalekla hoje faz parte do grupo Kimberly-Clark®.

Publicidade de 1967

Da próxima vez que você passar pela Rua da Consolação ou enxugar as mãos em uma toalha de papel, poderá lembrar que tudo, por mais cotidiano que possa parecer, tem muita história para contar.

Nota 1:
*1 O brise-soleil é um dispositivo arquitetônico utilizado para impedir a incidência direta de radiação solar nos interiores de um edifício, de forma a evitar aí a manifestação de um calor excessivo.

Fontes:
– O Estado de S. Paulo – edição de 26/10/1949 pp 2
– O Estado de S. Paulo – edição de 15/09/1954 pp 1
– O Estado de S. Paulo – edição de 24/01/1967 pp 3
– O Estado de S. Paulo – edição de 15/01/1974 pp 24
– Site da Kimberly-Clark link visitado em 9/7/2020
– Revista Exame Edição 25/4/1979 pp 49
– USP FFCL – link visitado em 16/07/2020

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11 respostas

  1. Interessante, eu nunca imaginaria!! E morei ali pertinho, na Rua Álvaro de Carvalho, perto da Ladeira da Memória….

  2. Artigo muito interessante. É incrível como o autor consegue resgatar fotos tão antigas.Conheço a história desta empresa e o artigo é fiel com a verdade. Parabéns, José Vignoli.

  3. Me lembrou do Toalheiros Brasil, empresa que colocava toalhas de pano em rolos em banheiros públicos até meados dos anos 70. Chamava a atenção os furgões verdes pela cidade. Ficava na região da avenida Jurubatuba e tinha um famoso campo de várzea que todos chamavam Campo do Toalheiros.

    1. Boa lembrança. Eram furgões tipicamente americanos inclusive sem porta, para facilitar e dar mais rapidez nas entregas.

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