Do livro ao mausoléu – a história do túmulo do General Couto de Magalhães

Ainda visto com certo preconceito por muitos brasileiros, a arte tumular é um grande instrumento para se aprender história. Através do estudo de mausoléus, criptas e túmulos podemos adquirir muito conhecimento sobre a história não apenas do indivíduo que ali está sepultado, como também do próprio país.

E assim é possível destrinchar ao leitor a história de um dos túmulos mais bonitos e significativos do Cemitério da Consolação: O Mausoléu do General Couto de Magalhães.

Foto: vista parcial mausoléu do General Couto de Magalhães (clique para ampliar)

Militar brilhante, político exímio e autor de obras literárias de grande importância para a história do Brasil, José Vieira Couto de Magalhães foi o último presidente da Província de São Paulo, ou seja, o último governante de nosso Estado na era monárquica. Antes sua carreira política já o havia alçado ao cargo de presidente das províncias de Goiás, Grão-Pará e Mato Grosso.

De suas grandes contribuições literárias para o Brasil destaca-se os livros O Selvagem, Viagem ao Araguaia e O Guayanás. Destes três, o primeiro foi de fundamental importância para idealizarem a sua morada final.

A MORTE DO GENERAL COUTO DE MAGALHÃES

O ano de 1889 não foi apenas um ano politicamente ruim para o Couto de Magalhães com o advento da Proclamação da República. Foi neste ano também que ele foi diagnosticado com a doença que anos mais tarde o levaria à morte: a sífilis.

Doença fatal e que à época era imediatamente associada à prostituição e a imoralidade, a sífilis acompanhou o general até falecer. Não sem antes lutar contra doença, já que chegou a viajar por duas oportunidades à Paris para fazer tratamentos.

Entretanto em 14 de setembro de 1898 a sífilis venceu a batalha, levando à morte o General Couto de Magalhães em um quarto do Hotel da Vista Alegre, na cidade do Rio de Janeiro.

Inicialmente Couto de Magalhães foi sepultado no cemitério de São João Batista, na então capital do Brasil, em uma cerimônia digna para um militar de alta patente. Nesta cidade o corpo do militar descansaria por alguns anos.

Em algum momento, em data que não foi possível levantar, seu corpo foi transladado para São Paulo de modo a ser definitivamente sepultado no Cemitério da Consolação, em um suntuoso mausoléu onde as obras tumulares presentes são de autoria da artista plástica e escultora Nicolina Vaz.

O LIVRO QUE INSPIROU A ARTE DO MAUSOLÉU

Concluído em 1905, o mausoléu do General Couto de Magalhães teve toda sua arte inspirada em sua obra “O Selvagem”, de 1876. A obra é um profundo e importante escrito sobre os índios brasileiros, então chamados de selvagens.

Edição de “O Selvagem” da biblioteca do Instituto São Paulo Antiga

O livro, que tornou-se vital para a antropologia brasileira, não seguia a corrente majoritária daquela época que achava que só seria possível colonizar o Brasil com a vinda de elementos do exterior. Couto de Magalhães tratava como fundamental a participação do índio neste processo.

A maior parte do material etnográfico presente em “O Selvagem” foi oriunda do período em que ele governou a província do Grão-Pará e a obra foi uma encomenda feita a ele pelo Imperador D. Pedro II, com o objetivo de apresentar a obra na Exposição Universal de 1876, na Filadélfia (EUA).

O MAUSOLÉU

Escolhido o livro como inspiração para a erigir o mausoléu, Nicolina Vaz fez de seu trabalho uma verdadeira homenagem ao General Couto de Magalhães e seu principal livro.

Na extremidade superior do mausoléu repousa o busto do general em feito em bronze, logo em seguida, no próprio mármore, está esculpida a inscrição do nome do falecido, bem como sua patente militar, data de falecimento e seus cargos políticos.

Logo abaixo encontra-se uma imagem esculpida em bronze com a ilustração de ilustração de um índio, cuja alegoria é uma referência ao seu livro. Em seguida, esculpida no mármore está escrito “O Selvagem”.

Clique na foto para ampliar (Crédito desta foto: Glaucia Garcia de Carvalho)

Por fim, no lado direito do mausoléu, está a figura de uma mulher esculpida em mármore olhando diretamente para o busto do general, esta mulher representa a pátria. Por sua vez esta mulher está segurando a bandeira do Brasil que foi esculpida em bronze. O conjunto escultórico está datado do ano de 1905.

Quando estiver no Cemitério da Consolação, não deixe de visitar o mausoléu deste importante personagem de nossa história e, se possível, tente ler o livro “O Selvagem”.

*1 – Infelizmente a bandeira do Brasil que ficava junto à figura da mulher foi roubada, retrato triste de como lidamos com nossa história e de como está abandonado o mais importante cemitério de São Paulo. O roubo dessa e outras obras tumulares foi denunciado no São Paulo Antiga em 2018 e pode ser lido aqui. Abaixo a imagem do antes e depois do furto da bandeira de bronze:

Bibliografia consultada:
*1 – Correio Paulistano – Edição 012615 de 15/09/1898 – pp 1
*2 – Auctoridade – Ano I Número 11 29/03/1896 – pp 1

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9 respostas

  1. A base da estatua, em marmore, foi pichada. Como e que deixam esta molecada entrar com spray ou pular os muros?

  2. Talvez se nosso povo tivesse a oportunidade de conhecer in loco a história poderia mudar de atitude preservando nosso patrimônio.

  3. Ótimo registro! Estudei no Grupo Escolar Gal. Couto de Magalhães, ficava na rua Augusta, por volta dos anos 50.

    1. eu tambem estudei lá no Grupo Escolar General Couto de Magalhães na Rua Augusta, depois da Alameda Lorena e próximo a Av. Estados Unidos. Foi pelo idos de 1955/56. o uniforme era calça curta azul e camisa branca.

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